TEMPO, TEMPO, TEMPO, TEMPO
Esse é o título de uma canção de Caetano Veloso, do álbum Cinema Transcendental, de que gosto muito. Quatro vezes tempo. Tudo a ver com a impressão que tenho: de que ele está passando quatro vezes mais rápido do que costumava passar. Eu já falei sobre a passagem do tempo aqui no blog, mas o assunto me instiga tanto que volta e meia torno a citá-lo. Não consigo concluir se ele realmente está passando mais depressa ou se a minha noção da passagem das horas, dias e anos é que se alterou. Quando era criança, um ano era algo incomensurável. E quando chegavam as férias de verão, que chamávamos de férias grandes, elas demoravam muito para terminar. E eram apenas três meses! O ano dois mil, por exemplo, era uma espécie de abstração, com toques de ficção científica, que a gente pensava que nunca iria chegar. E já faz dez anos que ele chegou. Chegou e passou. Como passam todas as informações com as quais somos bombardeados diariamente. As vinte e quatro horas do dia já não são mais suficientes para todos os compromissos que temos que honrar. Os sete dias da semana não bastam para colocarmos em dia nossas tarefas, leituras e reuniões. Os trinta dias do mês não nos permitem o descanso e o lazer necessários pra aliviar o stress. E os doze mezes do ano não tornam realidade a maioria dos nossos sonhos. E olha que eu não sou pessimista. Pelo contrário, sou o mais otimista dos mortais. Sou uma pessoa que gosta de fazer uma coisa de cada vez. Não me vejo realizando dois trabalhos ao mesmo tempo, como faz a maioria dos atores e outros profissionais que conheço. Fiquei oito anos na Terça Insana fazendo só e unicamente Terça Insana. E olha que, às vezes, mal conseguia dar conta. E mesmo agora, que estou em pleno gozo do meu ano sabático, nem sempre consigo atualizar meu blog, por exemplo. Não é uma queixa, eu até que gosto dessa loucura toda da passagem do tempo. A gente só melhora. Envelhece, é certo. Mas aprimora tanto o conhecimento, a experiência, os talentos e habilidades, que vale a pena um pé de galinha a mais ou uns centímetros extras na cintura. O bom, por exemplo, é que quando planejamos uma viagem, chega rapidinho o dia de partirmos. O ruim é que o dia da volta também chega depressa. Mas tudo tem, pelo menos, dois lados. Uma vez ganhei de presente da minha amiga Ilana Kaplan um livro interessantíssimo que trata, justamente, da passagem do tempo. Chama-se Sonhos de Einstein e foi escrito por Alan Lightman. Recomendo a leitura, são pequenos contos onde o tempo é o personagem principal. O livro inspirou a criação de um espetáculo da Intrépida Troupe, a que assisti no Rio de Janeiro e me marcou bastante. Mas chega de perder tempo. Aliás, dizem que ele é dinheiro e dinheiro a gente não pode perder...
Na foto, que fiz em 2007, o imenso relógio que conta o tempo sobre os visitantes do Museu d'Orsay, em Paris.
Como bem o disse Branca Letícia de Barros Motta, às vezes o dia demora a passar, mas o Natal chega rapidinho.
ResponderExcluirUma das cenas que mais me impressionou em O Misterioso Caso de Benjamin Button (que é inteirinho sobre a subversão da ordem do tempo) foi o momento em que o novo relógio da estação é mostrado à população e todos percebem que ele anda ao contrário. A sequência que se segue é memorável, com a possibilidade de ir voltando o tempo e - talvez - desfazendo algumas tristezas do passado.
ResponderExcluirLuciano
(Muque de Peão)