quarta-feira, 21 de setembro de 2011




BENDITO MALDITO
Terminei, emocionado, a leitura da biografia de Plínio Marcos, Bendito Maldito, escrita por seu amigo Oswaldo Mendes. Durante todo o tempo que durou a leitura acompanhei com paixão as peripécias desse que foi um dos nossos maiores dramaturgos. Fora toda a importância de Plínio como o homem de teatro que foi, o que encanta nessa obra é conhecer o personagem, o palhaço, o Bobo Plin, como ele se denominava. Uma figura simpática, cheia de causos, de artimanhas, de truques, de histórias, de folclores, de mentiras, de brigas, de solidariedade, de princípios e de muito, mas muito carisma. A história de Plínio é um pedaço da história do Brasil. E o livro ilustra com detalhes interessantíssimos o período que foi marcado pela passagem desse ilustre cidadão santista na cultura, na sociedade e no teatro brasileiros. Do futebol ao samba, da dramaturgia às palestras, da política ao misticismo, da boemia aos cuidados com a saúde, da novela à resistência ao regime militar, da primeira à última página foi empolgante acompanhar a trajetória desse bendito maldito. Sua amizade com grandes damas da cultura brasileira como Pagu, Cacilda Becker e Tônia Carrero. Seu casamento com Walderez de Barros, a sua Dereca. Eu, que só conhecia Plínio Marcos através da força de seus textos no teatro, fiquei encantado com a força que ele teve na vida. Lembro que uma das primeiras peças a que assisti, logo que fui morar em Porto Alegre no fim dos anos setenta, época de censura fortíssima na qual um adolescente de catorze anos como eu não conseguia entrar em nada, foi Dois Perdidos Numa Noite Suja, com Cláudio Marzo e Pedro Veras, no auditório da Famecos, faculdade de jornalismo da PUC, onde minha irmã Rita estudava e pude assistir sem que nenhum segurança me impedisse. Depois conheci Navalha na Carne e Abajur Lilás e isso foi, durante todos esses anos, o que eu soube dele. O curioso é que ganhei esse livro de presente da Grace Gianoukas há quase dois anos e ele estava na pilha de espera para ser lido. Se soubesse que ia gostar tanto, o teria passado na frente. É com grande satisfação que confesso aqui essa minha tardia descoberta do incrível personagem que foi Plínio Marcos. E fico feliz de constatar, mais uma vez, que nunca é tarde para aprender...




segunda-feira, 12 de setembro de 2011




MINHA FAMÍLIA
Éramos seis: Meu pai, o Valpides, minha mãe, a Doracy, minhas irmãs, a Raquél, a Rita e a Regina, e eu, o Robertinho. Meu pai e minha mãe se casaram nos anos cinquenta, e sua primeira filha, a Luciara, morreu aos três meses de idade. Depois viemos nós quatro, na sequência: a Ra, a Ri, a Re e o Ro. Nascemos e nos criamos em Soledade. Bem, na verdade eu e a Rita nascemos em Espumoso, cidade vizinha. Mas, como fomos lá só para nascer e, em seguida, voltamos para Soledade, meu pai nos registrou como soledadenses mesmo. Soledade é uma pequena cidade, no interior do Rio Grande do Sul, conhecida como a capital das pedras preciosas. Na verdade, semi-preciosas. Mas eu prefiro chamá-las preciosas, pois, para mim, o são. Os invernos da minha infância em Soledade eram muito frios. Quando a gente ia para a escola de manhã cedo ainda era escuro e o gelo cobria os gramados. Meus pais nos ensinaram, desde pequenos, a respeitar os mais velhos. E nós os respeitávamos, só por serem mais velhos do que nós. Chamávamos de senhor e senhora qualquer pessoa de idade. Se fossem parentes ou professores, então, nem se fala. Pedíamos a benção aos nossos pais, tios e padrinhos. Ganhávamos presentes basicamente em datas como Natal, Páscoa, Dia da Criança e aniversários. Sendo que os de Natal eram os mais importantes, como bicicletas, que sempre tive e tenho até hoje. Meu pai trocava de carro todos os anos e, durante muito tempo, o modelo foi a Variant, da Volkswagen. Das cores mais inacreditáveis. Teve até uma verde metálico, que chamávamos de verde periquito. Meu pai nunca tirava férias. E, portanto, nunca veraneávamos. Veranear, lá no sul, quer dizer ir passar uma temporada no litoral, durante o verão. Por causa disso, só fui conhecer o mar com catorze para quinze anos. E assim mesmo em Capão da Canoa, praia do litoral sul cuja água normalmente era marrom. Todo o primeiro grau eu estudei em escola pública e meus amigos e colegas eram das mais variadas classes sociais. À noite, depois do jantar, o que acontecia entre sete e sete e meia, brincávamos de esconder na frente de casa, onde se reuniam todas as crianças da vizinhança. Era quando aproveitávamos para caçar vagalumes... Durante um bom tempo, minha casa era das poucas que tinham televisão e juntava gente nas janelas para ver. A TV era preto e branco e só pegava a Globo. Ou melhor, a Gaúcha. De cujo slogam lembro até hoje: Puxa, é a Gaúcha! O número do nosso telefone tinha só três dígitos. Ainda sei de cor: 103. O da casa da minha avó era 295. Mas porque eu estou falando todas essas coisas? Ah, já sei. Tudo começou quando parei diante dessa foto da minha família, que está emoldurada e pendurada no corredor da minha casa aqui em São Paulo... Hoje não tem mais meu pai e minha mãe, mas temos novos integrantes: Cunhados e sobrinhos. E, aos poucos, novas famílias estão se formando a partir da nossa. E eu, que era o caçula, estou ficando cada vez mais velho...

quinta-feira, 8 de setembro de 2011





DEZ ANOS DA TERÇA INSANA
Ontem participei do show comemorativo dos dez anos da Terça Insana, projeto teatral da minha amiga Grace Gianoukas, do qual fui um dos fundadores e no qual permaneci por oito anos. Foi muito emocionante dividir mais uma vez o palco e os aplausos do público com essa trupe que, apesar de mutante, conserva a essência da insanidade e dos princípios norteadores da direção de sua criadora. Muitos atores e atrizes já passaram pela Terça Insana, trazendo diversidade, acrescentando estilos, imprimindo suas marcas e deixando na memória do público as suas criações. Impossível pensar em Terça Insana e não lembrar imediatamente da Irmã Selma, criação de Otávio Mendes, ou da impagável Dona Edith, do camaleônico Luiz Miranda, para citar apenas dois dos inúmeros personagens marcantes que por lá desfilaram. Lembro como se fosse hoje do dia em que estava na minha casa, no ano de 2001, o telefone tocou e era a Grace me convidando para ser o apresentador de um show que ela estava organizando para inaugurar o Next Cabaret, na rua Rego Freitas. Não tinha nenhum cachê, nenhuma verba de produção ou patrocínio. Apenas alguns atores com idéias e vontade de dizer algo através do humor. A coisa cresceu rápida e espontaneamente e o resto da história o Brasil todo já conhece: Um espetáculo de enorme sucesso, que vem lotando teatros de Porto Alegre a Manaus ao longo dessa última década... Eu me sinto muito à vontade para falar da Terça Insana porque, apesar de não fazer mais parte do elenco fixo, ainda me sinto um de seus integrantes. E, mesmo já fazendo quase dois anos que deixei o projeto, as pessoas ainda me abordam como se eu fizesse parte dele. E eu gosto que seja assim. Quando me perguntam: Você não é aquele ator da Terça Insana? Eu respondo, bem orgulhoso: Sou. E foi assim que me senti na noite de ontem, com o teatro Bradesco lotado: Orgulhoso de fazer parte dessa história. Uma história de sucesso. Um marco no humor nacional. Uma retomada de formato e de espaço. Infelizmente, na avalanche que veio de carona no sucesso da Terça Insana, veio muita coisa ruim. Muita cópia fajuta. Gente que imita a forma, mas que não tem originalidade no conteúdo. E toda a forma que é esvaziada de seu conteúdo original fica sem relevância, sem expressão. Encontra-se em toda a parte, até no camelô... De qualquer maneira, o saldo é positivo. Como realizadora e agregadora que é, a Grace sempre acaba trazendo os outros consigo. Mesmo que seja no rastro das suas empreitadas, aproveitando as trilhas que ela abre à faca na floresta da mesmice e das obviedades. Parabéns à Terça Insana pelas suas Bodas de Estanho ou Zinco. Eu acho que são Bodas de Bravura, de Coragem e de Sucesso!



Na foto, a capa do primeiro DVD, com ilustração do genial Speto.

terça-feira, 6 de setembro de 2011





PIERRE BAITELLI
Que bom que entrou setembro! Eu sempre fico muito mais feliz com a chegada desse mês, que além de trazer a primavera, minha estação do ano preferida, logo em seguida vem o verão, o Natal, o fim do ano e tudo fica muito mais colorido e animado. No sábado fui assistir ao espetáculo Hedwig e o Centímetro Enfurecido. Não gosto muito da concepção de Evandro Mesquita, que divide o personagem em dois. Originalmente, o texto é um monólogo. Detesto esses simbolismos óbvios e pretensiosos que só fazem tornar confusa a narrativa. Mas, tirando esse entrave, o que se destaca, e muito, é o talento do ator Pierre Baitelli, de quem sou fã desde que o vi atuando em O Despertar da Primavera, musical da dupla Charles Muller e Claudio Botelho. E o que é, afinal, Pierre Baitelli? Um talento enorme em um corpo jovem de menino com uma beleza estonteante, cuja presença em cena atrai os olhares de todos, até, imagino, da velhinha míope da última fileira... E, como se tanto não bastasse, canta maravilhosamente bem. Faz tempo que não via surgir um jovem talento tão impressionante. Os deuses do teatro foram muito generosos com esse rapaz. Dotaram-no de talento e beleza em medidas senão invejadas, pelo menos, ambicionadas por todos. Ele já fez umas coisas na Globo, como as minisséries Capitu e Cinquentinha, e parece que agora vai entrar na Malhação. Mas, quem puder, não deixe de conferir sur la scène esse fenômeno. Mesmo que seja em Edwig pois, tirando as chatices da direção de Evandro, a peça é um puta show de rock com uma banda sensacional e um vocalista incrível. Aliás, dois, pois Pierre divide a cena e o personagem com Felipe Carvalhido. Melhor, três, pois tem também a ótima Eline Porto. Enfim, muitos talentos. Olha que eu sou chato e exigente quando se trata de atores e de teatro. Não gosto de quase nada do que vejo. Mas, para esse menino, eu tiro o chapéu. Deus conserve Pierre Baitelli...



Na foto, qualquer semelhança com um personagem de Visconti é mera coincidência.