GARRA NOJENTA
Porto Alegre sempre foi celeiro de gírias e expressões que eram criadas, logo em seguida lançadas no eixo Rio-São Paulo e, não raro, se extendiam ao resto do Brasil. Eu não sei quem foi o criador da expressão garra nojenta. Talvez tenha sido Renato Campão, ou Zé Adão Barbosa, ou até mesmo alguém mais antigo do meio teatral gaúcho. Mas o fato é que todos nós, fazedores de teatro dos anos oitenta e noventa em Porto Alegre, a utilizávamos. A expressão foi cunhada para designar um estilo de interpretação densa, tensa, exageradamente dramática e, por vezes, enfrentativa. Sabe a Regina Duarte nesse remake de O Astro? Garra nojenta. Bete Coelho no teatro? Garra nojenta. Camila Morgado antes de descobrir a veia cômica? Garra nojenta. Desde o início de sua já longa carreira, Cássia Kiss sempre foi exemplo incontestável desse estilo de interpretação. Assim como Renata Sorrah. Ninguém poria em dúvida a garrice de Fernanda Montenegro. Ou da mestra Bibi Ferreira, em Gota d'Água, de Chico Buarque e Paulo Pontes. Mas, esqueçamos por hora o adjetivo “nojenta”, bônus intrínseco do debochado humor portoalegrense, e concentremo-nos no substantivo: A garra. Para além dos limites do teatro e de suas escolas interpretativas, a garra se extende a todos os aspectos da nossa vida. Prática ou não. Aliás, tanto mais prática quanto mais vivida, justamente, com garra. Eu sou um artista a cuja carreira sempre faltou uma certa dose de garra. No sentido de se avançar, de ir atrás, de fazer contatos, bajular, fazer lobby, puxar saco, mesmo. E não me gabo disso, absolutamente. Estou confessando aqui uma deficiência pessoal. Um talento que me falta. Tudo bem, ninguém é perfeito. Quando eu tento ser garra fica meio falso, me atrapalho todo, um desastre... Admiro, por exemplo, estrangeiros que, mal chegados a outros países que não o seu, já conseguem bons trabalhos, lugar para morar, se enturmam com as pessoas mais descoladas da cidade e são seguidos e admirados. Que nome dar a isso? Garra! Admiro modelos, sarados, bombados e bonitos em geral que, mesmo não tendo muita coisa para dar além do corpo e da beleza, o fazem e se dão bem nas carreiras que escolhem seguir. Eles tem o quê? Garra. Garra nojenta...
Lembro agora de outra expressão gaúcha designativa de estilo de interpretação: A Escola Mickey, da qual Grace Gianoukas é a principal representante e, se não me engano, a criadora. Que tem em Ilana Kaplan uma de suas principais seguidoras. Mas, voltando à garra: Caio Fernando Abreu era um escritor garra. Elis Regina, cantora garra. E o que dizer de Maria Bethânia? Quer um exemplo de atriz garra chiquérrima e cult? Glória Pires. Ou Beatriz Segall em Vale Tudo. Já para representar o lado cafona, nada mais garra nojenta do que a bispa Sônia pregando. Aliás, nesse caso, mais nojenta do que garra... E por aí vai. Cafona ou chic, brega ou cult, camp ou kitsch, a garra nojenta segue, através das décadas, impulsionando carreiras. Para cima ou para baixo. Dependendo do ponto de vista...
Porto Alegre sempre foi celeiro de gírias e expressões que eram criadas, logo em seguida lançadas no eixo Rio-São Paulo e, não raro, se extendiam ao resto do Brasil. Eu não sei quem foi o criador da expressão garra nojenta. Talvez tenha sido Renato Campão, ou Zé Adão Barbosa, ou até mesmo alguém mais antigo do meio teatral gaúcho. Mas o fato é que todos nós, fazedores de teatro dos anos oitenta e noventa em Porto Alegre, a utilizávamos. A expressão foi cunhada para designar um estilo de interpretação densa, tensa, exageradamente dramática e, por vezes, enfrentativa. Sabe a Regina Duarte nesse remake de O Astro? Garra nojenta. Bete Coelho no teatro? Garra nojenta. Camila Morgado antes de descobrir a veia cômica? Garra nojenta. Desde o início de sua já longa carreira, Cássia Kiss sempre foi exemplo incontestável desse estilo de interpretação. Assim como Renata Sorrah. Ninguém poria em dúvida a garrice de Fernanda Montenegro. Ou da mestra Bibi Ferreira, em Gota d'Água, de Chico Buarque e Paulo Pontes. Mas, esqueçamos por hora o adjetivo “nojenta”, bônus intrínseco do debochado humor portoalegrense, e concentremo-nos no substantivo: A garra. Para além dos limites do teatro e de suas escolas interpretativas, a garra se extende a todos os aspectos da nossa vida. Prática ou não. Aliás, tanto mais prática quanto mais vivida, justamente, com garra. Eu sou um artista a cuja carreira sempre faltou uma certa dose de garra. No sentido de se avançar, de ir atrás, de fazer contatos, bajular, fazer lobby, puxar saco, mesmo. E não me gabo disso, absolutamente. Estou confessando aqui uma deficiência pessoal. Um talento que me falta. Tudo bem, ninguém é perfeito. Quando eu tento ser garra fica meio falso, me atrapalho todo, um desastre... Admiro, por exemplo, estrangeiros que, mal chegados a outros países que não o seu, já conseguem bons trabalhos, lugar para morar, se enturmam com as pessoas mais descoladas da cidade e são seguidos e admirados. Que nome dar a isso? Garra! Admiro modelos, sarados, bombados e bonitos em geral que, mesmo não tendo muita coisa para dar além do corpo e da beleza, o fazem e se dão bem nas carreiras que escolhem seguir. Eles tem o quê? Garra. Garra nojenta...
Lembro agora de outra expressão gaúcha designativa de estilo de interpretação: A Escola Mickey, da qual Grace Gianoukas é a principal representante e, se não me engano, a criadora. Que tem em Ilana Kaplan uma de suas principais seguidoras. Mas, voltando à garra: Caio Fernando Abreu era um escritor garra. Elis Regina, cantora garra. E o que dizer de Maria Bethânia? Quer um exemplo de atriz garra chiquérrima e cult? Glória Pires. Ou Beatriz Segall em Vale Tudo. Já para representar o lado cafona, nada mais garra nojenta do que a bispa Sônia pregando. Aliás, nesse caso, mais nojenta do que garra... E por aí vai. Cafona ou chic, brega ou cult, camp ou kitsch, a garra nojenta segue, através das décadas, impulsionando carreiras. Para cima ou para baixo. Dependendo do ponto de vista...
Na foto, La Fernandona recebe uma Fedra de frente.
Adoro "Garra Nojenta" !!! Ótima crônica, Robertinho!!! Realmente precisamos ter muita garra, seja nojenta ou não, para esculpir nossas carreiras.
ResponderExcluirEu adoro as expressões gaúchas e as uso, e uma expressão que adoro que aprendi tb com o Zé Adão, é "gestos de velha", principalmente agora, faz o maior sentido hahahahaha beijossss
Eu achei este texto Garra, como todos os outros que ja escreveste...bj.
ResponderExcluirHahahahaha Adorei!!!
ResponderExcluirVamos combinar, (outra gíria criada por nós e que se espalhou...) tu escreves deliciosamente meu querido!!
Bjks!
Você é um cara incrível, mas de verdade.
ResponderExcluirEstou aprendendo a amar o seu trabalho!
Grande abraço