sábado, 18 de novembro de 2017

GLÓRIA VERSUS HORROR

Me lanço à página em branco do blog movido não pela inspiração, mas por uma necessidade de escrever sobre o novo livro de Fernanda Torres, A Glória e Seu Cortejo de Horrores, segundo romance da autora, cuja leitura concluí na tarde de hoje. Bastante tocado, diga-se de passagem. O livro narra a história de um ator, sua ascensão e queda na carreira do teatro, cinema e televisão. Imagino que para quem, como eu, dedica a vida a esse controverso métier, a leitura seja bem mais saborosa. Ainda que por vezes de sabor amargo... Como todos parecem saber, a vida de artista no Brasil é feita de altos e baixos. Muitas vezes, mais de baixos do que de altos. Vacas magras que se alternam às gordas entremeadas por fases de transição em que nada acontece. Não é fácil e em nada se parece com o ilusório glamour que envolve o ofício. O que me intriga sobremaneira é a precisão cirúrgica com que Fernandinha disseca os altos e baixos da carreira. Pois, pelo que me consta, a carreira dela é feita de altos. E agora, com a literatura, de mais altos ainda. Pois aí é que se revela o seu grande talento: O de observadora da alma humana, principal qualidade dos grandes romancistas, na minha singela opinião. E nisso ela, como atriz, é bastante treinada. Sem falar que além de culta, criativa e talentosa, Fernanda é dotada de uma inteligência bem acima da média. Isso já se evidenciava em Fim, seu romance de estreia. Tudo acompanhado de fina ironia & humor cáustico... Posso estar dizendo sandices, besteiras, não sei. O que me move, como já expus, é uma necessidade, uma urgência. O surpreendente final da história me deixou engasgado. Mario Cardoso, o personagem central, pode ser a própria Fernanda, pode ser eu, você ou qualquer outro. Ou, como disse o ator Dionísio Neto, com quem comentei no instagram que estava devorando o livro: Somos todos Mario Cardoso. Me lembro bem de um galã verdadeiro, da Globo inclusive, que tinha esse nome. Pois o Mario Cardoso de A Glória e Seu Cortejo de Horrores tem sua vida desestruturada quando resolve montar justamente o Rei Lear, de Shakespeare, que vem a ser a peça de estreia de Fernanda no teatro, a que tive o prazer de assistir no Rio de Janeiro nos anos oitenta. Protagonizada por Sergio Britto, a montagem tinha grandes nomes do teatro nacional como Yara Amaral, Ariclê Perez, Paulo Goulart, Ary Fontoura - magistral no papel do bobo - e muitos mais que não lembro agora. Ah! Ney Latorraca e José Mayer estavam também. Com direção de Celso Nunes. Enfim, terminei a leitura dessa obra inesquecível e, graças aos deuses do teatro, começou logo na sequência a exibição no Canal Viva do especial sobre o grupo de teatro Asdrúbal Trouxe o Trombone, que me situou e me colocou novamente nos eixos... É isso: A profissão de ator é uma entrega. Uma entrega sem fim. Desistir não faz parte do trajeto. Que bom que uma atriz tem essa voz maravilhosa que se sobrepõe à mediocridade que grassa em todos os meios. No artístico, inclusive.
Nas fotos, a capa do livro e Fernanda no Rei Lear, com Sergio Britto e Paulo Goulart.

5 comentários:

  1. Muito legal Robertinho! Gostaria de deixar um comentário: num país como este qualquer profissão é feita de altos e baixos. bjo e parabéns!

    ResponderExcluir
  2. Flavia, querida! Saudades... Concordo com você: A instabilidade não é privilégio desta ou daquela profissão, se é que se pode chamar assim: Privilégio. Estamos todos na gangorra... Bjo grande!

    ResponderExcluir
  3. Me vendera legal o livro. Ler-lo-ei. Ps. Adorava o Mario Cardoso! 😊

    ResponderExcluir
  4. Fari, querido! Vc vai amar o livro. Eu tb era fã do verdadeiro Mario Cardoso. Bjo 😘

    ResponderExcluir