Outro dia fui assistir ao espetáculo de uma amiga e, depois de encerrada a função, ficamos conversando no saguão enquanto os demais integrantes iam saindo do teatro e ela me apresentava aos que eu ainda não conhecia. Lá pelas tantas chegou um jovem técnico de luz ou de som que integrava a montagem e, ao saber que eu fizera parte do elenco da Terça Insana, exclamou: Cara, eu ri muito com você quando era moleque! Puxa, pensei, mas foi ontem... Então me dei conta de que a gente vai vivendo a vida, um dia depois do outro, fazendo coisas diferentes aqui e ali, ora feliz, ora triste, alternando momentos de euforia e melancolia, e nem percebe que o tempo está passando, implacável. Até que, numa ocasião como essa, somos atropelados pela sua inexorável passagem. E súbito entendi: Uma coisa que para mim acontecera recentemente, já havia se transformado numa espécie de Sítio do Pica-pau Amarelo para a geração dele. Um Castelo Rá-tim-bum. Uma Vila Sésamo... A noite seguiu, dali fomos para um restaurante e os papos versaram sobre os mais diferentes assuntos. Mas aquilo ficou na minha cabeça, martelando. Até que, lá pelo fim da noitada, já quase chegando em casa, tomei fôlego e fiz uma oração ao tempo: "Agora que já passei dos cinquenta anos, tempo amigo, será que você poderia fazer a gentileza de passar um pouco mais devagar? Quando eu era jovem lembro de lhe pedir tanto para que você passasse depressa! Conceda-me agora o prazer de poder fruir a sua passagem num ritmo mais adequado ao pouco que me resta de você... Obrigado. De nada. Amém. E que assim seja". Adormeci ao som de Caetano Veloso: És um senhor tão bonito quanto a cara do meu filho. Tempo, tempo, tempo, tempo...
Na foto, o gigantesco relógio do Musée d'Orsay, em Paris, marca a passagem do tempo através dos séculos.
domingo, 27 de agosto de 2017
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É querido, o tempo passa e já nos tornamos peças retrô.
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