sábado, 11 de novembro de 2017

SAMEDI GRIS

Sábado cinza, temperado por uma chuvinha fina que traz de volta o frio em pleno mês de novembro. Me faz lembrar Jacques Tati. Sábado para ficar em casa, remexer guardados, separar roupas e objetos para doação. A televisão ligada sem que nada esteja sendo propriamente assistido. Uma sucessão de programas culinários que vão do mais puro vegano ao mais junk dos carnívoros. Paro em frente ao computador. Projetos e projetos repousam em HD. Não seria a hora de retomar este ou aquele? Que dia. Parece que a vida resolveu dar um tempo. Tudo o que não interessa prolifera. Grandes lançamentos se sucedem em escala industrial. Isolado no meu retiro doméstico, me sinto como uma espécie de Monsieur Hulot: Incapaz de se adaptar à vida em sociedade, eternamente atrapalhado, gauche, ultrapassado pelos acontecimentos. Um sujeito simples, que cresceu fazendo tudo de maneira analógica e, com uma certa resistência inicial, se adaptou ao mundo digital. Com dores nas costas. Pertenço a uma geração que já começa a ir embora. Ontem se foi, precocemente, a comediante Márcia Cabrita. Aos poucos, tudo o que se vê não será mais do jeito que já foi um dia, para citar Lulu. Fica a pergunta: O que virá? Quem ficará? Os youtubers? Os evangélicos? As extremas direita e esquerda? Os aplicativos de encontros? A rede de hotéis Trivago? Sigo buscando luz no passado mais ou menos recente de Caio Fernando Abreu nas revistas AZ e Around. De lambuja, reencontro Bivar, Mario Mendes, Logullo, Vania Toledo e a própria Joyce. E as adoráveis Nadja de Lemos, Terezinha O'Connor, Aurore Jordan e Sra. Lisandro Depré. Enquanto isso, aqui no presente sem cor, estreias, reestreias, renovações de temporadas. Mais e mais do mesmo. Você não pode perder. Modernidades retrô. Ressignificações. Questão de gênero. Questão de ordem. Questões...
Na foto, still do filme Mon Oncle, de Jacques Tati, com o personagem Hulot.

2 comentários:

  1. Querido amigo, às vezes sinto-me cada vez mais próximo dessa geração que já começa a ir embora. Muitas vezes sinto-me desconectado dessa realidade em retrocesso e ao mesmo tempo ávido por conhecer as mudanças. Quando você pergunta quem ficará, e uma das alternativas são os youtubers, temo pelo meu futuro senil. Por curiosidade dediquei 1h30 do meu tempo para assistir na Netflix ao show de um tal Felipe Neto, que dizem ter zilhões de seguidores, e me deparei com uma recomendação vinda do próprio que disse: "quer ser famoso na internet então dissemine o ódio", dei um pause no programa e fiquei uns bons 20 minutos estarrecido olhando para a tela congelada. Acho que não quero estar aqui para ver quem ficará. Amo seus textos e por favor, não deixe que seus projetos fiquem arquivados só como projetos. Eles merecem mais que isso.

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  2. Querido! Obrigado por seus comentários, sempre tão pertinentes. Felizmente o cinza do sábado deu lugar a um ensolarado domingo que findou com o maravilhoso show de caetano Veloso e filhos. Há luz no fim do túnel...bjo.

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