quinta-feira, 4 de abril de 2019

A MULHER SÓ

Minha primeira direção depois de ter me formado em teatro na Universidade, A Mulher Só foi também minha primeira incursão na dramaturgia. Eu andava bastante envolvido pela ideia de usar a solidão como tema de um espetáculo. Aliás, para mim a solidão era o grande tema a ser abordado. Como ainda é, de certa forma. Só que nada do que me caía às mãos parecia dizer o que eu queria. Pelo menos não da maneira que eu queria. Foi então que, inspirado no teatro do absurdo que eu estudara recentemente (especialmente em Dias Felizes, de Becket) escrevi num rompante esse meu primeiro texto dramático. Depois, no processo de criação do espetáculo, fui escrevendo mais cenas e acrescentando-as ao todo, na medida em que se faziam necessárias. Escrevi tudo à mão, em um caderno que guardo comigo até hoje... Agora, quando paro para lembrar desse trabalho, me dou conta de que as minhas pretensões dramatúrgicas foram grandemente superadas pelo verdadeiro show performático que os atores Ciça Reckziegel e Paulo Vicente promoviam em cena. Paulo é dono de um histrionismo todo próprio, uma espécie de grife que imprime a todas as suas criações. E Ciça possui uma vasta gama de emoções que gentilmente empresta a seus personagens, indo do cômico ao trágico sem parecer fazer o menor esforço. Some-se a importantíssima colaboração de Marlene Goidanich na preparação vocal dos atores et voilà: O espetáculo ficou perfeito. Modéstia à parte... Em mais um ímpeto autoral, compus uma pequena canção para os personagens cantarem em cena. Essa música ganhou gravação com arranjo de Hique Gomes. Tenho muita saudade desse tempo em que, com uma ideia na cabeça e alguns talentos reunidos, a gente conseguia fazer arte... A cena era vazia, apenas o panejamento do palco e duas cadeiras às quais os personagens estavam metaforicamente amarrados. Marilourdes Franarin levantou a produção. Chico Machado foi responsável pela criação visual. A luz de Hermes Mancilha dava o tom da atmosfera, ora de sonho, ora de duro aprisionamento. Figurinos de Coca Serpa e coreografias da própria Ciça Reckziegel arrematavam o pacote. Estreamos no final de 1989, uma pré-estreia de dois dias na Sala Álvaro Moreira, para cumprir a primeira temporada de 1990 na mesma sala. De lá, fomos para uma segunda temporada no Teatro de Câmara (Alguma notícia dele?). Um espetáculo que muito me realizou como encenador, no qual tive a oportunidade de experimentar vários estilos: Do minimalismo à chanchada, do teatro-dança à colagem de esquetes. Tudo com o subtítulo de: A Comédia -Bolero da Solidão. E lá se vão já trinta anos...
Nas fotos, Ciça e Paulo Vicente em ação. Não consigo lembrar quem foi o fotógrafo. Alguém me ajuda? Fiz foto das fotos, por isso esse brilho refletido nas imagens.

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