No ano de 1986, quando vivia em Porto Alegre, fui convidado por minha amiga Nora Prado para participar de um workshop com a diretora do Grupo Tear, Maria Helena Lopes. Ela era nossa professora na faculdade de teatro e fazer parte do Tear era o sonho de nove entre dez atores naquela época. Nora já era integrante do grupo e quase não acreditei quando recebi dela o comunicado de que havia sido selecionado, através do workshop, para integrar o elenco dos sonhos... Eu já havia cursado quatro semestres da faculdade e sido aluno de Maria Helena em pelo menos três deles. Mas era muito cru e dava os primeiros passos no que, à época, eu ainda nem podia chamar de carreira. Tinha feito apenas uma peça infantil e entrei para o Tear bastante assustado pela fama de brava que sua diretora tinha. A Lena, como a chamávamos, me recebeu com a paciência e a tranquilidade de quem sabia estar lidando com matéria bruta. E eu tive a intuição de me deixar moldar, sem trazer nada de pronto para a cena, coisa que de saída percebia-se que ela detestava. Lembro até hoje que, ainda antes de entrar para o grupo, em uma avaliação de fim de semestre do curso, confessei à minha mestra que tinha muito medo de entrar em cena. Ao que de pronto Lena me respondeu: Você tem medo mas faz... Éramos uma espécie de comunidade que compartilhava gostos, inspirações e referências. Lena era nossa mestra e nos conduzia com inteligência e sutileza ao que sua brilhante imaginação construía. Mais do que ensaios, nossos encontros diários eram um laboratório constante de criações. Às vezes com resultados brilhantes. Às vezes não. Ensaiávamos meses sem saber ao certo o que iria ser montado. Mas quando vinha era de uma beleza singular. Nosso local de trabalho era uma sala da Faculdade de Engenharia, na Rua Sarmento Leite, que ficava em uma das cúpulas do prédio. A sala em si já era bastante inspiradora, mas o acervo de figurinos e acessórios também não ficava para trás. Nos aquecíamos, brincávamos, jogávamos, improvisávamos, nos descobríamos e nos transformávamos. Éramos felizes e infelizes, ríamos e também chorávamos. Fazíamos festas de aniversário, apreciávamos livros de arte e, além desses encontros diários, ainda nos reuníamos em festas nas casas dos integrantes nos finais de semana. As festas da Martinha Biavaschi, por exemplo, eram bem animadas. Minhas preferidas... Bons tempos. Verdes anos. Permaneci no Tear por mais ou menos dois anos. Nesse meio tempo montamos a performance A Piscina e o espetáculo Império da Cobiça, inspirado no livro Memória do Fogo, de Eduardo Galeano. No elenco éramos nove: Sergio Lulkin, Marco Fronchetti, Pedro Wayne, Marcos Carbonel, Nora Prado, Lúcia Serpa, Ciça Reckziegel, Marta Biavaschi et moi. Nosso Império estreou em São Paulo, cumpriu temporada no Sesc Anchieta, viajou para alumas cidades do interior e, de volta à capital, fizemos uma curta temporada popular na Casa de Cultura Mazzaropi, no bairro do Brás. Na sequência fomos para o Rio de Janeiro, com temporada no Teatro Dulcina. Para só depois estrear em Porto Alegre, no Encontro Renner de Teatro, no Teatro São Pedro, e fazer temporadas no Teatro Renascença e no próprio S. Pedro. Depois a Lena foi dirigir em Barcelona, eu estreei como diretor e minha saída do grupo se deu naturalmente. Essa turnê nacional com o Tear foi importantíssima para mim. O grupo já havia viajado para o centro do país com seus espetáculos anteriores mas, para mim, era um mundo novo que se descortinava. Sem falar que serviu para me aproximar da Lena e me revelar outras facetas da "temida diretora": A amiga, colega, divertida e bem humorada. Uma das minhas maiores alegrias era conseguir fazê-la rir das minhas imitações das pessoas que íamos conhecendo ao longo das viagens... Enquanto escrevo me dou conta do quanto tenho para contar de tudo o que vivi nessa época. Um post só é pouco...
Na foto, Lena pilota Darlene Glória, minha Vespa. Gisela Habeiche ocupa o lugar de Marco Fronchetti, que deve ter batido a foto.
sexta-feira, 22 de janeiro de 2016
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Delicia!
ResponderExcluirDelicia!
ResponderExcluirAgradecidooooos!
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