WONDERLAND
Uma das piores coisas de se envelhecer é que a gente começa a perder cada vez mais pessoas queridas. É a lei natural da vida, um dia todos vamos morrer. Mas tem umas pessoas que se vão cedo demais! Hoje eu soube, logo pela manhã, que minha amiga Claudia Wonder partira aos cinquenta e cinco. Fiquei o dia inteiro triste, confuso, chateado. Pensando, entre outras coisas, que cinquenta e cinco anos é cedo demais para se partir! Se bem que, embutidos nesses cinquenta e cinco, ela deve ter vivido, pelo menos, uns cento e dez anos. Claudia era sábia. Vivida. Viva. Diva. Culta, inteligente e espiritualizada. Éramos amigos há mais ou menos dez anos. Como rimos, bebemos, brigamos, fizemos as pazes, cuidamos um do outro ao longo desses anos. Quando resolveu voltar para a Suíça, onde vivera durante anos, me deixou a chave da casa, o cartão do banco e a senha. Como éramos vizinhos, todos os dias eu ia lá, abria as janelas do apartamento, molhava as plantas, pagava suas contas. Sempre generosa, quando estava muito feliz, me ligava e dizia: Pega um dinheiro no banco e vai tomar champanhe no Ritz por minha conta... Teve a época em que nosso amigo em comum Edson Cordeiro foi morar no prédio da Claudia, aquele predinho pequeno, de quatro andares, que fica na esquina da Hadock Lobo com a Alameda Franca. Que era mais conhecido como A Prédia, tal a quantidade de gays que nele morava. Éramos os vizinhos inseparáveis. Fazíamos sinais pelas janelas, nos chamávamos, nos reuníamos. A ternurinha Wanderléia mora no prédio em frente e uma vez eu comentei com a Claudia que dois abajures estavam sempre acesos, dia e noite, em seu apartamento. Ao que Claudia respondeu: Será feng shui? Não pude deixar de rir entre lágrimas ao relembrar... Não tive o prazer de assistir às suas antológicas performances no Madame Satã, nua numa banheira de groselha, pois ainda não morava aqui em São Paulo. Mas a Claudia foi responsável por uma grande guinada em minha vida: Eu andava sem trabalho, deprimido e desacreditado de tudo quando ela me levou para conhecer o pessoal do Reiki, que se reunia às segundas-feiras numa casa em Santana. Lá conheci minha mestra Clara Gumiero que, em duas sessões, botou a minha vida nos eixos...
Vai com Deus, amiga. Faz a tua première no céu cercada de luxo e glamour. Finalmente habitarás a tua Wonderland. E que os anjos e anjas de todas as etnias, tendências e sexualidades digam Amém.
Nas fotos: Chamego no dia dos meus anos e pit-stop chez-moi antes de ir para a parada montada com chifres de veado.
Uma das piores coisas de se envelhecer é que a gente começa a perder cada vez mais pessoas queridas. É a lei natural da vida, um dia todos vamos morrer. Mas tem umas pessoas que se vão cedo demais! Hoje eu soube, logo pela manhã, que minha amiga Claudia Wonder partira aos cinquenta e cinco. Fiquei o dia inteiro triste, confuso, chateado. Pensando, entre outras coisas, que cinquenta e cinco anos é cedo demais para se partir! Se bem que, embutidos nesses cinquenta e cinco, ela deve ter vivido, pelo menos, uns cento e dez anos. Claudia era sábia. Vivida. Viva. Diva. Culta, inteligente e espiritualizada. Éramos amigos há mais ou menos dez anos. Como rimos, bebemos, brigamos, fizemos as pazes, cuidamos um do outro ao longo desses anos. Quando resolveu voltar para a Suíça, onde vivera durante anos, me deixou a chave da casa, o cartão do banco e a senha. Como éramos vizinhos, todos os dias eu ia lá, abria as janelas do apartamento, molhava as plantas, pagava suas contas. Sempre generosa, quando estava muito feliz, me ligava e dizia: Pega um dinheiro no banco e vai tomar champanhe no Ritz por minha conta... Teve a época em que nosso amigo em comum Edson Cordeiro foi morar no prédio da Claudia, aquele predinho pequeno, de quatro andares, que fica na esquina da Hadock Lobo com a Alameda Franca. Que era mais conhecido como A Prédia, tal a quantidade de gays que nele morava. Éramos os vizinhos inseparáveis. Fazíamos sinais pelas janelas, nos chamávamos, nos reuníamos. A ternurinha Wanderléia mora no prédio em frente e uma vez eu comentei com a Claudia que dois abajures estavam sempre acesos, dia e noite, em seu apartamento. Ao que Claudia respondeu: Será feng shui? Não pude deixar de rir entre lágrimas ao relembrar... Não tive o prazer de assistir às suas antológicas performances no Madame Satã, nua numa banheira de groselha, pois ainda não morava aqui em São Paulo. Mas a Claudia foi responsável por uma grande guinada em minha vida: Eu andava sem trabalho, deprimido e desacreditado de tudo quando ela me levou para conhecer o pessoal do Reiki, que se reunia às segundas-feiras numa casa em Santana. Lá conheci minha mestra Clara Gumiero que, em duas sessões, botou a minha vida nos eixos...
Vai com Deus, amiga. Faz a tua première no céu cercada de luxo e glamour. Finalmente habitarás a tua Wonderland. E que os anjos e anjas de todas as etnias, tendências e sexualidades digam Amém.
Nas fotos: Chamego no dia dos meus anos e pit-stop chez-moi antes de ir para a parada montada com chifres de veado.
Como diziam os Dzi, bichas não morrem, viram purpurina.
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