Antes que o mês de fevereiro acabe resolvi postar essa "saideira" aqui no blog. Eu adoro esse conceito de saideira como uma maneira de prolongar um pouco algo que está bom demais para terminar. E assim se toma mais e mais rodadas de chop antes de fechar a conta do bar, por exemplo. E, diga-se de passagem, já vi contas serem reabertas para a "última saideira"... Com o carnaval acontece o mesmo e o brasileiro parace não querer parar de comemorá-lo. Tem sempre mais um baile, mais um desfile, mais um bloco, mais uma festa à fantasia, quanto riso, ó, quanta alegria... A minha saideira carnavalesca de fevereiro foi uma singela visita ao Museu da República, no Palácio do Catete, para ver a exposição Clovis Bornay 100 Anos. Lembro que, desde criança, ficava fascinado com o luxo daquelas fantasias que desfilavam nos concursos do Hotel Glória e do Clube Monte Líbano. Os desfiles das escolas de samba eu não gostava de assistir, nunca gostei e continuo não gostando. Mas os concursos de fantasia eu adorava! Clovis Bornay foi uma figura emblemática, além de carnavalesco era professor e museólogo. Uma bicha à frente do seu tempo, desbravadora, corajosa e que merecia uma exposição à altura da sua importância. Fui até o Catete louco para rever aquelas criações que, à época da minha infância, ilustravam as capas da Revista Manchete. Bom, fantasias mesmo, só tem três ou quatro na mostra. Ainda assim, sem os esplendores de plumas... Mas tudo bem, não estou querendo me queixar, fiquei bem feliz com o que vi e fotografei e, principalmente, com o Palácio em si. Eu já havia estado lá nos anos oitenta, mas não lembrava que era tão belo e suntuoso. Me senti em Paris, visitando aqueles belíssimos hotéis particulares como o Musée Jacquemart-André... Saí de lá feliz e ao mesmo tempo frustrado. Feliz por constatar a importância de Clovis Bornay para o Rio de Janeiro, para o Brasil e para a causa LGBT, e frustrado pelo reduzido tamanho da exposição. E muito feliz por ter revisitado o belíssimo Palácio do Catete. Essa foi a minha saideira de carnaval... Feliz Ano Novo a todos! Rsrsrs...
Nas fotos, Clovis recebe os visitantes na entrada da exposição e um dos luxuosos salões do Palácio do Catete.
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016
PALAVRAS
Estou agora em um dos lugares onde mais gosto de estar: Na estrada. Mais especificamente, na estrada que vai do Rio de Janeiro para São Paulo. Nos fones de ouvido, a voz de Benjamim Clementine emoldura as montanhas, rios, pontes, árvores, curvas e retas que desfilam pela janela do ônibus. Como uma espécie de vestimenta musical, a trilha sonora que parece ter sido especialmente composta para o momento. Plúmbeas nuvens carregadas de chuva contrastam com o verde da vegetação. Minha memória busca por uma bela palavra que eu queria usar aqui, além das plúmbeas nuvens, e na busca percebo que não são exatamente as palavras que dizem as coisas, mas as coisas em si que se tem para serem ditas. Voilà: Touché! O que eu tenho a dizer nessse momento, além de formar belas frases construídas com palavras impressionantes? Qual é o conteúdo do momento? Enquanto me questiono, uma sucessão de imagens vazias toma de assalto o bucolismo da janela. Primeiro um rebanho de vacas fake, realisticamente recortadas em madeira e pintadas de branco e preto pastando solenes no gramado em frente à fábrica da Yakult. Por um instante, convence qual trompe l'œil. Na sequência uma enorme réplica da Estátua da Liberdade recebe os clientes em frente à filial de uma grande rede popular de magazines. Dizem que o povo mais humilde lá de Santa Catarina, onde há várias filiais dessa rede, crê se tratar de uma santa e a chamam de Nossa Senhora da Tocha. Não sei se é verdade ou boato, mas faz um certo sentido. No âmbito das imagens desconhecidas é sempre bom atribuir-lhes algum significado. Então é isso: Às vezes não há nada a ser dito além de palavras e uma imagem pode dizer mais do que milhões delas. E agora chove tanto que nem vejo mais quase nada. Nem imagens, nem palavras. As plúmbeas nuvens resolveram botar pra quebrar. Que Nossa Senhora da Tocha nos proteja! Amém... Ao contrário das imagens vazias descritas acima, a chuva vem carregada de verdade, intensidade e vida. A força da natureza se manifesta em estilhaços nas janelas do ônibus: Tudo movimenta e a tudo lava. Algumas coisas espanca, outras leva consigo. E como tudo no mundo é frágil, tudo passa, mais alguns quilômetros rodados em direção à Pauliceia e ela própria, a chuva, já se foi. As nuvens, agora claras, entreabertas deixam vislumbrar nesgas de céu azul plenas de esperança. E gradualmente tudo caminha para um belo e inesquecível entardecer. A terra cora. E a gente chora porque finda a tarde. E porque Benjamim canta. E porque há palavras para descrever o momento...
Na foto, Benjamim canta.
Na foto, Benjamim canta.
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016
CARNAVAL 2016
Hoje é apenas segunda-feira e já tomei um fartão de carnaval. É que aqui no Rio a folia momesca se manifesta as vinte e quatro horas de todos os dias em todos os bairros, ruas, praças e esquinas da cidade. Tá puxado pra mim, confesso. Não que já não tenha me jogado e talz. Mas minha animação não resiste até as cinzas. Apaga bem antes. Logo cedo já sou despertado pelas passagens de som dos blocos do Aterro do Flamengo. Teve, inclusive, dois blocos aqui na frente de casa. No sábado, o da Radio Globo, que fica juste à côté de chez moi, e hoje o Surdos e Mudos, que quase me ensurdeceram. Agora tudo deu uma deliciosa acalmada e ouço jazz com as janelas fechadas e o ar condicionado ligado enquanto bebo espumante. Se fosse rico estaria bebendo champanhe. Se fosse presidenta, estaria bebendo espumanta. Mas, como ator desempregado e escritor diletante que sou, bebo um humilde prosseco. Aliás, recomendo, muito bom: Don Guerino. Da Serra Gaúcha, que produz ótimos vinhos. E ótimos atores desempregados/escritores diletantes também... Mas, por favor, não me tomem por um chato reclamão elitista coxinha reaça fascista do caralho. Como disse acima, eu bem que já me joguei. Na semana passada pulei na pipoca da Preta Gil em pleno centro da cidade sob o sol de quarenta graus que fazia o Rio ferver! Nem mesmo eu próprio acreditei. Na sexta-feira, fui ao bloco Rival Sem Rival, da fofa/talentosa/lindíssima Leandra Leal. Como não trouxe nada de carnaval aqui pro Rio - veja só se pode - improvisei um francesinho bem no clima bleu-blanc-rouge com direito a foulard e tudo. Aqui na frente, curti Eliana Pitman animando o bloco da Radio Globo. Sem falar nas batidas de perna por Ipanema, Copacabana e Centro registrando a animação alheia, que é a que mais me mobiliza. Muitos gladiadores, Freds Flintstone, diabos, anjos, bebês, grávidas e cross dressers, que estão bombando como sempre. Por vezes me sentia em uma crônica de João do Rio... Por falar nisso, termino citando o próprio, em trecho do meu texto na peça É Vinte, As Folias do Século: " No carnaval as mulheres entregam-se, os homens abrem-se, os instrumentos rugem; estes três dias ardentes, coruscantes, são como uma enorme sangria na congestão dos maus instintos". Atualíssimo, se substituirmos os três dias por mais ou menos três semanas... Ah! Essa madrugada vou acordar com o despertador para assistir ao desfile da Imperatriz, em cuja comissão de frente Weidy é um dos coreógrafos assistentes de Débora Colker.
Nas fotos, flashes da minha própria animação carnavalesca.
Nas fotos, flashes da minha própria animação carnavalesca.
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016
DOIS DE FEVEREIRO
Ontem foi dia de Iemanjá e fui, com meu amigo Gilberto Gavronski, dar um mergulho no mar. Marcamos em Ipanema, em frente ao Hotel Fasano. Como meu amigo se atrasou, fiquei sentado na areia olhando para o mar e pensando. Lembrando. Imaginando. Sonhando... Minha princesa art-nouveau é um rapaz francês sentado a uma mesa no terraço de um café da Rive Gauche. Ele me vê com um livro na mão e pergunta o que estou lendo. Respondo que é Sartre, A Idade da Razão. Melhor dizendo, l'Age de Raison, posto que leio no original. Acha pesada a minha leitura. Imagino que não conheça Sartre, pelo menos não essa obra. Me conta que passou a infância em Madagascar. Me pergunta se gosto de lambada. Respondo que não, que prefiro Caetano, Chico Buarque, Milton Nascimento... Há um grande ajuntamento de pessoas mais para os lados do Arpoador. Quando meu amigo chega nos mudamos para lá, indo ao encontro de outros amigos. Não precisa muito para que no Rio as coisas se transformem em um événement. Ao redor de um grande barco que repousa sobre a areia com uma imagem da santa/orixá, aglomeram-se fotógrafos, cinegrafistas e celebridades televisivas. Todos compareceram ao "evento" para render homenagens. Todos são devotos. Sincreticamente jogam flores, presentes, bilhetes com pedidos e outras coisas ao mar. Eu apenas me banho e reverencio essa entidade que habita um elemento que não é o meu, mas que admiro e respeito. Quanto a jogar coisas no mar, minha consciência ecológica fala mais alto do que a minha fé e não jogo nada. Tampouco peço, pra também não ser cara de pau... Nisso já são sete horas da noite e a praia bombando. Resolvo ir embora, afinal, preciso pegar o metro. O barco ainda nem havia sido lançado ao mar quando virei a esquina do Fasano em direção à estação do metro. As coisas não precisam de você. Lembro Marina quando a luz do hotel homônimo se acende. Quem disse que eu tinha que precisar? Nisso, percebo, as luzes brilham no Vidigal...
A foto foi feita alguns anos atrás em Ilhabela. Minha homenagem.
A foto foi feita alguns anos atrás em Ilhabela. Minha homenagem.
Assinar:
Postagens (Atom)