DIZER OU NÃO DIZER
Acabo de assistir ao filme Mine Vaganti que, em português, ganhou o título de O Primeiro Que Disse. Como diz minha amiga Agnes Zuliani, no seu personagem Ordinária, brasileiro adora entregar o filme no título... Mas, tirando o título brasileiro, esse filme italiano faz rir e emociona do início ao fim. Tomaso, o protagonista, que vive em Roma com o namorado, decide revelar à família que é gay. Seu irmão Antonio, que vive com a família tocando os negócios, se antecipa e revela antes do irmão que também é. O pai expulsa Antonio de casa e Tomaso se vê enredado na vida do irmão, assumindo o lugar que ele ocupava junto aos familiares e vivendo o dilema de contar ou não a sua verdade. Mas não é exatamente sobre o filme que pretendo falar, e, sim, sobre esse recorrente dilema de dizer ou não o que se quer, o que se sente, o que nos incomoda, o que desejamos do fundo do nosso ser. Foi com essa reflexão que saí da sala de cinema. Tudo deve mesmo ser dito? E as entrelinhas, servem pra quê? E a capacidade de percepção e observação do outro, não contam? E os silêncios que, muitas vezes, dizem tanto ou mais do que o mais eloquente dos discursos? Eu nunca fui daquelas pessoas que dizem tudo o que querem. Muitas vezes, prefiro calar. Sempre gostei mais de ouvir e, com isso, passei a perceber que as pessoas, em geral, falam demais. Costumam ter opinião formada sobre tudo e, como se isso não bastasse, fazem questão de expressar essas opiniões constantemente. De preferência, contrariando a opinião do interlocutor. E as discussões não tem fim... Por outro lado, há coisas que, se não são ditas, jamais serão compreendidas ou percebidas. Muitas tem, inclusive, que ser re-ditas. E outras são repetidas ao longo de toda uma vida e não serão absorvidas jamais. Ó dilema cruel! Dizer ou não dizer? Heis a questão... Voltando ao filme, o próprio Tomazo diz ao namorado, após esse se declarar numa conversa telefônica: Eu também te amo, só não consigo FALAR assim como você. E o mais interessante do filme é justamente ver a verdade de Tomazo sendo, pouco a pouco, percebida e assimilada por todos os integrantes da familia, sem que quase nada seja dito. Alguns, mais sábios como a avó, mais sofridos como a sócia, com mais vida interior como a tia, ou mais atilados mesmo como a irmã, percebem logo de cara. Os outros vão sendo enredados num crescendo que culmina com a chegada dos amigos de Tomaso que, de passagem pela cidade para ir à praia, são recebidos e hospedados pela família. Aliás, a estada das bibas na residência familiar gera as cenas mais engraçadas do filme... E assim, nesse diz ou não diz, o filme diz muito do ser humano, da vida, das relações, fazendo rir e emocionando constantemente. O que já não é pouco a ser dito...
Na foto, o ator Riccardo Scamarcio, intérprete de Tomazo.
Acabo de assistir ao filme Mine Vaganti que, em português, ganhou o título de O Primeiro Que Disse. Como diz minha amiga Agnes Zuliani, no seu personagem Ordinária, brasileiro adora entregar o filme no título... Mas, tirando o título brasileiro, esse filme italiano faz rir e emociona do início ao fim. Tomaso, o protagonista, que vive em Roma com o namorado, decide revelar à família que é gay. Seu irmão Antonio, que vive com a família tocando os negócios, se antecipa e revela antes do irmão que também é. O pai expulsa Antonio de casa e Tomaso se vê enredado na vida do irmão, assumindo o lugar que ele ocupava junto aos familiares e vivendo o dilema de contar ou não a sua verdade. Mas não é exatamente sobre o filme que pretendo falar, e, sim, sobre esse recorrente dilema de dizer ou não o que se quer, o que se sente, o que nos incomoda, o que desejamos do fundo do nosso ser. Foi com essa reflexão que saí da sala de cinema. Tudo deve mesmo ser dito? E as entrelinhas, servem pra quê? E a capacidade de percepção e observação do outro, não contam? E os silêncios que, muitas vezes, dizem tanto ou mais do que o mais eloquente dos discursos? Eu nunca fui daquelas pessoas que dizem tudo o que querem. Muitas vezes, prefiro calar. Sempre gostei mais de ouvir e, com isso, passei a perceber que as pessoas, em geral, falam demais. Costumam ter opinião formada sobre tudo e, como se isso não bastasse, fazem questão de expressar essas opiniões constantemente. De preferência, contrariando a opinião do interlocutor. E as discussões não tem fim... Por outro lado, há coisas que, se não são ditas, jamais serão compreendidas ou percebidas. Muitas tem, inclusive, que ser re-ditas. E outras são repetidas ao longo de toda uma vida e não serão absorvidas jamais. Ó dilema cruel! Dizer ou não dizer? Heis a questão... Voltando ao filme, o próprio Tomazo diz ao namorado, após esse se declarar numa conversa telefônica: Eu também te amo, só não consigo FALAR assim como você. E o mais interessante do filme é justamente ver a verdade de Tomazo sendo, pouco a pouco, percebida e assimilada por todos os integrantes da familia, sem que quase nada seja dito. Alguns, mais sábios como a avó, mais sofridos como a sócia, com mais vida interior como a tia, ou mais atilados mesmo como a irmã, percebem logo de cara. Os outros vão sendo enredados num crescendo que culmina com a chegada dos amigos de Tomaso que, de passagem pela cidade para ir à praia, são recebidos e hospedados pela família. Aliás, a estada das bibas na residência familiar gera as cenas mais engraçadas do filme... E assim, nesse diz ou não diz, o filme diz muito do ser humano, da vida, das relações, fazendo rir e emocionando constantemente. O que já não é pouco a ser dito...
Na foto, o ator Riccardo Scamarcio, intérprete de Tomazo.
E agora o dilema... quando será que esse filme passará em telas baianas? Lindo texto Bob, e uma ótima reflexão, afinal, o corpo fala, o olhar fala muito, e a boca deveria ficar fechada mais vezes.
ResponderExcluirAdorei, quero vero ver o filme!! rs!!
ResponderExcluirmas penso, q as vezes é necessário falar sobre as coisas pra descobrir oq pensamos sobre elas, ou pra descobrir uma nova perspectiva!! enfim...
bjs saudades!
Para que revelar tudo do intimo se as atitudes, gostos e conceitos sao de fato nossa essencia? Ademais, acredito que todos os dias decobrimos algo novo que acrescenta na eterna construcao do nosso ser. Mi manchi tanto, baci.
ResponderExcluirE tem outra outra: muitas vezes escrevemos o que não conseguimos falar. Eu, ultimamente, tenho falado mais com a caneta do que com a boca.
ResponderExcluirAbraço!
Muque de Peão
amei cada pedaço deste post.
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