segunda-feira, 15 de março de 2010


GRAFITTIS

Grafitti é o título de uma canção de Caetano Veloso, do álbum Velô, que diz: O nosso amor é um coração colossal de grafitti nos flancos de um trem de metrô. Eu adoro grafittis. É quando a arte abre uma pequena janela em meio ao caos do dia-a-dia, e é possível que se experimente o sonho, a poesia, a elevação espiritual, o protesto, o humor, a ironia, o escapismo, que seja, e a vida segue, entre poluição e congestionamentos, agora com uma imagem que nos acompanha na memória da retina ou do coração. A resposta a essa forma de expressão artística é imediata. Não exige muito tempo do seu interlocutor. Ninguém precisa comprar ingresso, submeter-se a horários, ela está sempre lá, aberta e acessível a todos os olhares. Você gosta ou não gosta, concorda ou não concorda, admira ou não, mas ela permanece ao alcance de todos. Vamos admitir que esse movimento artístico é, no mínimo, curioso. Como curiosas são as voltas que a vida dá. A arte, que teria começado na idade da pedra, com o homem primata rabiscando as paredes da caverna, se desenvolve, se aperfeiçoa e se elitiza, adentrando os museus e galerias de arte. Até que artistas de rua, muito provavelmente em protesto a essa elitização da arte, começam a se expressar nos muros e paredes das cidades. Passa o tempo, a arte se desenvolve e se aperfeiçoa ainda mais, abre-se às novidades et voilá: os artistas de rua passam a ter suas obras expostas nos museus e galerias de arte! Assim aconteceu com Os Gêmeos, artistas brasileiros que começaram pintando nas ruas da Liberdade e do Cambuci, em São Paulo, e agora percorrem os museus e galerias do mundo inteiro com sua obra inquietante, lírica e genial. E também com os artistas integrantes da exposição De Dentro para Fora, de Fora para Dentro, que o MASP inaugurou em novembro passado, na qual o trabalho de seis artistas brasileiros era trazido das ruas para ser exibido pela primeira vez nas dependências do museu. Morro de vontade de pintar, desenhar, ou, pelo menos, rabiscar alguma coisa sobre uma superfície. Mas, infelizmente, esse talento não me foi concedido. Não sei me expressar graficamente. Ou melhor, plasticamente. Pois imagino que a escrita seja uma forma de expressão gráfica e essa, modestamente, eu cometo...Resta, então, para mim, admirar o trabalho desses artistas fantásticos, capazes de nos transportar para os mais incríveis universos utilizando-se única e exclusivamente do nosso olhar. Não sou um grande conhecedor das artes plásticas. Sempre gostei de arte de uma maneira geral. Estudei História da Arte, na faculdade de História, e Elementos da Linguagem Visual, na faculdade de Artes Cênicas. Mas não sou, nem de longe, o que se pode chamar de um conaisseur. Também não sou rico o bastante para ser um colecionador. Mas tenho lá o meu, digamos, modesto acervo. Que conta, entre outras obras, com duas gravuras do artista brasileiro Juarez Machado, de quem sou fã desde a infância, quando ele tinha um quadro no Fantástico em que fazia desenhos na parede e depois os animava, e uma gravura do Spetto, genial artista grafiteiro e ilustrador, que fez a capa do primeiro DVD da Terca Insana e deu, a cada um de nós, integrantes do grupo, um trabalho seu de presente. O meu está emoldurado e pendurado na minha sala. Vejam como tudo se repete: comecei falando de grafittis e acabei falando de gravuras penduradas na parede de casa. São realmente curiosas as voltas que a vida dá. De dentro pra fora e de fora pra dentro.
Na foto: obra d'Os Gêmeos na Rua Galvão Bueno, no bairro da Liberdade, em São Paulo.

2 comentários:

  1. adorei esse grafiti que vc postou. principalmente daquela parte em que os gêmeos pintaram um faraózinho de óculos escuros com uns peitos enormes. genial!

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