sábado, 9 de janeiro de 2010


SOCIALZINHO

Socialzinho era como chamávamos a casa de um amigo nosso, cujos pais haviam saído em viagem de férias, e onde nos reuníamos para curtir. Curtir, então, significava ouvir música, beber, fumar muita maconha e o que mais pintasse. Especialmente no carnaval daquele ano (Verão de 1980/1981) o socialzinho bombou. Sabe como é carnaval: A bebida e as outras cocitas de sempre eram pouca loucura pros dias de Momo. A irmã do nosso amigo tinha alguns problemas mentais que eu não saberia classificar aqui, mas o fato é que em decorrência disso a gaveta da pia do banheiro era uma verdadeira farmácia, equipada com vários exemplares de tarja preta. Acho que foi na última ou penúltima noite daquele carnaval, não tenho bem certeza: Lembro de estar já bastante colocado de cerveja e maconha quando encontrei a caixa de Valium 10. Acho que tomei uns dois ou três. A minha memória daquela noite é composta de flashes, pequenas lembranças envoltas em confetes e serpentinas. Aquele disco dos Novos Baianos que tem na capa um postal do Farol da Barra tocava muito no socialzinho, e a minha música predileta era Straight Flush, um blues cantado lindamente pela Baby Consuelo. Lembro que fiz uma fantasia de palhaço pra mim, e o meu palhacinho triste se chamava Straight Flush em homenagem à musica. Eu era um jovem triste, mais para o introspectivo. Gostava de música lenta: Elis Regina, Maria Bethânia...Lia Clarice Lispector, enfim, eu tinha vida interior. É o mínimo que se tem que ter numa cidade do interior. As nossas maiores experiências, loucuras, emoções, eram mesmo interiores. As nossas viagens, como falávamos. Tínhamos até um apelido, dado pela mais agitada de nós: a turma do silêncio. É que quando a maconha batia cada um partia para a sua viagem interior e ninguém conversava. A mais agitada de nós, como falei, era completamente louca. Era também a mais divertida. Seus discursos naturalmente surrealistas beiravam o dadaísmo quando ela estava fumada. Tínhamos acessos de riso coletivos que às vezes duravam horas. Dia desses postei no orkut algumas fotos da virada de ano aqui em casa e, qual minha surpresa, no dia seguinte vejo em uma das fotos um comentário dela: “Essa parece o socialzinho!” Esse comentário bem humorado da minha amiga me trouxe à memória muitas histórias daquela época. Uma noite, ela mesma, a mais agitada de nós, inventou de fazer uma “galinhada”, que é como se chama lá no sul o arroz com galinha. Não lembro muito bem como foi que alguém conseguiu uma galinha viva para a tal galinhada, mas lembro de cenas hilárias da galinha correndo pela cozinha, sendo capturada, e, coitada, tentando fugir desesperadamente ante a eminência da morte. Eu gostaria tanto de entender os mecanismos da memória humana! Onde ficam guardadas essas lembranças que de repente vem à tona com tanta nitidez? Ainda vou escrever sobre os mistérios da memória aqui no blog. Se eu não esquecer...

8 comentários:

  1. se possível, ainda hoje gostaria de tomar um valium, ouvir a Baby cantar e correr atras de uma galinha...espero não esquecer essa ordem...e vc não esquece mesmo de postar sobre a memória, amei...bj

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  2. Uao, esta foi de fato uma "viagem" no tempo e no fundo do coracao onde ficam guardadas as lembrancas que nos fazem bem....bj.

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  3. incrivelmente bom, to atrasado mas tive q ler ate o fim!

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  4. Maravilhoso mon cher. Sempre que ouço as histórias do socialzinho, sinto não ter participado, afinal foi somente nessa época que não convivemos. Vou aguardar o post sobre memória...Je t'aime!

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  5. me lembro da terezinha ela existe e continua dando shou estive várias noites com ela continua louca e a turma do silêncio contnua existindo pena que ninguém entenda a TERE mas ela é gente boa. um abraço

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  6. A galinha foi o tiano que roubou na vila das fontes te lembra ele com a perna toda purulente e aquela galinha sendo morta voando com uma punhalada que sagrera na cozinha o gato é que não comeu nossa galinhada, que pena ela era branca e o arroz mal cozido que gostosura

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  7. Kkkkk!!! Finalmente descobri que é mrvadvoc...
    Viva a Terezinha!

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