Nem paranoia, nem mistificação. A exposição Anita Malfatti - Cem Anos de Arte Moderna, que está no Museu de Arte Moderna de São Paulo, é puro deleite. E encantamento. Sou muito atraído por esse período da arte brasileira. Mais especificamente, pelo grupo de artistas que integrou a Semana de Arte Moderna, da qual Anita foi precursora. A mostra traz um vasto panorama da trajetória da artista, com obras que vão de 1912 a 1956, e que ilustram as diversas fases da sua produção artística. As idas e vindas de Anita entre Alemanha, França e Estados Unidos. Seu contínuo interesse por tudo o que estava acontecendo no mundo das artes. Seu flerte com os diversos movimentos e tendências da pintura. Sua amizade com Tarsila do Amaral. Aliás, uma das coisas que mais me chamou a atenção na exposição e à qual dediquei o maior tempo de apreciação foi justamente uma carta de Tarsila para Anita, enviada da Capital Francesa, no ano de 1920. Escrita à mão, com caligrafia impecável em papel sem pauta. Nela Tarsila conta que estava morando "bem no centro de Paris, a dois passos do Louvre, o mesmo com o metro que me facilita para ir a todas as direcções. No ponto em que estou, nada fica longe". E, na parte que mais adorei ter lido, ela conta que foi dar um passeio de "aeroplano" sobre a Cidade Luz. Depois comenta: "Não tivemos medo, mas também não tencionamos bisar o passeio. A Terra é tão bôa, amemo-la, caminhemos sobre ella sem aquelle vento terrível das alturas, apenas remediado pelo capote e pelo gorro de pelles envolvendo a cabeça toda"... Adorável. E muito chic... Quase morri de dor nas costas, pois a carta é enorme e está exposta em uma vitrine horizontal, tipo mesa, o que fez com que eu me curvasse para poder lê-la melhor com os óculos para perto... Tudo por amor à arte. Mas, como eu dizia, a mostra traz um vasto panorama da produção da artista. Lá estão expostas desde O Farol, de 1915, até Vida na Roça, de 1956. Gosto particularmente do Retrato de Antonio Marino Gouvêa, no qual Anita reproduz ao fundo um outro quadro seu, Lago Maggiore, que pertencia ao retratado. E também do singelo Chanson de Montmartre, no qual uma moça rega flores à janela acompanhada de seu gatinho. Estão também expostos O Japonês, Tropical, Chinesa, A Estudante Russa, vários nus masculinos e femininos, retratos de amigos, familiares e intelectuais. E um desenho intitulado Grupo dos Cinco, de 1922, no qual aparecem Tarsila e Mário tocando piano, Menotti e Oswald repousando no chão enquanto a própria Anita dorme sobre um divã. Imperdível é pouco... Ao final da visita compreende-se porque a exposição de 1917 causou tanto estranhamento na provinciana São Paulo de então: Anita estava conectada com o que havia de mais moderno e vanguardista no mundo. Uma mulher à frente de seu tempo. Ou, como diz o meu amigo Odilon: Uma mulher moderna, voltada pro futuro...
Na foto, a obra O Japonês. Salvei do Google, pois não gosto de fotografar as obras quando vou a exposições de arte. O título do post está entre aspas porque é o título da crítica de Monteiro Lobato à exposição de 1917, que ficou mais conhecida como Paranoia ou Mistificação.
sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017
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