sábado, 8 de junho de 2019

RAINHAS DA PESADA

Minha segunda incursão na dramaturgia, Rainhas da Pesada foi um presente meu para o ator Paulo Vicente, que queria comemorar com um espetáculo solo os seus quinze anos de teatro. Estávamos no ano de 1994 e eu, meio sem expectativas profissionais em Porto Alegre, já estava de olho em São Paulo. Inspirado no histrionismo ímpar deste maravilhoso ator/comediante e na sua incrível capacidade de interpretar papéis femininos, escrevi sete monólogos. Em cada um deles, Paulo interpretava uma rainha da história, da mitologia ou da ficção. O roteiro seguia mais ou menos a estrutura do teatro de revista (à época eu estava devorando o livro de Neide Veneziano), com pitadas da chanchada dos filmes de Oscarito e Grande Otelo. Acabei sentindo necessidade de ter dois atores para contracenar com algumas rainhas e para agilizar as trocas de cena. Chamei Vinicius Vilanova e Émerson Guimarães, que faziam os compères da revista, revezando-se em pequenos papéis. Mas nem por isso Paulo Vicente deixou de ter o seu solo... Tivemos o privilégio de contar com a produção da Opus, luxo dos luxos em se tratando de espetáculos locais. Geraldo Lopes ainda estava à frente da produtora e, empolgado com nosso projeto, nos deu carta branca para realizá-lo. Ro Cortinhas e Flavia Aguiar se encarregaram dos figurinos e Fiapo Barth criou os objetos cenográficos. Com um trio da pesada como esse assinando o visual, já dá para ter uma ideia da beleza do resultado. Para arrematar o pacote, a luz precisa e bela de Fernando Ochoa. Rainhas da Pesada nos levou a Salvador, onde faríamos uma temporada de um mês. Com o sucesso que fizemos junto ao público baiano, a temporada foi prorrogada. Na temporada baiana tivemos na luz o auxílio luxuoso de Marga Ferreira, a nossa Marguinha. Uma curiosidade: Como os atores que acompanhavam Paulo Vicente em cena tiveram de voltar para Porto Alegre, adaptei o espetáculo e substituí, eu mesmo, os dois atores... Rainhas da Pesada foi a última peça que dirigi em Porto Alegre. No ano seguinte, meu último na capital gaúcha, escrevi, dirigi e atuei em um show performático musical ao lado de Marione Reckziegel chamado Amor à la Carte. As Rainhas fecharam um ciclo de direções na minha carreira. Ao me transferir para São Paulo acabei me dedicando mais à interpretação. Aqui na Pauliceia dirigi apenas uma remontagem de As Filhas de Lear, do grupo Le Plat du Jour, e alguns shows dos cantores Edson Cordeiro e Laura Finochiaro. Mas as coisas estão sempre em transformação, de modo que nunca fecho portas... Por incrível que pareça não tenho nenhuma foto desse espetáculo. Essa que ilustra o post é de uma matéria de capa do segundo caderno do Correio da Bahia, quando da nossa estreia em Salvador. Já recordações, essas tenho muitas. As melhores... Nunca quis remontar as rainhas, embora tenha recebido convites de outros atores. Elas foram escritas para Paulo Vicente, para serem interpretadas por ele e somente por ele. Durante muito tempo Paulo foi meu ator fetiche. E sem dúvida nenhuma continua sendo um deles...
Na foto, Paulo Vicente como Maria Antonieta.

2 comentários:

  1. Bob, lembro desse espetáculo aqui em Salvador, fui vê-lo por recomendação de uma amiga, Marilda Santana, e adorei. Não está na hora de repensar esse "ator fetiche" e ceder esse texto para outras montagens? Eu me interesso. rsrs

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  2. Odilon, querido! Não faz o menor sentido com outro ator. Teria de reescrever tudo.

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