segunda-feira, 17 de junho de 2019

DOR E GLÓRIA

O primeiro desejo a gente nunca esquece. O cineasta espanhol Pedro Almodóvar resolveu trazer o dele à tona no filme Dor e Glória, que estreou no último fim de semana. Um dos únicos diretores a me fazer sair de casa para ir ao cinema atualmente, ele sempre me surpreende. Agora maduro e sério, Almodóvar tem se dedicado mais ao drama. É claro que prefiro sua fase boleros, cores e travestis. Mas a inegável evolução desse cineasta que começou alternativo e virou cult também é algo que muito me apraz. O filme é lindo. Triste. Intenso. Por vezes arrastado e até um pouco chato. Mas pleno da essência do artista. Para quem como eu acompanha toda a trajetória, desde os primeiros filmes até esse último, está tudo lá. Ou, pelo menos, a origem de tudo o que ele já filmou está nessa belíssima película. A volta de Antonio Banderas, por muito tempo seu ator fetiche, é um luxo só. Principalmente por ser um filme autobiográfico e Banderas personificar o próprio Almodóvar. Sua infância no seminário, como já mostrada em La Mala Educación, é revisitada com detalhes ainda inéditos para os fãs. Seus problemas de saúde, com as drogas e com as relações, explorados até a raiz. É claro que o humor peculiar a Almodóvar também aparece em vários momentos, ainda que de maneira contida. Como na cena em que a amiga o avisa que foi convidado para uma palestra na Islândia e ele, sem a menor vontade de ir, responde: Não entendo porque gostam tanto de mim na Islândia... Ou quando sua mãe está contando histórias das vizinhas e, ao perceber seu interesse, avisa: Não me olhe com essa cara de contador de histórias. Não quero que mostre minhas vizinhas nos teus filmes! Adorável... Um filme maduro, sério, intenso, dramático. Ou seja, um Almodóvar sem lubrificante. Que vai direto ao ponto. E sem nenhum bolero também. Mas, em compensação, traz na trilha uma linda versão em espanhol de A Noite do Meu Bem, de Dolores Duran. Como disse, sempre surpreendente.
Na foto, criador e criatura no set de filmagem.

2 comentários: