quinta-feira, 30 de abril de 2015

DES FLEURS, DES GENS, DES ANIMAUX...

Vontade de escrever muito sobre tudo o que vejo e faço em Paris. Mas a impressão que tenho é que se me sento para escrever, deixo de aproveitar a cidade... Bem, vamos lá: Hoje fui visitar o Jardin des Plantes. Um oásis de ar e verde em plena Paris. Nessa época do ano ele nos brinda com uma profusão de flores: São tulipas, miosótis, amores perfeitos e papoulas de todas as cores imagináveis. Aproveitei para finalmente entrar no Museu Nacional de História Natural e fiquei encantado com a Grande Galerie de l'Évolution, onde uma parada de bichos empalhados parece desfilar aos olhos da plateia. Lembra muito a história da arca de Noé... Logo que cheguei em Paris nos anos noventa, fiquei hospedado em um hotel na rue Pascal, até encontrar um apartamento. Esta rua fica nas imediações, assim como a famosa Rue Moufftard, que aproveitei para rever e acabei almoçando no simpático Verre à Pied, onde tinha estado com meu amigo Sergio Lulkin da última vez que aqui viemos. E nesse ver, rever, descobrir e redescobrir, Paris se me revela cada vez mais cativante. Claro que sempre acabo voltando para casa a pé e assim descubro mais e mais coisas, lugares, pessoas. E foi assim que finalizei o dia no Café Livres, um aconchegante bar/café/restaurante que possui grandes estantes com muitos livros à disposição dos clientes que desejarem ler enquanto estiverem por lá. Mas, pelo que percebi, a maioria quer mesmo é conversar, ver e ser visto. Recomendo.
Nas fotos, as flores do Jardin des Plantes, a parada dos bichos na Grande Galerie de l'Évolution e o simpático Verre à Pied, na Rue Moufftard.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

INESPERADAMENTE PARIS...

Me sento à mesa de um café na Place du Tertre, em Montmartre, para fazer hora para ir ao teatro, que fica na Rue des Abesses, logo abaixo. Cheio de expectativas para ver o solo de um comediante que mistura magia e teatro em um espetáculo sem uma só palavra. Tenho feito e visto muitas coisas desde que cheguei em Paris. Por exemplo, a montagem de Sonho de Uma Noite de Verão, da Comédie-Française, com encenação despojada, focada na performance dos atores. A interessante exposição sobre Édith Piaf, na Biblioteca Nacional da França: Bastante rica em termos de documentação, deixa a desejar em figurinos (apenas um!) e objetos pessoais. Mas me diverti muito no inusitado karaokê em que além de cantar os hits de Piaf, você pode registrá-los e eles os enviam por e-mail. Minha interpretação de Non, Je Ne Regrette Rien foi bastante aplaudida por um casal de dinamarqueses que me assistia... Tenho estado em lugares onde nunca estive e feito coisas que nunca fiz antes. Como a Passage de la Voute, com o charmoso arco em forma de gato, que homenageia Charles Trenet. E o charme vintage do restaurante Chartier, que serve a boa comida francesa a preços baixos. Sem falar no inesquecível couscous marroquino no Bistrot Le Petit Monac. E assim sucedem-se os dias, como devem ser: Plenos de aprendizado e descobertas. Com muito prazer. Agora que me sento para postar esse texto já assisti ao espetáculo que fazia hora para assistir: Hallo, de Martin Zimmermann. Uma interessante proposta de linguagem e de dramaturgia. Sozinho em cena ele desafia a lógica numa surpreendente contracenação com a cenografia. Do riso à reflexão. Poesia e absurdo.
Nas fotos, cartaz na exposição de Piaf, a fachada do Chartier e menina posando para artista na Place du Tertre.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

AUJOURD'HUI C'EST MON ANNIVERSAIRE

Hoje é o meu aniversário, diz o título do post em francês. Esse também é o título de um espetáculo de Tadeusz Kantor a que assisti aqui em Paris nos anos noventa. Sim, estou passando meu aniversário em Paris, graças a Deus! Há muito tempo planejava fazê-lo, mas alguma coisa sempre me impedia. No ano de 2010, por exemplo, já estava com a passagem comprada quando aquele vulcão lá da Islândia entrou em erupção e o espaço aéreo europeu foi fechado. Minha viagem acabou sendo adiada em duas semanas e meu aniversário foi no Brasil mesmo...Paris será para sempre Paris: A mais bela cidade do mundo. Assim canta Zaz em seu novo álbum e assim é. Sem vir há quase dois anos, a reencontro em plena forma. Uma primavera de dias e noites belíssimos, nem muito frios, nem muito quentes, com temperaturas variando entre 10 e 20 graus. Perfeito para perambular pelas ruas no melhor estilo flaneur... Chego devagar, percorrendo ruas e lugares, revendo memórias, antigas lembranças... Estou finalmente passando o dia dos meus anos aqui e não pretendo fazer nada de especial, a não ser comemorar, o que, em si, já será especial sendo em Paris. Meu presente já está comprado: Um ingresso para assistir ao espetáculo Antígona, de Sófocles, protagonizado por ninguém menos que Juliette Binoche... Mas isso será no domingo, dia 3 de maio. Hoje vou tomar champagne e brindar à alegria de viver. Me deixar levar pela cidade, como gosto de fazer. Felizmente, Paris sempre me leva aos mais belos lugares. E esse meu aniversário de cinquenta e dois anos será para sempre inesquecível. Joyeux anniversaire pour moi!
Na foto, os atores da Comédie-Française recebem os aplausos do público após a apresentação de Sonho de Uma Noite de Verão, a que assisti ontem.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

GAULTIER NO GRAND PALAIS

A exposição de Jean Paul Gaultier no Grand Palais é o máximo. O Grand Palais, em si, já é o máximo. E Jean Paul, então, nem se fala. É uma exposição grande, lá pelas tantas me senti cansado de ver tanta roupa exposta. Imagino que para quem trabalha diretamente com a moda, deva ser maravilhoso. Como seria para mim, por exemplo, visitar a exposição de um grande encenador de teatro. Mas aí é que está: Jean Paul não faz apenas moda, apenas roupa: As suas criações são obras de arte, verdadeiras esculturas feitas em tecido, plástico, fitas ou o que for que lhe caia às mãos. Os manequins impressionam com expressões faciais animadas, que piscam, fazem caretas e até falam. Chamado de enfant terrible da moda, ele mexeu com as estruturas do estabelecido como padrão de alta costura, assim como o fez Mademoiselle Chanel, anos antes. E o resultado é apaixonante, como bem o atestaram Madonna, Catherine Deneuve, Pierre et Gilles e tantas outras personalidades do show bizz. Os figurinos que fez para o cinema foram os que mais me impressionaram, como os de O Quinto Elemento e os incriveis modelos usados por Victoria Abril em Kika, de Almodovar. E, claro, todo o figurino da turnê Blond Ambition da eterna musa Madonna. Eu detesto fotografar exposições, acho de uma cafonice inconcebível, ainda mais se tratando de moda. Mas juro que dessa vez não resisti. O resultado você confere nas fotos acima: Gaultier na entrada do Grand Palais, figurino de La Mala Educación para Gael Garcia Bernal e Miss Winehouse pour JPG.

sábado, 18 de abril de 2015

VIAJANTE COMPULSIVO

Quem já se deu o trabalho de ler meu perfil aqui no blog viu que lá eu me defino, entre outras coisas, como um viajante compulsivo. O que é a mais pura verdade. Viajar é sem dúvida uma das coisas que mais gosto de fazer na vida. Se não for a que mais gosto. Desde que completei cinquenta anos tenho passado meus aniversários viajando. Os dois últimos passei em Florianópolis, cidade que amo desde a minha juventude. Mas esse ano, felizmente, vou realizar a proeza de passar o dia dos meus anos em Paris. Sim, Paris! A minha cidade amada, que há dois anos não visito. A minha Paris, dos meus vinte e poucos anos, esse caso de amor mal resolvido que vive em algum canto da minha imaginação. Ou bem resolvido pois, afinal, a gente tem se visto regularmente desde 2007. O fato é que já estou completamente alterado. Viajo na segunda, dia 20, mas a mala já está aberta em cima da cama desde o começo dessa semana, cheia de roupas empilhadas em volta, esperando pela triagem final. Desta vez ficarei menos tempo, quase um mês: Vinte e sete dias, para ser exato. Mas já anotei tantas coisas que quero fazer por lá, que talvez nem dê tempo para tudo. Melhor, assim sempre tenho desculpas para voltar. Pelo que tenho acompanhado na internet, a primavera já explodiu em flores, cores e sol. Preciso pedir mais? Prometo novidades quase diárias. Dependendo do tempo que eu resolver dedicar à escrita. Au revoir à tous!
Na foto, flores da primavera de 2010 em Paris.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

ELIS EM TRÊS SHOWS

Muito já falei aqui no blog do quanto sempre fui fã de Elis Regina. Pois apesar de ser seu grande fã, só tive a oportunidade de assistir a três shows da Pimentinha. O primeiro deles foi Elis, Essa Mulher. Estávamos no ano de 1979 e eu tinha apenas dezesseis aninhos. O show aconteceu no histórico e saudoso Teatro Leopoldina, em Porto Alegre, cidade onde eu vivia na ocasião. Eu adorava o álbum Transversal do Tempo, o primeiro LP de Elis que conheci. Quando chegaram à cidade os cartazes e todo o material de divulgação de Essa Mulher, eu achei que ela tivesse encaretado, pois aparecia como uma finíssima dama de sociedade, os longos cabelos adornados por uma orquídea. Eu vivia minha fase bicho-grilo, cabelo comprido, alpargatas e um bornal de lona à tiracolo. Lembro até hoje da minha surpresa assim que vi Elis entrar em cena: Ela era uma louca! Alegre, serelepe e em nada correspondia à sofisticada dama do cartaz. Cartaz que guardo até hoje enquadrado na parede da minha casa. Ela usava uma espécie de macacão, ou conjunto de calça e blusa e, nos pés, um anabela de salto altíssimo todo dividido em camadas coloridas. O mesmo que apareceu nas fotos do encarte de seu último LP de estúdio, Elis, de 1980. Nesse maravilhoso espetáculo ela me levou do riso às lágrimas. Cheio de coragem, fui até o camarim e depois de longa espera Elis recebeu a mim e à uma senhora que pacientemente esperava ao meu lado. Trocamos algumas palavras, falei de uma colega minha que era filha de um antigo amigo seu, jogador do Grêmio. Ela foi uma fofa e me deu um autógrafo que guardo até hoje como um dos meus tesouros afetivos. Eu vivia no Teatro Leopoldina, ia a quase todos os shows que por lá passavam e invariavelmente os fotografava. Mas, por um inexplicável lapso de memória, não consigo lembrar por que cargas d'água eu estava sem minha câmera logo nesse show tão especial para mim. O que ficou foi somente o autógrafo, escrito em um livrinho de cordel que ganhei no show de Zé Ramalho, o único papel que eu tinha na bolsa... O segundo show de Elis a que assisti foi Saudade do Brasil, em 1980, no Canecão, no Rio de Janeiro. Fui passar o feriado de Páscoa na Cidade Maravilhosa, pois minha irmã Raquél estava morando lá. Mais do que apenas um show, Saudade do Brasil era uma espécie de musical, com um grande elenco de atores bailarinos acompanhando Elis em cena, sob a batuta de Marika Gidali. Fiquei bastante impressionado e o guardo até hoje na lembrança como o melhor show de música a que jamais assisti. Dessa vez estava com minha Olimpus Trip 35 e fui até a beira do palco para fotografá-la. Consegui fazer apenas duas fotos antes de um segurança chegar e me advertir para parar sob pena de me confiscar a câmera. Vinte e cinco anos depois, já no auge do sucesso da Terça Insana, fui me apresentar no mesmo palco do Canecão onde vi Elis cantar e foi com muita emoção que me sentei no canto do palco onde ela sentava para cantar Canção da América... O terceiro e último show foi Trem Azul, justamente o derradeiro show da Pimentinha. Esse eu assisti em Porto Alegre, no Ginásio Gigantinho. Muito grande e inadequado para a apresentação, o ginásio prejudicou bastante o show, que, mesmo assim, foi inesquecível. Elis, vestida com tirador, boleadeira e botas, como uma gaúcha tradicional, deitava e rolava rindo, tirando sarro da televisão e arrasando nas performances de Se Eu Quiser Falar Com Deus e Flora, ambas de Gilberto Gil. Também não pude fotografar devido à distância que meu lugar na arquibancada ficava do palco. Poucos meses depois dessa apresentação Elis nos deixaria. Mas seus três shows ficaram na minha memória para sempre. Acho que já contei todas essas histórias aqui no blog. Mas a leitura de Nada Será Como Antes, de Julio Maria, me trouxe todas essas lembranças de volta e senti enorme vontade de compartilhar.
Nas fotos, o autógrafo que ganhei no show Essa Mulher e as duas fotos de Saudade do Brasil.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

ABRIL A MIL

Peço perdão aos leitores do blog por estar escrevendo tão pouco. Abril já conta nove dias e até agora só publiquei um texto. Mas também não foi um texto qualquer: Um primeiro de abril com Caio Fernando Abreu em Paris não é para qualquer um. Pois é: Paris. Sempre ela. Acontece que no próximo dia 20 embarco rumo à Cidade Luz, onde passarei meu aniversário (uhuuu!!) e mais uns dias matando a saudade. De modo que já estou em estado de "malas prontas", sabe como é? A cabeça já está lá, apesar de o corpo ter de ficar por aqui cumprindo os dias e compromissos que faltam. E o mês de abril entrou mesmo voando. Voltei de Salvador em plena Semana Santa, que foi pródiga em bacalhau, ceviches e casquinhas de siri chez minha amiga Rosana Silveira. Batendo pernas pelo centro da cidade aproveitei para visitar o Edifício Martinelli, belíssima construção aberta à visitação pública. Seu terraço com vista de trezentos e sessenta graus da Pauliceia é de tirar o fôlego. Depois, chopp com empadinhas de camarão no Café Girondino e almoço macrobiótico no excelente Satori, na Liberdade. Somado a tudo isso, a leitura da biografia de Elis Regina, Nada Será Como Antes, de Julio Maria, com incríveis revelações que me fizeram reviver todas as minhas memórias e saudades da Pimentinha. Como se fosse pouco, ainda teve as aulas emergenciais de canto com Cida Moreira, como preparação para a audição que fiz com José Possi Neto e Fernanda Chama para o musical Antes Tarde do que Nunca, versão brasileira de Miguel Falabella para Nice Work If You Can Get It, sucesso da Broadway. Acho que nem passei. Mas fiquei tão lisonjeado de ter sido chamado para o teste, e gostei tanto de ter feito, que resolvi me exibir um pouco por aqui... Por enquanto é isso, dentro de duas semanas prometo muitos posts direto da Ville Lumière. E, antes de viajar, um post especial sobre Elis, contando dos três shows a que assisti. Gros bisous!
Nas fotos, vista parcial do terraço do Martinelli, painel de Emiliano Di Cavalcanti em um prédio do Centro e Elis Regina Carvalho Costa, a saudosa Pimentinha.

quarta-feira, 1 de abril de 2015

UN APRÈS-MIDI AVEC CAIO

A primeira vez que vi Caio Fernando Abreu pessoalmente ficou registrada em minha memória como uma imagem raríssima e ao mesmo tempo banal: Fui encontrá-lo na casa de seu amigo Carlinhos, onde ele estava hospedado, em Paris, no ano de 1991. O dia, primeiro de abril. Quando o dono da casa abriu a porta para me receber, dali mesmo avistei Caio sentado à mesa da cozinha amassando uns grãos de feijão em uma caneca "para engrossar o caldo", como ele mesmo me diria instantes depois. Coisa que desde então venho fazendo sempre que cozinho feijão. Menos de uma hora depois da minha chegada já caminhávamos agradavelmente por Paris, eu e ele, conversando, nos conhecendo, a descobrir afinidades e a contar histórias um para o outro. Carlinhos morava no dix-huitième arrondissement, perto da estação Marcadet-Poissonniers do metro, e foi pelas imediações que nos mantivemos. Depois de caminharmos um tempo, nos sentamos no banco de um jardim. Lá ficamos um bom par de horas até que ele me convidou para bebermos algo em um café que costumava frequentar. Acho que bebemos conhaque. Ou cerveja de pressão. O fato é que eu estava encantado com tudo o que escutava o meu escritor preferido dizer. Não acreditava muito que aquilo tudo estivesse de fato acontecendo. Imagine, um jovem de vinte e poucos anos que já estava deslumbrado por estar morando em Paris, de repente se ver assim, frente a frente com alguém que até então só pertencia às suas fantasias mais improváveis... Caio era não apenas adorável e interessante, mas também demonstrava estar interessado no que eu tinha a dizer. Falamos de tudo, mas eu, sempre que possível, puxava o assunto para os seus livros, que tanto haviam marcado minha juventude. Foi uma tarde inesquecível. Na semana seguinte tornamos a nos encontrar. Dessa vez ele foi à minha casa, jantamos e depois saímos para beber. Levei-o ao bar que eu costumava frequentar e que frequento até hoje quando estou em Paris: O Duplex. Como ficou tarde para ele voltar, acabou dormindo chez moi. Depois disso ele voltou para o Brasil e só nos reencontramos em 1992, quando fui para o Rio de Janeiro trabalhar como assistente de direção de Luiz Arthur Nunes, nosso amigo em comum que foi o responsável pela nossa aproximação. Não tenho nenhuma foto desses encontros! Pode parecer estranho aos olhos da nossa atualidade "selfie", quando absolutamente tudo é fotografado o tempo todo. Mas, à época, estávamos bem mais interessados em viver o momento do que em registrá-lo. Serei eternamente grato ao Luiz Arthur por esse inesquecível presente. E a história, apesar de ter se passado em um primeiro de abril, é absolutamente real...
Na foto, a estação Marcadet-Poissonniers do metro.