sábado, 6 de agosto de 2022

AGOSTO INCONSTANTE

O mês de agosto chegou de mansinho e, já nos primeiros dias, nos levou Jô Soares. Que lástima! Perder Jô é como perder alguém muito próximo, um ente querido, um familiar. Um avô querido! Desde a minha mais tenra infância lembro de assistir aos seus shows de humor na televisão, com personagens marcantes e inesquecíveis. Faça Humor, Não Faça Guerra (nada mais adequado para os dias de hoje), Satiricon, O Planeta dos Homens, Viva o Gordo. Personagens como Norminha, Bo Francineide e sua pornô mãe (A saudosa e inesquecível Henriqueta Brieba), o precursor defensor das minorias Capitão Gay e tantos outros. A lista não caberia em um post. Aliás, a importância de Jô para a cultura desse país não caberia em um post. Mas vivemos uma espécie de devastação de figuras deste quilate. E não se vê ninguém à altura chegando para substituí-las. E assim seguimos, cada vez mais desfalcados... Como tudo tem um lado bom, tenho trabalhado, com a direção impecável e sempre atenta a mínimos detalhes de Luis Artur Nunes, os textos de Caio Fernando Abreu que irão compor meu solo Caio em Revista. Projeto já antigo que retomamos agora com a intenção de fazer com que finalmente saia da gaveta. (Para quem não sabe o teatro, assim como o inferno, está cheio de boas intenções)... Caio escreve tão bem que nos inspira a ser criativos, poéticos e talvez tão bons quanto ele foi. Digo escreve, no presente, porque ele ainda vive através de seus textos. E de amigos como nós, que fazemos questão de manter viva a sua memória. Dia desses, em um dos nossos encontros/ensaios – que, vez por outra, se estendem em happy hours regadas a drinks – comentávamos que até mesmo uma lista de supermercado feita por Caio deveria ser muito bem escrita, conter poesia. Fiquei imaginando: Pragmáticos papéis higiênicos, insensatas beringelas, intensas bergamotas e dúbias batatas doces... Ainda no lado bom das coisas, agosto também explode em inebriantes floradas de ipês e cerejeiras pela cidade, conferindo cor à cinza Pauliceia que a gente ama e odeia em igual intensidade. Mentira, eu a amo muito mais do que odeio. São Paulo me acolhe, me inspira, me representa. Como dizia Caio, também tenho essas Zonas Lestes, esses Jardins, Moocas e Morumbis esquizoidemente divididos sobre a pele asfaltada... Bom mês de agosto a todos! Nas fotos, Luis e eu brindando à amizade, Jô como Carlitos e Caio em si.

3 comentários:

  1. Só em 2022 já se foram muitas perdas e você disse o que sinto, perder o Jô é como perder um ente querido. Bom é saber que estás ensaiando um espetáculo teu.

    ResponderExcluir