sábado, 30 de junho de 2012




PARIS PELA PRIMEIRA VEZ...

Você decidiu conhecer Paris? Que bom! É uma cidade encantadora, pela qual sou completamente apaixonado e fico muito feliz sempre que alguém decide conhecê-la. Então, aí vão algumas dicas: A primeira delas - para depois não sair dizendo que os franceses são mal educados - é sempre se dirigir a quem quer que seja com as seguintes expressões: Bonjour e s´il vous plait. Pronuncia-se bonjur e silvuplé. Depois, então, você pode dizer – seja em qual for o idioma - que não fala francês. Eles já serão uns amores, só pelo fato de você ter se esforçado em dizer bonjour. Isso é muito importante e nós brasileiros, acostumados a ir direto ao assunto, principalmente quando nos dirigimos a prestadores de serviços, não estamos acostumados... Se você vai ficar poucos dias, acho que nem vale a pena ir ao Louvre, pois ele é muito grande e você certamente vai querer aproveitar seu pouco tempo para ver mais da cidade luz. No que, aliás, faz muito bem, já que se trata de uma cidade que quanto mais a gente vê, mais descobre que tem para ver... Prefira o Museu D'Orsay, que é lindo e não é tão grande, numa manhã você consegue ver tudo. Adoro fazer coisas bem turísticas como passear de Bateau Mouche. A visão da cidade a partir do rio é linda. Eles saem todos da Pont Neuf, a ponte mais famosa da cidade, no coração de Paris, facílimo de achar. Ainda na categoria coisas bem turísticas, é imperdível assistir a um show de revista no Lido, no Moulin Rouge ou no Crazy Horse. Ou nos três. Fui a todos e adorei... Ainda me falta o Folies Bergère. Um happy hour inesquecível? No Le Fumoir. Fica em frente ao Louvre. Nada como tomar uma coupe de Deutz, meu champanhe preferido, olhando gente do mundo todo passar... Em Paris você nunca irá beber sem degustar algo. O drink sempre vem acompanhado de amêndoas ou petites olives... O metro de Paris é um dos maiores do mundo, é possível se ir a qualquer lugar da cidade com ele. Mas prefira andar a pé, vale muito mais a pena. Não há nada como se perder nas ruas de Paris. A gente sempre acaba descobrindo algo que não poderia ter deixado de conhecer... Para quem esperava dicas incríveis e completamente não turísticas foi uma decepção. Mas, quer saber? O bom mesmo é cada um descobrir a sua própria Paris. Esse meu rompante de guia turístico não passa de uma grande saudade de ir visitá-la... Bon voyage!
Na foto, a Place des Voges, também imperdível, como quase tudo em Paris...






domingo, 17 de junho de 2012





ESTRELAS MUDAM DE LUGAR...
Hoje a Claudia Meneghetti nos deixou. Se ela fosse uma reles mortal eu diria que faleceu. Como era uma estrela, apenas mudou de lugar: Foi para o firmamento, que é onde as estrelas devem estar. A primeira vez que a vi em cena ela já arrasava ao lado de Dilmar Messias interpretando Karl Valentin. Claudinha era uma excelente atriz. Tragicômica. Fazia bem qualquer papel em qualquer registro de interpretação. Um deleite para o diretor. Sem muita explicação, Claudinha, totalmente intuitiva, pegava o "tom" da cena no ar... Que delícia trabalhar com ela. Toda à flor da pele. Um dia chegou no ensaio atrasada, tensa, e me pediu dois minutos para desabafar. Chorou, bradou, reclamou, execrou céus e terra e, num rompante comum às grandes divas, exatos dos minutos depois, enxugou as lágrimas e disse: Agora podemos começar o ensaio... Inesquecível. Outra feita, Ciça Reckziegel, sua parçeira na cena, sofria dizendo não encontrar a emoção da sua personagem. O tempo passando, a Claudia já inquieta, mandou essa : Finge! Adorable... Uma vez fui visitá-la, no seu apartamento térreo da Travessa Cauduro, e umas crianças da escola ao lado, penduradas na janela da sala, gritavam insupotáveis, não nos deixando conversar. Claudinha abriu a janela e soltou o verbo: Saiam daqui! Vão fazer uma coisa da idade de vocês, fumar um baseado, bater uma punheta! Me deixem em paz! Inesquecível...  Vou guardar para sempre a imagem da sua personagem Urânia entrando em cena com uma mala estampada  de oncinha feita pelo querido Alziro Azevedo. E a Ciça jogada aos seus pés chorando ao som de Maysa cantando Ne Me Quitte Pas...
Foto de Zeca Felipe.

sexta-feira, 15 de junho de 2012


DESIGN
Ele me disse para ficar à vontade. Eu estava com uma certa dificuldade para me sentir assim: À vontade. Disse para eu me sentar. Olhei em volta e não vi nenhuma cadeira. Tudo era tão design. Tão clean. Tão high... Fiquei parado em frente a um objeto me perguntando se ele seria realmente utilitário, algo para, por exemplo, se sentar, ou se seria meramente decorativo. Impossível não lembrar de Danuza Leão e suas restrições a Philippe Starck... Sirva-se de algo para beber, ele disse, agora já se dirigindo para o banheiro. Com essa onda de arrastões nos restaurantes tenho preferido ficar em casa, emendou. E eu, estático diante de tantos recipientes de cristal, tentei decifrar seus conteúdos: Seriam bebidas? Perfumes? Essências? E todos esses objetos, seriam copos? Vasos? Cinzeiros? Ouvi sua voz, vinda do quarto: Gosta de Cole Porter? Sim, tentei me fazer ouvir, intimidado pela suntuosidade decorativa do ambiente. Gosta mesmo ou só está dizendo que sim para me agradar? Redarguiu inquisidor. Quer mesmo saber? Pensei. Não quero agradar você. Essa frase se concluiu no meu pensamento quando eu já adentrava o elevador, que saía da própria sala de estar... Respirei aliviado ao chegar na rua. Entrei no primeiro boteco, sentei-me a uma mesa, dessas bem mesa mesmo, com tampo quadrado e quatro pernas, pedi um uísque que me foi servido em um copo bem copo mesmo, redondo, de vidro, e bebi feliz ao som do velho e bom Roberto Carlos que tocava na jukebox: Nunca mais você ouviu falar de mim...

segunda-feira, 11 de junho de 2012

CARTA
Querido leitor, o que me move a escrever esse post é a saudade. Saudade que sinto do tempo em que escrevia e recebia cartas. Para quem não tem a menor idéia do que estou querendo dizer, cartas eram espécies de e-mails, torpedos, scraps, só que analógicas, escritas à mão em folhas de papel bem fino, envelopadas, seladas e enviadas via aérea correio postal. Ah, e não eram tão breves como as mensagens digitais. Tinha-se tempo de sobra para contar as novidades e, ainda por cima, desabafar. Sim, nas cartas a gente falava da alma. Das inquietações. Dos desejos secretos, conforme a intimidade que se tinha com o interlocutor. Tinha-se uma outra noção da passagem do tempo... Nada era tão fast como hoje em dia. Lembro com que incontida ansiedade esperava a resposta de uma carta de amor... Recortar e colar eram, literalmente, recortar com a tesoura e colar com cola. Fotos, frases, qualquer coisa que se visse em jornal ou revista e fizesse lembrar o destinatário... Quando morei em Paris, no começo dos anos noventa, ainda não havia internet nem telefone celular. Falar por telefone só com a família uma vez por semana, pois era caro. Para os amigos, restavam as cartas. Eu adorava! Algumas eram verdadeiras obras de arte. Lembro que um tempo que sempre dedicava a escrever minhas missivas era o que ficava na lavanderia esperando a roupa secar. Cartões postais também eram outra forma de comunicação bastante utilizada. Em Paris tinha cartões lindos, que à época ainda não havia aqui no Brasil. Eu gostava de escrever na parte de trás do cartão inteira e colocá-lo em um envelope, pois, se utilizasse apenas a parte destinada a escrever, para mim era pouco... Sinto saudade de escolher um belo papel. Saudade de decidir qual envelope usar. Que selo colar. Com que perfume borrifar a carta. Lembro que antes mesmo de entrar para a escola e ser alfabetizado, já escrevia cartas para minhas irmãs que moravam no internato em Cruz Alta e para as colegas delas que conhecia. Eu já sabia o nome de todas as letras e ia ditando para minha mãe o que queria dizer a elas... De uns anos pra cá eu tenho treinado o desapego de tudo o que é material. E isso faz com que a cada ano eu me desfaça de coisas que guardo e não utilizo de alguma maneira. Meio que para liberar espaço na casa. Foi assim que, há uns cinco ou seis anos atrás, me desfiz de toda a minha correspondência, que guardava desde há muitos anos. É claro que algumas – poucas – foram poupadas, como algumas cartas de amor e uma – a única – que meu pai me escreveu quando meu morava em Paris. Alguns anos depois eu me arrependi desse ato intempestivo. Ainda mais agora, que nem se escreve mais cartas. E eu fui ficar sem as minhas... Saudades. No mais, tudo bem. Sigo minha rotina de procurar não ter rotina... E alimento a fantasia de me corresponder com quem quer que seja via blog. Sem mais para o momento, me despeço aguardando ansioso por sua resposta.

Beijo grande, já com saudades, do seu,

Roberto.

quinta-feira, 7 de junho de 2012




ILUSÃO

Uma das coisas mais impressionantes que vem com o amadurecimento é a perda da ilusão. Ou melhor, das ilusões. Impressionante no bom e no mau sentido. Melhor dizendo, em todos os sentidos. O passar dos anos acaba inevitavelmente trazendo a percepção de que nem tudo é de fato como imaginávamos. Como acreditávamos ser. Ou como gostaríamos que fosse... Em vários setores da vida: Pessoal, profissional, afetivo. E no campo das amizades, então, o que dizer? Tem coisa mais decepcionante do que perceber que uma pessoa que você sempre teve em alta conta não corresponde em nada à imagem que você tinha dela? Por um lado é bom, você fica esperto e passa a analisar mais detalhadamente as suas relações. Mas e a tristeza de ver um laço afetivo se romper? Como um vidro que trinca, um véu que rasga, uma névoa que se dissipa... Quando as máscaras caem, o que fica, no máximo, é formalidade, sociabilidade, fachada. Aparência, um arremedo do que antes fora uma relação. Puro teatro. Uma pantomima esvaziada de qualquer sentido. Uma foto para ser postada em redes sociais. Quando percebemos uma outra pessoa no lugar da que amávamos, nada será como antes. Um vaso quebrado, por mais lindo que seja, não fica igual depois de colado. É muito triste perceber que pessoas queridas traem, manipulam, inventam, agem segundo interesses próprios que se sobrepõem a quaisquer outros... Quase tão triste quanto perder entes queridos que morrem. Talvez mais triste ainda, pois trata-se de morte em vida. Nada além, nada além de uma ilusão. Ilusão à toa. Mentira, cansei de ilusões. Mentiras sinceras me interessam. A música popular brasileira está cheia delas. E não apenas nas letras, se é que me entendem... E o que dizer desse poema de Cecília Meireles, que há anos sei de cor? “Encostei-me a ti, sabendo bem que eras somente onda. Sabendo bem que eras nuvem, depus a minha vida em ti. Como sabia bem isso tudo, e dei-me ao teu destino frágil, fiquei sem poder chorar, quando caí”... Perfeito. Quase um hai kai. As desilusões de Cecília certamente não foram poucas...

sexta-feira, 1 de junho de 2012



TREZE TIOS

Meus avós paternos, que não cheguei a conhecer, tiveram catorze filhos. Meu pai tinha treze irmãos. E eu tinha, portanto, treze tios...Tia Branca era nossa vizinha. Sua casa ficava ao lado da nossa, na esquina, e os terrenos eram divididos por uma cerca de arame que, com o tempo, foi substituída por um muro de alvenaria. Tia Branca era casada com o tio Arquilau, a quem chamávamos carinhosamente Quilau. Eles passavam a maior parte do tempo na fazenda e, quando vinham para a cidade, era uma festa de galinhas, pintinhos, ovos, frutas e quetais. Uma vez, minha irmã Regina adentrou o quintal da Tia Branca em tal velocidade que esmagou um pintinho, que nem teve tempo de piar... Quando o Quilau ia para a fazenda e tia Branca ficava na cidade eu ia dormir com ela. Na sua cama tinha mosquiteiro! Para mim era praticamente um palco... Nunca esqueço de uma temporada que passei na fazenda deles e o Quilau me deixou dirigir o trator... Foi o máximo! Do outro lado da esquina da tia Branca ficava a loja e a casa do tio Antoninho, que ninguém nunca chamou de Antônio. Acho que herdei dele esse anátema: Não consigo ser Roberto. Até para as crianças sou Robertinho... Tiontoninho, como o chamávamos, tinha um armazém de secos e molhados, a Casa Camargo, onde comprávamos desde mantimentos até ferramentas, pregos, perfumaria e presentes. Tudo o que comprávamos era anotado na caderneta e no fim do mês meu pai acertava... Tiontoninho era casado com a tia Célia, figura ímpar, cuja casa era uma verdadeira mixórdia: Xícaras e pratos guardados nas gavetas e, nos armários, uma incrível miscelânia de cama, mesa e banho, com direito à sua gatinha Pitty dando à luz dentro da forma de pudim... Tia Célia era prendadíssima: Fazia plissé! Ah, e incríveis compotas de tudo o que fosse. Todo ano, na Páscoa, ela fazia deliciosos bombons de doce de leite recheados com nozes, que embalava naqueles papéis de bala com franjas e nos levava de presente. Lembro até hoje do sabor... Tia Morena morava no centro da cidade, em frente à praça. Sua casa tinha dois andares! O que, para nós, significava um edifício. Seu marido, tio Luizinho, era mágico e ventríloquo. Eu adorava visitá-los para tio Luizinho me encantar com seus truques e bonecos. Ele também colecionava gramofones e realejos, que fazia tocar para a nossa alegria... Descer com tio Luizinho até seu porão oficina era das mais encantadoras aventuras que vivia em minha infância. No centro da cidade também morava tio Matuzalino, a quem chamávamos tio Matinhos. Tio Matinhos fazia visitas infindáveis ao irmão – meu pai – que dormia com as galinhas. Quando a hora de ir dormir se aproximava e nada do tio Matinhos ir embora, meu pai soltava sonoros bocejos e ia fechando todas as janelas da casa. Nós corríamos colocar a vassoura virada atrás da porta. E nada do tio se tocar... Um pouco mais longe da minha casa, em direção à entrada da cidade, morava a tia Didi, cujo nome verdadeiro nem eu nem minha irmã Raquel, a quem telefonei pedindo ajuda, conseguimos lembrar. Visitar a tia Didi era o máximo porque ela sempre abria uma gaveta de onde tirava surpresas deliciosas como balas, chocolates e os meus preferidos: Tijolinhos de banana... Tia Didi era casada com tio Eugênio, que era marceneiro e tinha uma oficina de marcenaria em casa. Devido a um problema de artrite ou artrose, tia Didi tinha as mãozinhas engruvinhadas. Já na época era bem velhinha. Devia ser das mais velhas dos irmãos, senão a mais velha de todos.  Tia Maria José, a quem chamávamos tia Mozinha, morava em Cruz Alta e era casada com tio Amado. Tudo o que tia Mozinha fazia para comer era delicioso... Em Cruz Alta morava também o tio Alcides, casado com tia Esmeralda, que ele chamava de Merarda. Sim, tio Alcides trocava o “ele” pelo “erre”. Uma vez, quando eu era bem pequeno, ele chegou para nos visitar dizendo que passara pela Vorta Alegre, ao que o pequeno Robertinho, implacável, corrigiu: É Volta Alegre! Já o Tio Artino, morava em uma fazenda, pros lados de Espumoso e era meu padrinho. Quando se desquitou da madrinha Badina, apelido da tia Garibaldina, tio Artino juntou-se com a Tereza, que todos diziam que era china (em gauchês, mulher da vida) e que ele tirara da zona... Eu não sei se isso era verdade. O fato é que lá em casa a Tereza sempre foi muito bem recebida. Numa das visitas do tio com a Tereza à nossa casa, minha irmã Rita estava usando aparelho ortodôntico e, ao ver o sorriso prateado da Ritinha, a Tereza exclamou: Que coisa mais linda! Quero fazer igual nos meus dentes...Tio Garibaldi também morava em uma fazenda perto de Espumoso e depois mudou-se para o Paraná, onde também morava tio Fernando, que mal conheci e foi o primeiro a falecer. Em Espumoso, onde nasci, moravam também tio João Manuel, tia Leontina e tia Julieta, que foram os tios com os quais menos convivi. Tenho tanto a mais para contar, mas já está muito longo. Hoje seguem firmes e fortes apenas tia Branca e tio Matinhos. Ah! Esqueci de dizer: Chamávamos todos de senhor e senhora e pedíamos a benção a todos eles, assim como a nossos pais. E o tio Matinhos respondia, quando éramos pequenos: Deus te abençoezinho...Meu pai já nos deixou há quinze anos, mas tudo permanece vivo na minha memória... Imaginem a quantidade de primos que eu tenho? Mas isso já é assunto para um outro post...
Na foto, meu pai e minha mãe, no dia do seu enlace.