segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

BARES

Eu devia ter quinze para dezesseis anos quando descobri os bares como alternativas para a vida real. Eram lugares mágicos, como se fossem festas permanentes, para as quais eu nem precisava de convite: Era só chegar e curtir o momento. Verdadeiras janelas, portais que se abriam no cotidiano e me transportavam para o mundo da minha imaginação. Eu já consumia muita literatura, então o meu imaginário estava repleto de drinks, escritores, intelectuais e suas discussões filosóficas em mesas de cafés e restaurantes. Um dos primeiros desses lugares encantados que me lembro de ter frequentado foi o Café Paris, em Porto Alegre. Ficava no último andar de um shopping center. Na verdade, um centro comercial, como eram chamados à época. Não sei se era tão grande como eu o tenho na minha memória. Mas lembro do encantamento que sentia toda vez que entrava lá e era conduzido a uma mesa, geralmente na companhia de meus amigos Marcel e Elenara. Marcel é aquele meu amigo de infância já falecido, muitas vezes mencionado aqui no blog. E Elenara era minha colega no Colégio Mauá, a única menina gay assumida em toda a escola. Ficávamos horas lá bebendo muitas garrafas de cerveja e beliscando bolinhos de queijo. Isso foi no final dos anos setenta... No início dos oitenta, me lembro com carinho e saudades do Pimgou, em Soledade (Assim mesmo, com M antes do G). Eu já morava em Porto Alegre, mas passava as férias e todos os feriados por lá. O Pimgou era uma mistura de salão de beleza durante o dia e bar no turno da noite. O proprietário era o Luiz Ângelo, o mais famoso cabeleireiro da cidade. O nome do estabelecimento, se não me engano, era uma junção da primeira sílaba dos sobrenomes do Luiz e do sócio e namorado André. Lembro de passar as noites bebendo vinho com meus amigos Paulo, Carminha, Celeste e, claro, Marcel. Curioso é que o bar ficava em frente ao hospital da cidade, então a gente não podia se empolgar demais nos decibéis vocais... Ah! Acabei de lembrar que antes do Pimgou eu cheguei a frequentar o bar do Villablanca Hotel em Soledade. Ainda bem pirralho, eu pedia uma beberagem chamada Coquetel ao Por do Sol, cuja receita eu nem posso imaginar o que continha... Em 1987 eu vim para São Paulo com um espetáculo de teatro chamado Império da Cobiça. Ficamos em temporada aqui na Pauliceia por três meses e foi quando eu conheci e me tomei de amores pelo Ritz... Quando morava em Paris ia todas as noites ao Duplex, que já mereceu post aqui no blog. Aliás, quando conheci Caio Fernando Abreu em Paris, levei-o ao Duplex para apresentar meu bar preferido e ele adorou. Hoje, meus favoritos na Cidade Luz são o Fumoir e o Petit Fer à Cheval. E o que dizer do bar do Instituto dos Arquitetos do Brasil, em Porto Alegre, o famoso Espaço IAB? Muitas noites de bebedeira com meus amigos Eduardo Serrano, Marcelo Pezzi, Marione Reckziegel, Claudia Rudiger e tantos outros... Sem falar no eterno Ocidente, onde tudo acontecia e desconfio que até hoje ainda acontece na capital gaúcha... Também gosto muito de bares de hotéis. Quando em turnês com espetáculos, eu sempre dava uma paradinha no bar do hotel antes de subir para o quarto. O do Plaza San Raphael, em Porto Alegre, ficava aberto a noite inteira! Um luxo... Aqui em Sampa, além do Ritz, gosto muito de ir ao Frank, no lobby do Maksoud Plaza. Já frequentei muito o Igrejinha, quando era do meu amigo Ricardo Kanazawa. E, mais recentemente, o Regô, dos queridos Luiz Macella e Marcelo Murakami.... Que bom que existem esses oásis. Não apenas pela bebida em si, mas pelo tanto de pessoas interessantes que neles conhecemos. Incluindo, évidemment, os bartenders, com quem sempre aprendo muito... Claro, tem gente chata também. Mas assim é a vida, né? Infelizmente não existe apenas gente legal. Também não deixa de ser por isso que eu bebo! Rsrsrs. Acho que vou ficar velhinho sem deixar de me sentar ao balcão do Ritz para beber o meu Manhattan... Santé! Na foto, o balcão do Le Petit Fer à Cheval, um dos meus preferidos em Paris.

Nenhum comentário:

Postar um comentário