Meses atrás tive a oportunidade de assistir a um espetáculo muito interessante: (H3O)mens. O título curioso revelava não menos curiosa proposta: Em cena, numa mistura de teatro, dança e performance, três homens nus abordam a masculinidade em todas as suas possibilidades. A nudez dos integrantes é total e explícita do início ao fim do espetáculo. Mas qualquer possível estranhamento passa logo nos primeiros minutos. O que permanece é a naturalidade dos corpos nus sobre a cena. Sem preconceitos, experimentando-se, descobrindo-se, tocando-se. Eles dançam, fumam, bebem, brigam, lutam, dublam, emocionam e fazem rir. O pênis, que diga-se de passagem é raramente mostrado onde quer que seja, aqui é exposto e desmistificado. Além de totalmente desvinculado da ideia de sexo ou pornografia. É, inclusive, em alguns momentos, alvo de muito humor. Como na cena em que os atores bailarinos os vestem com perucas, óculos, cigarros, chapéus, transformando seus genitais em divertidas marionetes. Fora toda essa ousadia da proposta, a peça tem uma trilha sonora muito linda. Que em vários momentos me fez ficar pensando para longe da sala de espetáculo... Durante muito tempo a nudez foi para mim um mistério e um tabu. Tive uma formação antiga, que me fazia crer que o corpo não devia ser mostrado. Para se ter uma ideia, meu pai nunca tirou a roupa na minha frente. Só fui ver um homem adulto nu pela primeira vez quando já era adolescente, no vestiário da piscina do clube. Mas sempre tive, talvez por isso mesmo, um certo fascínio pela nudez. E no interior do Rio Grande do Sul dos anos setenta, era muito raro uma criança ou adolescente ter acesso a qualquer tipo de material desse tipo. Não havia internet, google, nada. Um dia descobri, no armário de livros da minha avó - que era uma leitora compulsiva tal qual eu me tornaria - um livro sobre naturismo. No meio deste livro havia algumas páginas ilustradas com fotos de pessoas nuas ao ar livre. Fotos pequenas, tiradas de longe, mal dava pra se ver os genitais. Mas uma delas trazia a foto de um homem nu de página inteira. Nu frontal, com direito a pau, saco e pentelhos. Consigo lembrar até hoje o calafrio que me percorreu e as batidas do meu coração enquanto pensava se a arrancava ou não para mim. Claro que acabei arrancando. Depois dobrei várias vezes, até que coubesse na minha carteira. Cada vez que eu ficava sozinho e desdobrava a pequena página ela vinha mais quadriculada e com menos visibilidade. Até que os quadradinhos começaram a se separar e não teve mais jeito... Hoje a nudez está ao alcance de todos. Há inclusive uma moda de postar “nudes” nas redes sociais. Eu, que não gosto de ficar de fora de nenhuma tendência, depois de ter feito um workshop de modelo vivo (que já contei aqui no blog), posei nu para dois fotógrafos: O gaúcho Gilberto Perin e o coreano residente em São Paulo Leekyung Kim. Fiquei bastante satisfeito com ambos. Mas uma coisa ainda não fiz, em mais de trinta anos de carreira: Nunca fiquei nu em cena. Espero poder realizar esse sonho logo, antes que tudo despenque irremediavelmente... A companhia que apresentou esse interessante espetáculo é de Ribeirão Preto. E não sei se ainda estão com ele em cartaz ou em repertório. Mas eu o considero fundamental. Principalmente nesse momento em que uma nova onda de caretice acena de todos os lados. E urge que seja espantada. Com muito bico de seio, muita chochota, muito pau, saco e bolas. E bundas também. De todos os sexos... Ah, quase esquecia: O espetáculo está postado na íntegra no youtube. É só digitar lá: (H3O)mens – Cia 4 pra Nada. Imperdível...
Nas fotos, três momentos do espetáculo (H3O)mens da Cia 4 pra Nada.
terça-feira, 14 de agosto de 2018
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