sábado, 13 de setembro de 2014

TIAS AVÓS

Acho que já contei aqui no blog que minha mãe foi criada pelos avós. Portanto, considerava seus tios e tias como irmãos. Logo, do lado materno, eu tinha somente tios e tias. Minhas três tias avós, que eu considerava como tias, eram: Tia Jecyra, Tia Cenyra e Tia Cecy. Todas com ipsilon, assim como minha mãe Doracy. Muito phynas elas... Tia Jecyra morava em Espumoso, cidade onde na verdade nasci, mas fica só entre nós, pois meu pai me registrou como nascido em Soledade e serei um soledadense até morrer. Embora eu desconfie que minha paixão por espumantes venha daí... Pois eu adorava ir a Espumoso visitar essa tia que tinha um acordeon e me deixava tocar. A casa da Tia Jecyra era cor de rosa. Seu marido, Tio Sereno, gostava de sair para caçadas e, quando voltava, nos convidava a comer perdizes assadas, o que se tornava uma grande festa com enormes mesas cheias de parentes na garagem. O banheiro da casa da tia Jecyra era todo preto e rosa. Os azulejos e o piso eram pretos e as louças, cor de rosa. Achava aquilo o máximo, muito, mas muito antes de sequer ter ouvido falar em casa cor... Tia Cecy morava em São Leopoldo e, sempre que tia Jecyra ia visitá-la, passava por Soledade e me levava com ela. Viajávamos na Rural Williys do Tio Sereno e eu, obviamente, ia sentado no banco da frente, junto com minha tia, todos devidamente sem cinto de segurança. A casa da Tia Cecy era divertidíssima, tinha um atelier de costura, ela fazia vestidos de festa dignos de Denner. Lá tinha também minha prima adotiva Verinha que já na época era gay assumidérrima e cantava e tocava violão. Adorava ouvi-la cantar os sucessos Rain and Tears e Marie Jouli, de Demis Roussos... Tia Cecy era casada com Tio Cantídio, de quem já muito falei por aqui. Principalmente por ele ter sido a pessoa responsável por despertar e incentivar em mim o gosto pela leitura. Uma ocasião estávamos todos à mesa almoçando e o Fabinho, neto da Tia Cecy, que na época devia ter uns quatro aninhos, aproveitando uma brecha na conversa, disparou: Dona Marieta caiu na valeta rasgou a buceta e costurou com linha preta! Bem antes dele chegar na buceta um silêncio constrangedor se formou e só foi quebrado, com alívio, quando Tia Cecy explodiu em sonora gargalhada, no que foi seguida por todos... Depois de viúva Tia Cecy se mudou para Florianópolis. Quando fui me apresentar pela primeira vez na capital catarinense com a Terça Insana, fui às lágrimas quando, ao espiar o público por uma fresta da cortina antes de o espetáculo começar, vi minha tia já bem velhinha, com mais de noventa anos, sentada numa das primeiras fileiras... Tia Cenyra, das três, era a que eu tinha menos afinidade, pois quase nunca a via. Ela morava em Porto Alegre e tinha uma renca de filhas! Nem lembro quantas. Seu marido, Tio Claudio, fabricava aeromodelos e tinha uma oficina em casa para confeccioná-los. Era bem bacana ficar horas bisbilhotando por lá, nas poucas vezes que estive em sua casa. Pobre Tia Cenyra, teve uma morte trágica, atropelada por um ônibus... As três já se foram, mas deixaram saudades. Nunca vou esquecer que Tia Jecyra, sempre que chegava na nossa casa para uma visita, me beijava dizendo: Oi, meu amor! E cochichava: Sirva um uísque do teu pai pra tia... Sem gelo! Adorável...
Na foto, Tia Cenyra pagando de pin-up à beira-rio...

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