terça-feira, 12 de outubro de 2010





OCIDENTE
Porto Alegre tem um bar chamado Ocidente. Desde 1980! Eu comecei a frequentar o Oci, maneira íntima como o tratávamos, em 1983. Não que antes disso eu ainda não saísse na noite. É que não tinha coragem de ir ao Ocidente. Passava em frente olhando pra cima, pras janelas do casarão, via uns panos pendurados no teto, como se fossem tendas, e, não sei porque, morria de medo. Achava, sei lá, que era um antro de perdição. Quando finalmente tive coragem de entrar, uma agradável surpresa: Era de fato, o que eu pensava. E eu adorei! Virei frequentador assíduo... Gostava de chegar cedo, logo que abria e ainda estava vazio, sentar junto ao balcão e ficar vendo as pessoas chegarem, começarem a beber e, finalmente, se soltarem na pista. No ano de 1985 eu comecei a ir ao Oci com meu amigo Paulo Vicente e ficávamos tomando gim tônica. Sempre no balcão. Acho que é por isso que até hoje adoro um balcão de bar. Lembro que o Paulo ia de calça jeans e, no lugar da camisa, um antigo maiô de cetim preto da mãe dele e uma estola de peles. Sensação total pós-Croquettes... Muita Madonna nas pic-ups e a Gorda, apelido da atriz Eliane Steinmetz, se vestia como a própria, da fase rendas e cruzes, Procura-se Suzan Desesperadamente... A frequência ia sempre mudando, se reciclando, punk, dark, gay, descolada. Lá por oitenta e seis, tive minha fase dark, só usava preto, da cabeça aos pés. Ah, e o Ocidente também serve almoço, durante o dia. Lembro de uma época em que o roqueiro Ratão era garçon e eu ia almoçar com meu amigo João Faria, hoje morando em Paris. Lembro, até hoje, dos diálogos. O Ratão perguntava: o que vocês vão beber? João respondia: Tu me vê uma pepsi. Ao que o Ratão, sem a menor paciência, retrucava: Faz anos que essas bichas vem aqui e ainda não sabem que só tem Coca! E o João: Tu me respeita! Hilário... Aliás, são tantas histórias que um post seria pouco. O Ocidente se mantém vivo, acompanhando todas as modas, tendências, sempre se renovando. Lembro da estréia do Viva a Gorda, programa de auditório performático da já citada atriz, em que participei no quadro Concurso do Melhor Rambo: Três concorrentes magrinhos e baixinhos, vestidos como Sylvester Stalone no filme homônimo, desfilando com metralhadoras de plástico... Lembro de muitos shows, performances e espetáculos a que assisti no Oci. Como o Falcão, impagável, fazendo a Maria Bethânia. Aliás, Betânia, sem agá, nascida em Bajé e migrada para a Bahia no lombo de um burro... Saudade do Fonso, com seu delicioso mau humor. Depois que eu já estava morando em São Paulo, quando chegava em Porto Alegre e ia ao Ocidente, ele fazia a maior festa, quanto tempo, tudo bom, beijo e etc. Na segunda vez que eu ia ele já dizia: Não vai mais embora? Ta morando aqui de novo? Faz muita falta aquela cara redonda atrás do balcão... E o Toni, que quando voltei ao Oci depois de muito tempo sem vir e pedi champanhe, mandou essa: Que champanhe? Tu sempre tomou cerveja! Além de famoso ficou metido?
Esse ano o Ocidente completa trinta anos, com o Fiapo comandando tudo do alto da sala VIP, firme sobre o sobradinho da Roseka, a loja de lingerie que ficava no térreo. E eu sempre adoro revê-lo...

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