quinta-feira, 18 de agosto de 2016

SEREIA'S DRINKS

Dizem que a esperança é a última que morre. Tenho minhas dúvidas. Ninguém me tira da cabeça que o Sereia's Drinks ganha. Morre depois. Pelo menos, depois do amanhecer. Nas noites escaldantes do verão ou nas madrugadas do mais rigoroso inverno ele está lá, na Rua do Lavapés, com a porta aberta e o luminoso aceso. E sempre tem alguém entrando pra ver qual é que é. Morro de curiosidade. Circulo muito pelo Glicério, Cambuci e arredores, por isso passo com frequência em frente à porta cujo indefectível luminoso é um convite. Um convite a quê, exatamente, não sei. Mas como imagino! À luxúria, à lascívia, a toda sorte de perversidades, ao álcool, às drogas, a garotas de programa, a shows de sexo explícito... Desfilam em minha mente fantasiosa & pervertida cenas e mais cenas, que vão de Fellini à Boca do Lixo. De Almodóvar a Alexandre Frota. Fico fantasiando se, ao adentrar a pequena portinha da Rua do Lavapés, o cliente seria conduzido por um longo e estreito corredor que o levaria a uma ante-sala redonda e cheia de portas com letreiros sugestivos. Como no teatro mágico de Hesse. Se seria vendado ou despido. Se, conduzido por sacerdotizas profanas, seria encaminhado ao altar-mor do prazer ou à sala do trono do Rei ou Rainha da Noite. Se beberia absinto, champanhe ou cachaça. Se fumaria ópio, charuto ou maconha. Se inalaria rapé ou pó. Se faria sexo grupal ou solitário. Se usaria lingerie ou farda. Se um imenso globo de espelhos giraria refletindo luzes coloridas pelo salão. Se uma velha jukebox tocaria Roberto Carlos... E se, ao amanhecer, ele seria estrategicamente defenestrado por uma saída secreta de modo a não ser visto por nenhum dos matinais frequentadores da região. E se voltaria para a sua vidinha pacata com o ritmo da música ainda na cabeça e o perfume da aventura na memória olfativa da alma... Delírios de um senhor ligeiramente alcoolizado. Sonhar não custa nada. Se alguém tiver coragem de um dia me acompanhar, quem sabe eu não me anime?

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