quinta-feira, 20 de julho de 2017
FEUD
O que é uma vida de artista no mercado comum da vida humana? Cantava Gal Costa no álbum Água Viva, de 1978. O que os versos de Suely Costa talvez não trouxessem era a resposta para tão complexa questão... Acabo de assistir aos oito episódios da série Feud, sobre a lendária rivalidade entre as grandes damas do cinema americano Bette Davis e Joan Crawford. E confesso que me bateu forte. Para além do deleite estético e do prazer de acompanhar as peripécias das divas. Após assistir aos episódios finais, o que ficou fortemente impregnado em mim foi a constatação da instabilidade das carreiras artísticas. Mais do que as disputas de egos exaltados ou a fogueira das vaidades, o que me impressiona é esse fino fio tenso por onde se equilibra a inconstante disputa pela construção e manutenção de um sonho. Se há alguma constância na carreira de um artista, é justamente a inconstância... Digo que me bateu forte porque venho de voltar aos palcos depois de uma ausência de quase dois anos. Um projeto de sonho inocente, segue a canção de Gal. Não se esqueça de mim essa semana... Susan Sarandon e Jessica Lange representam, respectivamente, Miss Davis e Miss Crawford. Ah sim, estou falando de Feud, já havia viajado completamente no tema. E a grande luta que travam, maior do que a rivalidade que dá título à série, é a luta pela manutenção de suas carreiras em um mercado que se transforma e que as deixa de lado. Cruel. Arrasador. Grandes talentos se afogando em álcool e decepções. Muita coisa mudou de lá para cá. Mas creio que a essência permanece. Essa necessidade constante do aplauso, dos holofotes, de ser o centro de, pelo menos, algumas atenções. Essa ilusão que encerra a realidade do ganha pão. Essa quimera. Os egos inflados, as disputas, as vaidades. Do que era mesmo que eu falava? De Feud, a série americana. Você não pode deixar de assistir. Mas antes, prepare os drinks e aperte o cinto. Vem turbulência por aí. Pescador quando tece sua rede, jogador quando joga sua sorte: Cada um que conhece sua sede é artista da vida ou da morte... Pois a série termina com a morte das protagonistas, o que deixa a triste sensação de que não haverá continuidade. E agora? Como viver sem essas adoráveis lutadoras? E as fofocas de Hedda Hopper? Como ficar sem Mamacita? O que terá acontecido a Baby Jane? Quem descerrar a cortina há de ver cheio de horror...
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Bob, mais uma vez repleto de razão, ou razões, sobre FEUD e a vida do artista. Comentei a série com alguns amigos e mesmo aqueles, já passados dos 40, sequer tinham assistido Baby Jane, me senti nascido na era mesozóica. Não há memória e não há tempo para a memória nos atuais tempos de snapchat que tudo dura apenas 24 horas. Manter-se em cena exige um trabalho hercúleo não só do ator, mas de uma equipe de comunicação, assessoria de imprensa, personal social para redes sociais, jabás, merchans e lobby. Não só de talento vive o homem do século 21. Bjos.
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