quarta-feira, 14 de agosto de 2013

MUDANÇAS

Já contei aqui no blog da dificuldade que tenho em deixar Paris e voltar à minha realidade a cada vez que passo uma temporada por lá. Dessa vez, então, com a diferença de fuso horário de cinco horas a mais, foi ainda mais difícil. Fiquei uns quatro ou cinco dias caindo de sono às seis da tarde e acordando super disposto às cinco da manhã. Mas nada que a passagem do tempo não resolva. Aliás, não há nada que a passagem do tempo não resolva. Mesmo os maiores traumas ou dores. Minha ligação com a Cidade Luz vem do início dos anos noventa. Para ser mais preciso, 1990 e 1991, anos que vivi estudando e curtindo Paris como um jovem brasileiro deslumbrado e cheio de sonhos. Uma grande desilusão amorosa me fez abandonar a cidade antes que o meu, digamos, ciclo francês tivesse se concluído. Depois disso fiquei dezesseis anos sem ir a Paris para finalmente em 2007 voltar a encontrá-la. De lá para cá tenho ido em média uma vez por ano. E sempre volto com a impressão de que deveria ficar um pouco mais. Muita coisa mudou em Paris e em mim. Ninguém mais usa dinheiro para pagar, só cartão. Eu continuo usando. Ninguém mais compra o Pariscop para saber das artes e espetáculos. Eu ainda compro. Ninguém mais vai à bilheteria dos teatros para comprar ingresso. Eu ainda vou. Tanto lá quanto aqui. Agora tem carros elétricos que você pode usar colocando créditos em uma conta com seu cartão de crédito. Quando não quer usar mais, você o devolve a uma base que o recarrega automaticamente. É o mesmo esquema das bicicletas públicas. Mas, como já disse, eu mudei também em vários pontos. Agora escrevo no iPad. Tenho um blog. Frequento redes sociais. Leio jornal no iPad. Revistas eu continuo preferindo ler com as mãos, manuseando o produto em si. Falando em revista, li na Joyce de julho uma matéria muito relevante sobre os hábitos musculares de Marcos Mion, na qual o jornalista afirma que ele é um dos precursores do gênero stand up comedy no Brasil. Ãh? Quando Mionzinho ainda nem sonhava emitir o primeiro gugu-dadá, precursores como Chico Anysio, Miele, Agildo Ribeiro e Jo Soares já mandavam ver no gênero por aqui. E mesmo que o autor da matéria estivesse se referindo a essa nova onda do gênero, Grace Gianoukas e Marcelo Mansfield já arrancavam gargalhadas do público quando ele ainda engatinhava... Isso também parece ter mudado: O perfil das pessoas que escrevem nas revistas e jornais. Voltando a Paris, algumas coisas mudaram para pior: Os carros não param mais para a gente atravessar as ruas. Os táxis, mesmo no sinal verde para pedestres, não param. Parece que estou no Brasil. Como já disse em outro post, há muitos pobres nas ruas, pedindo, mendigando e mesmo dormindo nelas. Eu mudei meus hábitos e meu paladar. Estou cada vez mais exigente. E chato. Se você ainda não me conhece, nem queira... Brincadeira, eu sou um amor! E espero que essa minha história de amor mal resolvida com Paris tenha um final feliz. Ou melhor, que continue passando por mudanças sem nunca chegar a um fim. Na foto, eu com colegas de copo e de cruz no Petit Fer à Cheval nos verdes anos noventa.

3 comentários:

  1. Nossa...Petit Fer à Cheval, se minha memória não mudou tanto quanto Paris, bati esta foto enquanto vivíamos a vida nos verdes anos noventa!
    Saudades imensas de tí e de Paris contigo!

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  2. Quero voltar lá contigo! Ótimo parceiro e excelente guia nos petits recônditos por descobrir. Agradecido. s

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  3. Touché, Pati! Foi você mesma... Lembrei muito de ti com João e com Rolando dessa vez. Saudades aussi...

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