segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

ANIVERSÁRIO ATÍPICO

Hoje São Paulo faz anos. E quantos! Quatrocentos e sessenta e sete... Há dias venho pensando no que eu poderia dizer aqui que ainda não tenha dito. Já é notório o meu amor por essa cidade. E o quanto amo reclamar dela, também. Me sinto uma espécie de Fran Lebowitz em relação a Nova Iorque. Guardadas as devidas proporções. (Todas, principalmente entre mim e Fran). Mas enfim, aniversário é dia de presente e aqui vai o meu para a Pauliceia. No ano que passou, uma pandemia esvaziou incrivelmente as ruas da cidade. De pessoas e, por incrível que pareça, de carros também. É praticamente impossível imaginar São Paulo sem trânsito. Mas até isso aconteceu. Mais difícil ainda é imaginar São Paulo sem as suas inúmeras opções de cultura e lazer, de gastronomia e turismo, mas foi assim. E ela sobreviveu impávida. O que não deixou de ser um presente pois, enfim, ela pode respirar aliviada sem tanta poluição. Para mim, um apaixonado pela cidade, restou aguçar o olhar e a percepção. Para plantas, árvores e flores. Para enormes murais de grafitti. Para a dura poesia concreta de suas esquinas... Lembrei muito da São Paulo que conheci na infância, quando vim com meus avós maternos passar as férias chez meu tio Djanir, que morava em Osasco. Os passeios que faziam comigo pela Pauliceia. O sorvete à tarde no Terraço Itália, os leões soltos em volta do carro no Simba Safari, o Viaduto do Chá... Lembrei também da outra, que vivenciei nos anos oitenta, quando vim de Porto Alegre com meu grupo de teatro, o Tear, estrear e cumprir temporada da peça Império da Cobiça. Foi quando descobri a noite paulistana, os inúmeros bares, botecos, cantinas e cafés do Bixiga. Os teatros: Mars, Igreja, Arena, TBC, Itália, Cultura Artística, Off. Os Jardins e o Ritz, minha paixão até hoje. O Spazio Pirandello, misto de bar, restaurante e livraria frequentado por tout São Paulo... Sem falar da Sampa dos anos noventa, quando cheguei aqui de mala e cuia, com carteira assinada para fazer temporada com o Grupo XPTO no Sesi da Paulista. Foi quando sentei praça e nunca mais deixei a maior cidade da América do Sul... Desejo sinceramente que São Paulo, assim como o Brasil e o mundo, saia logo dessa. Que a gente possa comemorar o próximo aniversário nas ruas, aglomerados, vacinados e felizes. Por enquanto, fica aqui minha homenagem para esse que será um aniversário atípico para a cidade... E, para terminar citando Caio Fernando Abreu, outro gaúcho que, como eu, amava Sampa: “Atrasado, correndo pelas manhãs, maldigo muito a vida e a cidade assoviando deu pra ti, baixo astral, vou pra Porto Alegre, tchau! Mas não vou pra Porto, a não ser para pegar um colo rápido de vez em quando. É só um mero consolo escapista. E, também, não deu pra Sampa. Ainda. Vou ficando por aqui. E que Oxalá e Tupã me alumiem”. Feliz aniversário, São Paulo! Nas fotos, Minhocão (com grafittis do artista Speto), Liberdade e Augusta esvaziados pela pandemia.

2 comentários:

  1. Nossa, quantas histórias São Paulo revela, também tive a minha durante os quase 14 anos que vivi por aí. O maior presente que SP me proporcionou foi te conhecer querido amigo. Sinto saudades, mas sei que logo vamos nos encontrar e caminhar pelas ruas cheias de São Paulo.

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