terça-feira, 17 de setembro de 2024
MEU CARO AMIGO
Perdoe, por favor, a minha ausência aqui no blog. Não é que eu não tenha nada para contar, compartilhar ou mesmo ostentar, como muitos fazem por aqui. Felizmente a cidade segue interessante e eu, interessado. Você me conhece muito bem e sabe da minha interioridade ricamente povoada com a qual me auto-satisfaço. Tenho cá meus recantos, meus livros, discos e drinks que aprecio com boa música e luzes indiretas. Do lado de fora também não posso me queixar: as opções são tantas que não cabem no orçamento. Sei que você conta com minhas inserções blogueiras para se atualizar e se inspirar desde que se mudou daqui. Mas a verdade é que ando um tanto refratário, impermeável à inspiração. E a escrita sem ela corre o sério risco de se tornar maçante. Quando não pueril, mecânica, irrelevante. Cá entre nós isso é tudo o que não queremos na vida… Saiba, meu caro amigo, que as suas visitas físicas aqui na Pauliceia também me fazem muita falta. Você era minha companhia mais assídua para assistir a shows e peças de teatro. Mesmo quando já não morava mais aqui. Venha mais, por favor… Sigo lendo bastante. Agora mesmo terminei a leitura de uma autora japonesa que você vai adorar: Yoko Ogawa. Comecei por um volume com três novelas: A Piscina, Diário de Gravidez e Dormitório (essa última é no mínimo perturbadora). Ela tem mais três romances traduzidos para o português: O Museu do Silêncio, A Fórmula Preferida do Professor e A Polícia da Memória (veja se você os encontra aí na Soterópolis). Estou louco para ler todos, assim como estou contando os dias para a estreia do novo Woody Allen rodado em Paris, falado em francês e com atores franceses… Ando alternando estados de humor, transito entre o entusiasmo e a preguiça, a esperança e o desalento, fico feliz e triste, cozinho, lavo louça, organizo armários e arquivos, não faço nada, durmo, perco o sono, faço ginástica, revejo antigas fotografias, álbuns com recortes de meus trabalhos na imprensa, separo roupas e objetos para doação (uns eu doo de fato, outros não consigo), vejo e revejo incontáveis vezes todas as temporadas de Emilly in Paris (aloka), me esforço para ficar a semana inteira sem beber (às vezes só consigo me segurar até a quinta-feira; cá entre nós, outras vezes só até quarta), sou compreensivo com as pessoas e suas manias, ideologias, crenças, pautas e militâncias. Se bem que às vezes tenho vontade (lá no fundo) de fazer o Datena e dar cadeiradas por aí. Rsrsrs… Felizmente esse ano tem feito bastante frio e, nessas ocasiões, minha gatinha dorme grudada em mim. Passo horas do dia fazendo carinho nela... Sinto falta de amigos com quem conversar, rir, sair e me divertir. E de alguma festa pra espantar o tédio. Assim eu não ia ficar tão macambúzio, meditabundo, ensimesmado… Espero que a gente se reencontre logo. Te abraço e te beijo com saudades. Axé e à bientôt!
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Caríssimo amigo, essa missiva é recíproca, parece que estou escrevendo para você tamanha é a convergência de pensamentos e sentimentos. Desde que mudei para cá, os afazeres domésticos e a pandemia me afastaram das viagens, mas a saudade que sinto das nossas conversas intermináveis (um assunto puxando outro e outro e outro) seja durante o dia ou à meia luz, sem falar na trilha sonora proporcionada por ti e dos seus petiscos devorados com avidez, nossas idas ao teatro, nossas trocas de livros. Acabei de ler a biografia do Gilberto Braga e só você seria capaz de comentar comigo todas (todas) as novelas desse autor.
ResponderExcluirÉs uma grande referência para mim e sabes disso. Estou intensamente emocionado com essa carta a mim direcionada e quero que saibas que te amo, nossa amizade é um presente da vida.
Emocionado eu também, querido Odilon! Quem tem amigos tem um tesouro...
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