Esse mês de maio marcou o início das comemorações dos dezoito anos da Terça Insana. Estamos em cartaz aos sábados, desde o início do mês, relembrando antigas criações e celebrando a longevidade do projeto/espetáculo. Quem diria que aquele pequeno show surgido em 2001, no minúsculo espaço do Next Cabaret, em pleno underground paulistano, cresceria tanto e chegaria onde chegou. Foram dois DVDs lançados, inúmeras turnês nacionais e apresentações em Portugal, para dizer o mínimo. Estou adorando remexer guardados em busca dos textos originais dos personagens, de seus figurinos e acessórios. Tudo me traz boas recordações e saudades... Pelo visto o público também estava com saudades dos nossos personagens, pois tem lotado as apresentações. O que já nos rendeu uma prorrogação da temporada, que seria até 15 de junho, para até o fim de julho. Grace e eu recebemos convidados que já fizeram parte dos diversos elencos e nos revezamos em personagens diferentes a cada sábado. Um pequeno trailler da loucura que era fazer um show inédito a cada semana... Tenho muito orgulho de ter feito parte da Terça Insana desde a sua criação. De ter contribuído para a abertura de espaço que ela promoveu, facilitando e incentivando a entrada de novos comediantes no mercado. Adoro a ideia de ter me tornado autor dos meus próprios textos e personagens, o que sempre foi fomentado pela Grace como um dos princípios do seu projeto. Assim como a busca por um humor reflexivo e não discriminatório. Ao retomar esses personagens que já estavam guardados há algum tempo, percebo que eles não envelhecem. Seus textos estão em constante atualização. São como cronistas do seu tempo: Sempre de olho nos fatos e hábitos do cotidiano... Muitos atores passaram pelos diversos elencos que já formaram a Terça Insana nesses dezoito anos. A maioria deles foi catapultada para a televisão, onde fazem grande sucesso. Não tive essa sorte, adoraria. Mas sigo na estrada! Quem sabe um dia?
Nas fotos, Grace et moi em quatro momentos insanos: Bastidores do Next Cabaret, dando um tapa na pantera com Maria Alice Vergueiro, na Festa do Mar em Rio Grande - cidade natal de Grace - e nos bastidores do Avenida Clube. Ô saudade!
quarta-feira, 29 de maio de 2019
quinta-feira, 16 de maio de 2019
TEMPORAL
Não tinha a menor ideia de que eu fosse um ser tão urbano. Até o dia em que me vi isolado do mundo em um pequeno chalé numa praia de pescadores... Bastou fechar o tempo no fim da tarde de domingo, desabar o maior temporal e cair a força para que eu me visse em apuros. Primeiro porque chequei todos os armários, gavetas e recantos da casa e não achei um único toco de vela. Segundo porque as baterias do iPad e do iPhone começavam a dar sinal de estarem no fim. E terceiro, mas não menos importante, porque o sinal de 3G e mesmo de telefonia desapareceram por completo. O que seria de mim quando a caixinha de som Bluetooth apagasse também? Meu rosto era o único ponto iluminado na casa inteira, pela luz da tela do iPad. Bebia as últimas taças de vinho da última garrafa. Quando as baterias restantes acabassem o que iria acontecer? Não tinha nenhuma resposta. Só uma agitação interna que começava a crescer e a dar sinais de que poderia se transformar em desespero... Depois de um tempo ouvindo música e olhando para o nada na escuridão, a chuva acalmou e resolvi sair até a frente do condomínio para dissipar a minha angústia e ver se o apagão era geral. Vamos estabelecer como sendo rive gauche o lado da rua que dá para o mar. E rive droite, o que dá para o continente. Pois a energia acabou justamente no meu lado: Rive droite. Do outro lado tudo estava iluminado. Atravessei a rua e entrei no primeiro restaurante que vi aberto. Nas mesas em volta da minha as pessoas conversavam normalmente, como se nada estivesse acontecendo. E, pensando bem, nada estava acontecendo daquele lado da rua. A chuva já acalmara e a energia elétrica nem sequer havia caído. Então me dei conta de que o perigo maior esteve o tempo todo dentro de mim. Do lado de fora, a vida seguia molhada, varrida pela ventania e mais ou menos iluminada... No dia seguinte fiquei sabendo que perto dali uma tragédia no mar tirara a vida de uma famosa modelo durante o temporal. Teria sido essa a razão da minha angústia? Essa resposta eu também não tinha. Então rezei...
segunda-feira, 13 de maio de 2019
MALA NOCHE
No final do ano de 1991 eu voltei para o Brasil, depois de um ano vivendo em Paris, e fui para o Rio de Janeiro trabalhar como assistente de direção de Luís Arthur Nunes. Foram dois espetáculos memoráveis: A Volta ao Lar, de Harold Pinter, e A Caravana da Ilusão, de Alcione Araujo. No final de 1992 eu já estava com uma vontade incontrolável de voltar a dirigir um espetáculo meu. E mais, uma vontade ainda maior de ser Almodóvar. Em Paris eu havia assistido a todos os filmes que o cineasta espanhol realizara até então. E voltei com uma necessidade urgente de experimentar em cena a estética Almodovariana... Foi quando me caiu às mãos o belo texto do meu mestre e amigo Ivo Bender, Sexta-feira das Paixões. Voltei correndo para Porto Alegre e pus a mão na massa. Ivo concordou de imediato com a minha versão abolerada e colorida do seu sombrio drama com pitadas de teatro do absurdo. Quatro mulheres vivem a noite de quinta para sexta-feira da paixão confinadas em uma casa que abriga moças desamparadas. O título, Mala Noche, sugerido pelo próprio Ivo Bender, foi tirado do bolero de mesmo nome que pontuava todas as mudanças de cena. Escalei para viver as quatro protagonistas Ida Celina, Ciça Reckziegel, Mirian Ribeiro e minha ídola Tania Carvalho. Tania chegou a fazer uma leitura, mas desistiu da empreitada por não achar-se capaz de decorar todo o papel. Chamei então Claudia Meneghetti e fechou-se o elenco. Toda a ambientação cênica, cenário e figurinos foram criados pelo genial Alziro Azevedo. A luz de Maurício Moura recortava detalhes e criava climas. A trilha, escolhida por mim, trazia canções românticas francesas e boleros de Eydie Gorme e Trio Los Panchos. (Que me foram apresentados por Tania Carvalho, uma especialista no estilo). As paixões do título foram todas exacerbadas, beirando o melodrama, revelando o humor no insólito das situações. As personagens, Maria Amparo, Amanda, Urânia e Tereza, todas à beira de um ataque de nervos. Vale destacar que a Amparo de Ida Celina foi um dos maiores presentes que o teatro me deu até hoje. Ida captou o tom da minha abordagem cênica desde a primeira leitura do texto. E deitou e rolou em cada ensaio e a cada apresentação... Meu professor Luiz Paulo Vasconcellos, que havia dirigido a montagem original, era, à época, crítico de teatro no jornal local Zero Hora. Luiz Paulo acabou com a minha montagem em uma crítica cujo título, bem no estilo bicha má, era "Drama de Ivo Bender Cai do Salto Alto". Nem ligay... Rsrsrs. Apesar de só termos feito uma temporada no Teatro Bruno Kiefer, de termos tido pouco público, de ter me deixado dívidas para pagar, Mala Noche me deu muitas alegrias e realizações. Tenho certeza que, de onde estão agora, Ivo, Alziro e Claudinha concordam comigo. Foi o último trabalho de Alziro Azevedo. Nunca vou esquecer a delícia que foi trabalhar com Claudia Meneghetti, suas tiradas antológicas, sua incrível facilidade para entrar e sair das mais diversas emoções. E o Ivo Bender, bem, o Ivo era o Ivo! Ya no estás más a mi lado, corazón, y en el alma sólo tengo soledad... Lá se vão vinte e seis anos.
Nas fotos, emoções à flor da pele pintadas a mão pela fotógrafa Irene Santos, eu querendo ser Almodóvar com o elenco no cenário da peça em foto de Zeca Felippi e na sala de ensaio com Ivo Bender fotografados por Ciça Reckziegel.
Nas fotos, emoções à flor da pele pintadas a mão pela fotógrafa Irene Santos, eu querendo ser Almodóvar com o elenco no cenário da peça em foto de Zeca Felippi e na sala de ensaio com Ivo Bender fotografados por Ciça Reckziegel.
quarta-feira, 8 de maio de 2019
TARSILA POPULAR
Que bom que o mês de maio chegou trazendo uma boa nova: Finalmente a fila para a exposição de Tarsila do Amaral no MASP deu uma aliviada e aproveitei para visitá-la. Isso porque era quarta-feira, por volta de duas horas da tarde. Quando saí, pelas quatro, a fila já estava novamente enorme. Como tem sido desde a abertura da exposição. Isso me deixa muito feliz. Que bom que as pessoas estão interessadas em arte. É no mínimo reconfortante... Mas, vamos à minha visita. Rever Tarsila é sempre enriquecedor. Eu já havia visto quase todas essas obras em uma mostra do Sesi no ano em que cheguei em São Paulo, 1996. Aliás, naquela ocasião estava também exposto o quadro A Lua, um dos meus preferidos que, se não me engano, foi vendido recentemente para o MOMA de Nova Iorque... Visitar uma exposição de Tarsila do Amaral é como receber uma notícia boa sobre o Brasil. O que tem sido raro. Nos últimos anos, diga-se de passagem. É perceber o quão universais podemos ser sem deixar de ser quem somos. É compreender a diversidade que nos formata como nação... Adoro Tarsila, sua obra, sua história, o fato dela ter ido estudar em Paris, de ter sido aluna de Fernand Léger. Adoro a maneira como ela incorpora os elementos da pintura modernista europeia no que intuitivamente já concebia como moderno. Sua antropofagia. Sua beleza, tão bem revelada por ela própria nos autorretratos... Lá estão os mega famosos Abaporu, Antropofagia, Operários e A Negra; os contundentes Trabalhadores, Segunda Classe e Operários; o singelo Manacá e o belíssimo Maternidade; e o impressionante e colorido Batizado de Macunaíma... Não dá para perder. A exposição Tarsila Popular fica no MASP até o dia 23 de junho. Corre!
Nas fotos, a festa das cores do Batizado de Macunaíma e a beleza de Maternidade.
Nas fotos, a festa das cores do Batizado de Macunaíma e a beleza de Maternidade.
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