domingo, 5 de dezembro de 2021

O CIRCO

O mês de dezembro chegou me trazendo muitas lembranças. No post anterior falei das minhas influências teatrais, o que me trouxe à memória as minhas influências circenses. Antes mesmo do teatro, eu já havia sido fisgado pelo circo. Lembro da primeira vez que minha mãe me levou para assistir a uma função. Fiquei tão impressionado que, ao chegar em casa, comecei imediatamente a reproduzir tudo o que vi os artistas fazerem. Até um prato de plástico surrupiei à minha mãe para equilibrar sobre um cabo de vassoura. Acabei fazendo um furo no meio do prato e, com um prego na ponta do cabo, fixei-o para conseguir realizar meu número de "equilibrismo" fake... Mais tarde comecei a organizar espetáculos na garagem de casa. No chão da garagem havia um alçapão coberto com tábuas. Eu removia essas tábuas deixando um buraco que dava para o andar de baixo, o que no meu entender aumentava o perigo, o risco que conferia maior dificuldade ao meu número. Sobre o buraco eu colocava uma mesa, sobre a mesa uma cadeira, sobre a cadeira um banquinho e sobre o banquinho, do alto de toda a periculosidade por mim armada, eu tirava a roupa e os sapatos ficando somente de sunga. Era o meu proto-striptease. Rsrsrs... Eu também gostava muito de me equilibrar sobre um pedaço de tábua do tamanho de um shape de skate que colocava sobre uma lata de tinta deitada, à guisa de rolo. Já pré-adolescente era um amigo do meu pai, seu Lothar, que me levava para assistir às funções. Me digam se Lothar não é nome de artista de circo? Lothar, o domador de feras. Ou Lothar, o homem mais forte do mundo. Ele passava na minha casa, me pegava, e íamos de poncho, luvas e chapéu para enfrentar o frio de cortar que fazia nas noites de inverno de Soledade. Às vezes alguma "celebridade" fazia parte do espetáculo. Como, por exemplo, Teixeirinha. Que nessas ocasiões tocava - além dos hits como Coração de Luto - o Xote Soledade, canção por ele composta em homenagem à minha cidade natal. O xote exaltava a macheza do soledadense em versos como "Soledade terra de gaúcho forte, se é preciso enfrenta a morte e não liga pra tempo feio". Rsrsrs... Eu morria de medo do globo da morte. Ia até o local da apresentação rezando, pedindo a Deus que não tivesse a famigerada atração. O barulho dos motores das motocicletas era insuportável aos meus ouvidos, que tapava com toda força tentando minimizar o estrago ao mesmo tempo sem querer dar bandeira porque menino não podia ter medo. Ainda mais um menino Soledadense, que enfrenta a morte e não liga pra tempo feio... Muito mais tarde, quando morei em Paris, estudei na École Nationale du Cirque Annie Fratellini. Mas a essas alturas já tinha sido fisgado pelo teatro. Mesmo assim, nunca deixei de acompanhar e amar o circo. Como escreveu Bivar, aquela gente encantada que chegava e seguia. Era disso que eu tinha medo, do que não ficava para sempre... Nas fotos, o incrível dia em que um elefante passou em frente à minha casa anunciando a chegada do circo, Teixeirinha e seu violão e a mestra Annie Fratellini.

2 comentários:

  1. Esse Robertinho era eu, fui e serei. Me fisgou, de saída, o Sarrasani, nome que lembro até hoje, assistido com meu pai. Antes mesmo de ter nascido, creio. A história oficial do Sarrasani é europeia, mas creio que houve filiar Argentina ou cópia, preciso pesquisar. Sei que fui. E de lá nunca mais saí.

    ResponderExcluir
  2. Sergio, que incrível! Era o Sarrasani que ia sempre para Soledade, entre outros. Meio que tivemos a mesma iniciação.

    ResponderExcluir