domingo, 20 de outubro de 2024

GERTRUDE STEIN

Retomei pela enésima vez a leitura de A Autobriografia de ALice B. Toklas, de Gertrude Stein. O leitor pode se perguntar: como assim, a autobiografia de uma pessoa escrita por outra? Pode? Em se tratando de Gertrude Stein, sim, pode. Fico me perguntando o que me faz interromper sempre a leitura dessa obra e mais, o que me faz sempre voltar a ela. Acabo achando, na maior parte das vezes, que o que me atrai nela não é a leitura em si - o estilo, a obra propriamente dita - mas, sim, toda a atmosfera que ela envolve e, principalmente, os personagens. Gertrude viveu em Paris na primeira metade do século vinte e foi uma espécie de ímã, um centro gravitacional em torno do qual circulavam os grandes expoentes da arte moderna que surgia naqueles anos loucos. Isso certamente torna a obra atrativa para mim. Bem mais do que as suas longas frases quase sem vírgulas e as repetições, sim, as repetições que de tanto se repetirem acabam cansando. E que também tornaram célebre a sua frase "uma rosa é uma rosa é uma rosa é uma rosa... Me cansa também ficar constantemente interrompendo a leitura para ir ao Google verificar quem foi determinado artista ou autor, determinada pintura ou obra literária, posto que o texto é uma enxurada sem fim de citações e eu, curioso que só, preciso saber na hora a quem ou a quê a autora se refere... Mas, elucubrações à parte, o resultado é sempre positivo e desta vez já consegui passar da metade. O mesmo aconteceu quando li uma outra obra desta autora intitulada Paris, França. Nela, a mesma e fascinante entourage de gênios das artes plásticas e da literatura são o principal atrativo para mim. Sabe uma pessoa bem relacionada? Gertrude e Alice, sua companheira de toda a vida, recebiam em seu apartamento térreo da Rue de Fleurus todos os sábados a nata da nata dos artistas que eram atraídos à cidade luz e alguns franceses também. Adoro essa expressão, "a nata da nata", que meu saudoso professor Ivo Bender usava para se referir a nós, seus alunos preferidos... Pois a nata da nata de então eram ninguém menos do que Picasso, Matisse, Braque, Éric Satie, Ernest Hemingway, Juan Gris, Apollinaire, Picabia, Ezra Pound e James Joyce, para citar alguns. As paredes do apartamento da Rue Fleurus eram cobertas do teto ao chão por obras dos grandes expoentes da arte moderna. Dentre elas, o famoso Retrato de Gertrude Stein, de Picasso. Que, quando ele deu por terminado, Gertrude teria dito: Mas não se parece comigo, Pablo. E ele teria respondido: Mas vai parecer, Gertrude... Essa Paris boêmia me fascina e sonho ter participado daqueles salões frequentados por artistas que Woody Allen tão bem retratou em seu filme Meia Noite em Paris. Quem sabe um dia eu, assim como fez Gertrude Stein, ainda acabe trocando São Paulo por Paris definitivamente? Sonhar não custa nada! Enquanto isso não acontece, vou me deleitando com a leitura desta autobiografia... Nas fotos, Gertrude & Alice na sala do apartamento da Rue Fleurus, o famoso Retrato de Gertrude Stein, de Picasso e a capa da luxuosa edição da autobiografia pela Cosacnaify.

2 comentários:

  1. Nossa, que vidinha teve Gertrude. Será que ela tinha consciência de quem estava à sua volta ou eram apenas os amigos?

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    1. Sim, Odilon! Não apenas tinha consciência como os ajudava a desenvolver seus talentos e divulgar suas obras. Uma mecenas!

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