sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

PARAÍSOS ARTIFICIAIS

Desde a mais tenra juventude tive irresistível atração por drogas. E, paradoxalmente, nunca me dei bem com nenhuma delas. Pelo menos das que cheguei a experimentar. Tudo começou com a leitura de A Erva do Diabo, de Carlos Castañeda. E, consequentemente, de outras obras desse autor como Viagem a Ixtlan, O Segundo Círculo do Poder e outras que não me ocorre o nome. Essa semana tive que fazer um exame clínico que exige a tal sedação. Assim que a enfermeira aplicou a injeção no tubo do soro fiquei grogue e só me lembro de ter dito ao médico: Já estou tonto. A partir daí tudo se apagou e só recuperei a consciência em casa. Consciência é maneira de falar. Dormi a tarde inteira, acordei, jantei e dormi de novo até o dia seguinte. Acordei com uma espécie de ressaca misturada com depressão, muito semelhante ao que acontece depois de qualquer noitada de excessos. Daquelas de antigamente, lógico. Que hoje em dia noitada para mim é ir ao teatro ou a um bar ou restaurante e antes da meia noite já estar em casa... Não sei qual benzodiazepínico, psicotrópico ou estupefaciente (rsrsrs) os médicos costumam aplicar nessas ocasiões. Sei que deu uma bagunçada geral na minha mente já não muito organizada... Por outro lado, trouxe à tona memórias já quase esquecidas. Como os Paraísos Artificiais do título do post, que se referem à obra do escritor Charles Baudelaire. Nela o autor de As Flores do Mal discorre sobre a dor e a delícia de se utilizar substâncias como o ópio, o haxixe e o vinho, capazes de "transformar os homens em deuses antes de lançá-los ao inferno". Na verdade Baudelaire acaba puxando a brasa da sardinha para o álcool. Assim como ele eu, que comecei pelo álcool e passei por várias outras substâncias alteradoras da consciência, descartei todas elas e ao álcool retornei. Rsrsrs (não que eu o tivesse abandonado enquanto experimentava todas as outras)... O que sei é que não tenho nenhum controle sobre drogas e não ter controle é algo que não suporto. Toda substância que faz "viajar" me leva para uma insuportável onda de pânico, insegurança, medo e horror. Sou muito melhor consciente. E, melhor ainda, levemente embriagado. Levei anos para me dar conta disso. Mas nada como a maturidade, não é mesmo? Para o bem e para o mal... "Deveis estar sempre embriagados. Para não sentir o horrível fardo do tempo que vos esmaga os ombros e vos verga para a terra, é preciso embriagar-se sem descanso. Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, a vosso gosto. Mas embriagai-vos". Sábias palavras de Baudelaire. Me vieram também à mente os escritos de Thomas de Quincey e Antonin Artaud e os livros da coleção Rebeldes e Malditos da editora L&PM. Quem se lembra dessa coleção? Eu sei que entrega a idade rsrsrs. Mas eram adoráveis e necessários numa época em que não se tinha sequer um Google, por exemplo... O bom é que o efeito do sedativo e a crise pós-sedativo já passaram e a minha cabecinha parece ter voltado ao normal. Ao normal dela, se é que me entendem. Acho até que logo mais, à noite, vou beber um negocinho só para ver o estrago que faz... Boas viagens a todos! Nas fotos, Roberteen viaja no vinho e a obra Os Fumantes de Haxixe, de Gaetano Previati.

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