segunda-feira, 27 de outubro de 2014
TAXI
Saiu da boate entre bocejos, tragadas e goles. Foi o tempo de atravessar a rua, acenar e entrar no taxi que passava. Livre, graças a Deus. Percebeu pelo luminoso aceso em cima do carro. Afundou no banco traseiro enquanto dava a direção a seguir. Quando o taxi cruzou a Paulista de ponta a ponta, do Paraíso até a Consolação, o relógio digital no alto do Conjunto Nacional marcava quase quatro horas da manhã. Vinda do rádio, a voz de Baby Consuelo soava como uma última possibilidade de esperança: Eu queria tanto encontrar você... Olhando as pessoas que passavam a pé pela avenida era fácil distinguir quem estava saindo de casa para trabalhar de quem voltava pra casa depois de uma noite de festa, dança, bebida, incontáveis cigarros e interminável busca. Cai, cai aqui na minha mão. Eu não vou deixar cair, não... Na memória da retina as luzes ainda piscavam fortes e na cabeça, pulsava retumbante a batida da música eletrônica, remixando o auê com você de Baby Consuelo. Do Brasil, lembrou num esgar. Consuelo era tão melhor... Os últimos goles da última cerveja antes de pagar e descer do táxi em frente ao hotel. Só nos filmes as pessoas descem primeiro do taxi e pagam depois, pensou. Ou lembrou, como em um flash. O motorista arrancou e ele, parado à porta do hotel, ainda escutou, vindo do rádio do taxi que se afastava: Você voa no céu feito gaivota. Você é um passarinho... Deitado sozinho em seu quarto de hotel, olhava pro teto quando pensou: Isso já foi há tanto tempo. A boate da Brigadeiro nem existe mais. Como era mesmo o nome? Diesel? Base? Deixa pra lá...
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