sexta-feira, 15 de julho de 2016

JULIETA SEM ROMEU

Dia desses, fã de Almodóvar que sou, fui correndo ao cinema para conferir Julieta, sua mais recente película. É um belo filme, sem dúvida. Uma boa história, contada, dirigida, roteirizada, fotografada e montada divinamente, como só Pedro sabe fazer. Mas fiquei com a sensação de que faltava alguma coisa. Depois que saí do cinema e fiquei pensando mais a respeito do filme (e bebendo, evidentemente) cheguei à conclusão de que não faltava alguma coisa: Faltavam muitas! Muitas das coisas que, para mim, caracterizam o cinema Almodovariano e o fazem tão encantador ao meu gosto pessoal. Sem sombra de dúvida, é muito autoral, muito Almodóvar. Desde o primeiro take, com o tecido vermelho do vestido de Julieta se movimentando lentamente em close. Mas é um Almodóvar light. Como diz a canção de Djavan, fica faltando um pedaço. Para começo de conversa, não tem travesti. Nenhumazinha. Nem ao menos uma bicha mais afetada. Aliás, bicha nenhuma. Tipo Benedito Ruy Barbosa. Ninguém bebe nem se droga. A protagonista, inacreditavelmente, nem ao menos fuma! E estou me referindo a cigarro mesmo, dos caretas. Um baseado, então, nem pensar. Não toca um só bolero na trilha! Nenhum!! Às vezes fica parecendo uma novela de televisão, tal a assepsia. Ninguém toma barbitúricos, ninguém sai na noite, ou seja: Não tem bas-fond. Fica parecendo, sei lá, avião sem asa, fogueira sem brasa, Buchecha sem Claudinho... Quero meu Almodóvar de volta! Com taras, fetiches, obsessões, perversões, marginais, excluídos, traficantes, dependentes químicos, toda a fauna, a flora & o mundo mineral. E, sobretudo, com seu humor cáustico, ferino, deliciosamente debochado...Minto! Tem, ao menos, Rossi de Palma, divina como a velha empregada obcecada pelo patrão. Que vai envelhecendo ainda mais durante o filme e está divina. Mas é só. E, claro, as cores e padronagens que vão de vestidos a papéis de parede. Mas falta. É como dieta sem carboidrato. Cerveja sem álcool. Café sem cafeína. Julieta sem Romeu. Eu, assim sem você... Justiça seja feita: Romeu tem. E que Romeu! Um bofe escândalo, digno do Banderas dos primeiros filmes... Brincadeiras à parte, é um filme lindo. Eu gostei. Mas, por motivos óbvios, não amei. E, como a esperança é a última que morre, fiquei esperando até o fim que a filha voltasse operada, como um homem trans. Mas nem isso...
Na foto, Adriana Ugarte sob o olhar atento do mestre espanhol. #julieta #almodovar

2 comentários:

  1. Assisti hoje à tarde. Gostei mas não amei, assim como você. Mas ainda é Almodóvar, num formato "nude", sua assinatura e o dramalhão estão lá, ainda que mais contido. Não há bebedeiras mas elegantes taças de vinho aparecem em algumas cenas, uma biba de cabelo laranja e batom vermelho está no grupo quando Bea encontra Julieta e uma insinuação de amor lésbico entre as meninas dá o tom homoafetivo. E a música cantada enquanto sobem os créditos nos avisa: é Almodóvar.

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    1. Concordo, Odilon! Mas, em se tratando de Almodóvar, é pouco. É como Claudia Raia num pretinho básico...

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