quinta-feira, 28 de julho de 2011



AI, COMO EU TO BANDIDA!
O bordão é perfeito. E os atores, excelentes. Mas o texto é péssimo. Quem ainda acha engraçado esse tipo de humor, que precisa destruir o outro para fazer graça? Quem ainda aguenta a bicha má, maldita, acabando com a pobre da amiga? Chamando-a insistentemente de feia, e, ainda por cima, roubando os bofes da coitada... Eu, heim? Deus me livre de reforçar preconceitos. E, a quem interessar possa, não sou politicamente correto. Aliás, acho um pé no saco esse papo. Não se trata de política. Nem de ser correto ou incorreto. Trata-se de humanidade. Refinamento. Inteligência. Um mínimo, pelo menos, é sempre necessário. E não venham dizer que o humor sempre foi assim, desde os palhaços ou a comédia de l'arte. A superioridade do clown branco sobre o augusto se baseava na inteligência do primeiro. No máximo, na esperteza. Nunca na humilhação. Mas, deixa isso pra lá. Não quero falar do Zorra Total. Quero aproveitar o título do post pra fazer eu a bandida. Meter o pau. Falar mal. O que é a Ivete Sangalo cantando Rehab? O que são as novas bochechas do João Kleber? E a profissão da Renata Banhara, “Personalidade da Mídia”? Onde faz o curso? Também quero ser! E as caras e bocas da Regina Duarte em O Astro II? E o cabelo do Neymar? Até o elegantérrimo Diogo Nogueira, vestindo Ricardo Almeida, resolveu aderir e virar o último dos moicanos... Estamos vivendo a era do vale tudo. Tudo pode. Quanto pior, melhor. E quem ta de fora acaba se sentindo excluído. Acabei de assistir ao documentário Filhos de João, sobre os Novos Baianos. Eles viveram o oposto de tudo o que vivemos hoje. Tudo era amor, música, inspiração e coletividade. Hoje, na feira das vaidades, o que vale é o eu. O individual sempre. Jamais o coletivo. Como um deles declara em determinado momento do filme, o dinheiro não era o valor. O valor era a honestidade, a amizade... Que importância isso tem hoje? Eu quero mais é ser sempre excluído do mundo cão, do circo de horrores, da feira de aberrações. Nem que eu acabe sozinho, chic e digno em uma ilha deserta isolado do caos. E falando mal de todo mundo! Ai, como eu to bandida...

terça-feira, 26 de julho de 2011




AMY
A história da minha admiração pela cantora Amy Winehouse foi de amor à primeira escutada. Quando meu amigo Cau Saccol colocou o CD Back to Black para tocar em seu carro, para que eu a conhecesse, me apaixonei por Amy nos primeiros acordes de Rehab. E a paixão seguiu crescendo à medida em que eu escutava Just Friends, Wake up Alone, Love is a Losing Game e You Know I'm no Good. Quando já estava completamente adicto, sem poder mais viver sem ela, meu amigo Cabral me presenteou com o primeiro CD, Frank. E não teve mais jeito. Amy nos acompanhou anos a fio, durante todas as turnês da Terça Insana, sempre tocando nos nossos leptops, diskman, camarins e quartos de hotel. Quando saiu o DVD, nas TVs dos ônibus e vans ela também se fazia presente. Todos sempre disseram que ela iria morrer cedo, pois abusava das drogas. Mas, cá entre nós, vinte e sete anos é cedo demais! Eu conheço pessoas que se drogam há mais tempo do que isso e estão vivas até hoje! E sem metade do talento dela. Injustiça. Não me conformo. Aliás, eu nunca me conformo com mortes de artistas. Foi assim com Elis, Cazuza e Cássia Eller. E com todos os que morreram antes de eu nascer. Ou logo depois. Não aceito. E sofro. E choro. E permanecem todos vivos na minha memória e no meu coração. Felizmente posso seguir ouvindo todos eles até morrer. Depois, quem sabe? Espero que ela tenha paz.O chato é ter que ficar vendo um bando de gente careta, que certamente falava mal dela, fazendo homenagens. De cantoras de axé a apresentadoras de TV. Elas que deixem para homenagear cantores sertanejos, quando eles morrerem. Que saco!
Bye, bye, Amy. So long. Farewell. God save her soul...

sexta-feira, 22 de julho de 2011




ENIVREZ-VOUS...
Embriagai-vos, diz o título do post em francês. Esse é também o título do meu poema preferido de Charles Baudelaire, a quem eu lia freneticamente na minha juventude. Lembro que desde então já adorava viajar e, em uma ocasião, fui, de ônibus, até Ouro Preto, cidade histórica de Minas Gerais que sonhava conhecer. Chegando lá, me hospedei em uma pousada, na verdade uma casa de família cuja dona alugava quartos para turistas. Um menino que esperava em frente à rodoviária perguntou se eu já tinha onde ficar e, diante da minha negativa, me conduziu até essa casa-pousada. Fiquei encantado, pois tinha um piano na sala. Comecei a tocar e em seguida já havia juntado um animado grupo de estrangeiros. Quando um deles me disse que era francês, perguntei, animadíssimo, arranhando meu péssimo inglês, se ele conhecia Baudelaire. Ao que ele respondeu: Of cours, I studied Baudelaire in the school. Achei aquilo o máximo! Puxa, estudar Baudelaire na escola! Um dos meus ídolos, um poeta maldito! Anos depois é que me caiu a ficha: Seria o mesmo que perguntar a um brasileiro se ele conhece Machado de Assis, ou, sei lá, Jorge Amado! Santa ingenuidade. Mas, voltando ao Embriagai-vos do título, o poema diz mais ou menos o seguinte: É preciso estar sempre embriagado. De quê? Não importa. De vinho, de poesia ou de virtude, a escolha é sua. Para que não sintamos o terrível fardo do tempo, que pesa sobre os nossos ombros, é preciso que nos embriaguemos sempre. Concordo plenamente com o poeta. Não apenas no que diz respeito ao vinho, mas, sobretudo, no quesito vida. A vida só faz sentido se for vivida intensamente, ou seja, se for embriagante. Uma paixão embriaga. Um belo filme, um espetáculo ou uma obra de arte, embriagam. O nosso trabalho deve ser embriagante. Senão é tédio puro. Dias de sol e noites de lua. Uma praia deserta. Um gato que dorme silencioso e quente ao nosso lado. A lembrança do passado. A expectativa do futuro. A preparação de uma viagem. O reencontro com alguém a quem amamos e que não vemos há muito tempo. Os poetas tem esse incrível poder de dizer por todos. Se não por todos, pelos que se permitem compreendê-los. Rimbaud, Allen Ginsberg, Florbela Espanca, Mario Quintana, Cecília Meireles, Vinícius de Moraes, todos eram meus companheiros de juventude. Ah! E Pablo Neruda... Eu sempre procurei seguir a máxima do autor das Flores do Mal e me manter embriagado através dos anos. Como nem sempre a vida é assim tão arrebatadora, em determinadas fases eu levo a máxima ao pé da letra e encho a cara mesmo. Amy Winehouse deve ser uma que também tem essa interpretação do poema de Baudelaire... Mas embriagar-se é realmente necessário. De poesia ou do que for. De poesia e vinho, então, melhor ainda...


Na foto, Baudelaire pintado por Emile Deroy.

segunda-feira, 18 de julho de 2011



GARRA NOJENTA
Porto Alegre sempre foi celeiro de gírias e expressões que eram criadas, logo em seguida lançadas no eixo Rio-São Paulo e, não raro, se extendiam ao resto do Brasil. Eu não sei quem foi o criador da expressão garra nojenta. Talvez tenha sido Renato Campão, ou Zé Adão Barbosa, ou até mesmo alguém mais antigo do meio teatral gaúcho. Mas o fato é que todos nós, fazedores de teatro dos anos oitenta e noventa em Porto Alegre, a utilizávamos. A expressão foi cunhada para designar um estilo de interpretação densa, tensa, exageradamente dramática e, por vezes, enfrentativa. Sabe a Regina Duarte nesse remake de O Astro? Garra nojenta. Bete Coelho no teatro? Garra nojenta. Camila Morgado antes de descobrir a veia cômica? Garra nojenta. Desde o início de sua já longa carreira, Cássia Kiss sempre foi exemplo incontestável desse estilo de interpretação. Assim como Renata Sorrah. Ninguém poria em dúvida a garrice de Fernanda Montenegro. Ou da mestra Bibi Ferreira, em Gota d'Água, de Chico Buarque e Paulo Pontes. Mas, esqueçamos por hora o adjetivo “nojenta”, bônus intrínseco do debochado humor portoalegrense, e concentremo-nos no substantivo: A garra. Para além dos limites do teatro e de suas escolas interpretativas, a garra se extende a todos os aspectos da nossa vida. Prática ou não. Aliás, tanto mais prática quanto mais vivida, justamente, com garra. Eu sou um artista a cuja carreira sempre faltou uma certa dose de garra. No sentido de se avançar, de ir atrás, de fazer contatos, bajular, fazer lobby, puxar saco, mesmo. E não me gabo disso, absolutamente. Estou confessando aqui uma deficiência pessoal. Um talento que me falta. Tudo bem, ninguém é perfeito. Quando eu tento ser garra fica meio falso, me atrapalho todo, um desastre... Admiro, por exemplo, estrangeiros que, mal chegados a outros países que não o seu, já conseguem bons trabalhos, lugar para morar, se enturmam com as pessoas mais descoladas da cidade e são seguidos e admirados. Que nome dar a isso? Garra! Admiro modelos, sarados, bombados e bonitos em geral que, mesmo não tendo muita coisa para dar além do corpo e da beleza, o fazem e se dão bem nas carreiras que escolhem seguir. Eles tem o quê? Garra. Garra nojenta...
Lembro agora de outra expressão gaúcha designativa de estilo de interpretação: A Escola Mickey, da qual Grace Gianoukas é a principal representante e, se não me engano, a criadora. Que tem em Ilana Kaplan uma de suas principais seguidoras. Mas, voltando à garra: Caio Fernando Abreu era um escritor garra. Elis Regina, cantora garra. E o que dizer de Maria Bethânia? Quer um exemplo de atriz garra chiquérrima e cult? Glória Pires. Ou Beatriz Segall em Vale Tudo. Já para representar o lado cafona, nada mais garra nojenta do que a bispa Sônia pregando. Aliás, nesse caso, mais nojenta do que garra... E por aí vai. Cafona ou chic, brega ou cult, camp ou kitsch, a garra nojenta segue, através das décadas, impulsionando carreiras. Para cima ou para baixo. Dependendo do ponto de vista...

Na foto, La Fernandona recebe uma Fedra de frente.

domingo, 10 de julho de 2011









JE T'AIME SERGE GAINSBOURG
Quero falar sobre Serge Gainsbourg. Eu sempre quero falar sobre Serge Gainsbourg. Já disse, redisse e torno a dizer aqui no blog: Eu amo Serge Gainsbourg. Mesmo que agora todos o estejam descobrindo, os modernos descolados o citem, cantem e homenageiem, ainda assim, quero citá-lo, louvá-lo, homenageá-lo. Acho ótimo ter com quem dividir essa minha idolatria pelo mestre francês do pop. Quando cheguei em Paris, no começo dos noventa, ele faleceu. Eu não o conhecia. Em Paris só se falava nele. Despertou minha curiosidade. No Duplex, bar que eu frequentava, tocava sempre Couler Café. No curso de francês estudávamos as letras de La Javanaise e Le Poinçoneur de Lilas. Como não pesquisar, não descobrir, não amar Gainsbourg? Não havia internet, Googole, Wikipedia. Eram livros, jornais, revistas, lojas de discos. De vinil. E, como todo compositor pop, Gainsbourg tem uma música para cada momento da sua vida. Eu estava, portanto, vivendo as canções de Gainsbourg, um amor em Paris, descobertas, álcool, cigarros e o que mais pintasse... E todas as musas que vinham avec: Bardot, Gréco, Birkin. Je suis vénu te dire que je m'en vais. Je t'aime moi non plus. E o filme? Com Joe D'Alessandro e Jane Birkin andróginos e rebeldes... Acabo de assistir ao filme Gainsbourg, o Homem que Amava as Mulheres. Logo depois de assistir à Meia Noite em Paris, de Woody Allen. Me pego pensando: Paris, me deixa! Quero voltar à minha realidade. Será que a minha realidade é mesmo essa, de São Paulo, Brasil, América do Sul? Ou será Paris, França, Europa? Je suis l'homme à tête de chou. Moitié légume, moitié mec. Joe D'Alessandro que eu descobrira nos filmes de Andy Wahrol: Trash, Heat, Lonesome Cowboys. Brigitte que eu amava desde a infância. Os hits Je t'aime moi non plus e La Décadence, que só tocavam tarde da noite na Rádio Cristal, de Soledade, nos anos setenta. Ou, mais tarde ainda, no Clube dos Namorados, na Rádio Farroupilha, que eu ouvia antes de dormir no meu rádio de pilha da Luluzinha... Alguém lembra daqueles radinhos que tinham o formato da cabeça de personagens de histórias em quadrinhos? O meu era da Luluzinha, presente da minha irmã e madrinha Raquél... Pois o filme sobre Gainsbourg me trouxe tudo isso, memórias recentes e antigas... E Paris, sempre bem fotografada... E a incrível semelhança do ator com o personagem... Ainda bem que tenho muitos CDs de Gainsbourg, e de Brigitte Bardot cantando Gainsbourg... É só o que tenho ouvido... Viva Gainsbourg! Sempre...


Nas fotos, o Deus do pop francês acompanhado, ao piano, de La Bardot e, maquiado, do inseparável cigarro. Gitanes...

domingo, 3 de julho de 2011





MUNDO IDEAL
Alguém já disse que sonhar não custa nada... Então vamos lá: No mundo ideal, pra começo de conversa, não haveria fronteiras. Todos poderiam ir e vir, viajar para onde quisessem sem precisar tirar os sapatos, passar no raio X, no detector de metais, ser apalpado e nem responder a uma sequência interminável de perguntas indiscretas. No mundo ideal cada um cuidaria da própria vida, sem jamais ficar prestando atenção ao que os outros fazem da deles. No mundo ideal haveria silêncio na hora que cada um dos seus habitantes quisesse dormir. Todos seriam cordiais uns com os outros, se diriam bom dia, por favor, obrigado. Ah, e falariam corretamente os seus idiomas. No mundo ideal ninguém confundiria discriminação com liberdade de expressão. Só pessoas capacitadas poderiam ocupar cargos políticos. No mundo ideal a Mirian Rios seria proibida de contratar babás de qualquer orientação sexual. Seria obrigada a ficar em casa estudando e cuidando, ela própria, dos filhos. A temperatura seria sempre amena. Quente o suficiente para se ir à praia durante o dia e frio o suficiente para se acender a lareira à noite. No mundo ideal, todos poderiam publicar o que escrevessem, filmar o que roteirizassem, expor o que pintassem, encenar o que imaginassem. Desde que tivessem talento para tal. Não haveria domingos de tardezinha. Nem noites de tempestades. Vulcões não expeliriam fumaça que fechasse aeroportos. Ninguém teria a língua presa. Ninguém teria o rabo preso. E se, com toda essa idealização, alguém ainda sentisse necessidade de cometer algum crime, esse alguém seria preso. Mesmo que tivesse muito dinheiro. Nem preciso dizer que não haveria engarrafamentos. O trânsito, como tudo o mais, iria fluir normalmente. Agradavelmente. A internet seria sempre rápida e gratuita. No mundo ideal não existiria axé. Nem mulheres frutas. Nem propagandas de cerveja. As pessoas utilizariam o advérbio “onde” somente para indicar lugar. As frases teriam apenas um sujeito. ( Ao invés de “as frases, elas teriam” ). No mundo ideal não existiriam aquelas minúsculas formiguinhas de cozinha que conseguem subir, sabe-se lá como, até o vigésimo andar dos prédios. Trajeto que deve significar toda a breve existência desses pequenos seres. No mundo ideal ninguém ficaria rico sem ter cultura e educação. O que, por tabela, significaria o fim de publicações como a Caras. No mundo ideal a Xuxa apenas ajudaria crianças carentes com a sua fundação. Jamais se atreveria a cantar. Ninguém imitaria ninguém, todos seriam absolutamente originais. As crianças obedeceriam os adultos. E esses nunca as levariam em locais destinados a adultos. E, last but not least, o champanhe seria gratuito. E a sobremesa, incluída. Jamais inclusa. Ops, acordei...