Eu sempre fico triste quando um teatro fecha. Mas, pelo menos, passo em frente ao prédio e nutro a secreta esperança de que um dia ele reabra. Quero dizer, que reabra como tal. Não como igreja, evidentemente. Agora, quando fico sabendo que um teatro será demolido, aí é fossa braba. Fico para morrer. Essa semana recebi um e-mail de meu amigo Eduardo Serrano com a matéria da Zero Hora em anexo, relatando a demolição iminente do Cine Teatro Presidente, em Porto Alegre. Depois vieram os compartilhamentos nas redes sociais e a coisa me pegou valendo. Já falei aqui no blog da minha relação com o extinto Teatro Leopoldina, também de Porto Alegre, e da importância que ele teve na minha formação. Na ocasião eu dizia que o Leopoldina era a minha fábrica de sonhos. Pois minha fábrica de sonhos tinha uma filial: O Teatro Presidente. Lá tive a oportunidade de assistir a espetáculos inesquecíveis e definitivos como Patética, com Lilian Lemertz, É, com Fernanda Montenegro e Quarta-feira Sem Falta Lá Em Casa, com Eva Todor e Henriette Morineau. Tudo graças à iniciativa do meu maravilhoso professor de literatura do Colégio Mauá, cujo nome a memória insiste em me trair. Sim, porque se não fosse por nosso mestre, que levava a classe inteira ao teatro para assistir e depois debater com os artistas, eu jamais poderia entrar com meus tenros quinze aninhos em plena era da censura. E a semana seguiu trazendo lembranças. Como a da primeira vez que fui ao Presidente e quase matei Rosamaria Murtinho de susto ao sair detrás de um carro onde fiquei fazendo plantão, enquanto disparava um flash e gritava: Uma pose, Rosamaria! Nos anos oitenta o espetáculo Porcos com Asas, do Rio de Janeiro, fez longa temporada no Presidente e marcou época. E, já nos anos noventa, quando o estrondoso sucesso local Viva a Gorda lotava as dependências do teatro, me apresentei com o grupo de acrobatas da Valquíria Grehs, num mico divertidíssimo e também inesquecível. Entendo que as cidades crescem, que o velho tem de dar lugar ao novo e blá-blá-blá. Mas a preservação da memória, pelo menos arquitetônica, é muito importante para a construção de uma identidade cultural. Mas cultura serve para que mesmo? O lado bom, se é que se pode chamar assim, é que ao menos a fachada do prédio, com o painel de pastilhas, será mantida. O que é, no mínimo, revelador: Somos uma cultura de fachada mesmo... Falando nisso, alguém sabe me dizer quem é o autor daquele painel? Agradecido.
Nas fotos, a fachada do Presidente por Mateus Bruxel, da Zero Hora, e o susto de Rosamaria, por mim mesmo.
sexta-feira, 19 de junho de 2015
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