Esse é o nome da pousada onde estamos hospedados aqui na praia de Canoa Quebrada. Fico me perguntando como pode a lua ser morena mas, obviamente, não encontro resposta. Coisas do Ceará. Desde que cheguei no estado tenho me feito várias perguntas. Como, por exemplo, o que leva uma pessoa a pintar um Romero Brito sem ser ele próprio. É que artistas locais passam na praia vendendo telas que reproduzem obras desse pintor. Aliás, aqui vale perguntar também o que leva uma pessoa a pintar um Romero Brito mesmo sendo o próprio... Mas a beleza que nos cerca é inebriante. A pousada fica no alto do penhasco de frente para o mar aberto. Logo ao lado verdadeiras muralhas de falésias recortam-se contrastando sua cor avermelhada com o azul do céu e do mar. O sol nasce das águas em frente ao nosso bangalô. Tomamos café da manhã no terraço da piscina que também fica de frente para o mar, como todo o resto. Às quatro horas da tarde há um verdadeiro engarrafamento de para-pentes no céu. Hoje pela manhã, na praia, um deles fez um vôo razante e tocou minha mão com a dele, giving me five... E os dias se sucedem entre nasceres e pores de sol, noites estreladas e passeios sem fim. Dizem que aqui só existem duas estações: Verão com vento e verão sem vento. Estamos no verão com vento e está perfeito. Nem consigo imaginar como seja o sem. Canoa Quebrada, diga-se, também está perfeita. Imagine consertada...
Na foto, o sol nasce em frente à minha humilde residência.
quarta-feira, 30 de julho de 2014
segunda-feira, 21 de julho de 2014
LAILA, A MUSICAL
De tempos em tempos sou surpreendido por um artista de muito talento que se destaca no mar de obviedades e repetições em que navegam as artes cênicas nacionais. No último fim de semana fui, muito receoso e com dois pés atrás, assistir ao espetáculo Elis, A Musical. Sou daqueles fãs empedernidos de Elis Regina, dos que choraram muito na sua morte e continuam cultuando sua estrela até hoje. Mas tão empedernido que me recusei até mesmo a assistir sua filha Maria Rita cantando seu repertório. Assim mesmo, fui. Achando que iria detestar e que esse seria mais um show de imitações, com atores representando arremedos grosseiros e caricatos de artistas de renome. Mais um na onda de shows de covers que assola o "musical" brasileiro (aspas intencionalíssimas). Me enganei redondamente, graças a Deus! Esse não é o caso do excelente Elis, A Musical, em cartaz no Teatro Alfa, em São Paulo, um espetáculo de refinado bom gosto. Luz, direção, roteiro, o espetáculo começa e todas as figuras são assim: Desenhos de luz, agrupamentos de pontos, de partículas, um quadro de impulsos, um processamento de sinais. Mas no meio de tudo se destaca o talento excepcional da protagonista Laila Garin. Laila não imita, ela cria a sua própria Elis com sensibilidade e competência. E quando canta, cai dentro, malandro! (para citar a Pimentinha). Que deleite assistir à apaixonante performance dessa excelente atriz e cantora. Laila brilha com luz própria e não por cantar Elis com perfeição. Às vezes sua voz nem soa parecida com a da Pimentinha, mas é tão bom de se ouvir, que nem precisa. Laila é um passarinho, um canário, o sabiá de Tom Jobim. Soube por um amigo da produção que o espetáculo irá se apresentar em Porto Alegre. Espero que os gaúchos a recebam com a reverência que ela merece. Uma forma nebulosa feita de luz e sombra. Como uma estrela. Laila é uma estrela.
terça-feira, 15 de julho de 2014
LIVROS
Tenho um relação bastante estreita com esses objetos, se é que assim se pode chamá-los. Desde a mais tenra idade, Lobato, Éxupéry, Druon, Veríssimo, Alencar. Até uma idade bastante avançada, vivia bem mais através deles do que da vida em si, a dita real. Com o tempo os fui acumulando, enchendo estantes, armários, gavetas, prateleiras. Hoje penso que devem ser passados adiante. Depoi que os leio, guardo por um certo tempo e então os doo. Do verbo doar. Não doer. A doação deve ser feita sem dor. Com amor, de coração aberto. E desejando as melhores transformações possíveis nas vidas de quem os ler. É claro que nem tudo pode ser doado. Clarices, por exemplo, jamais. Irão todos comigo para a fogueira. Um Gabeira autografado aqui, um ou outro Mario Quintana acolá, toda regra tem suas exceções. Do mais, desapeguei. Admiro meu amigo Odilon que os abandona em locais públicos para que outras pessoas os encontrem e leiam. Eu os doo para uma instituição que faz bazares com eles e usa a renda para ajudar crianças doentes. Adoro a ideia de que viajem, circulem, transmitam seus conteúdos, suas ideias, inspirações nos mais diversos lugares, cidades, países. Os virtuais não me seduzem. Prefiro, como cantou Caetano, "amá-los do amor táctil que votamos aos maços de cigarros. Domá-los, cultivá-los em aquários. Em estantes, gaiolas, em fogueiras. Ou lançá-los para fora das janelas". Deixando espaços livres para que novos livros venham preenchê-los. Nas fotos, o autógrafo do "colega e amigo" Quintana e o meu preferido desde sempre A Descoberta do Mundo, de Clarice.
segunda-feira, 7 de julho de 2014
COM TEATRO É MELHOR
A vida com teatro é muito melhor. Ainda que os espetáculos sejam longos, cansativos, lentos, arrastados, mal feitos ou até mesmo sem graça quando deveriam ser engraçados. Mesmo o mau teatro é melhor do que nenhum teatro. Digo isso porque, nos últimos dias, assisti a uma verdadeira maratona de espetáculos de teatro. Meu amigo Odilon Henriques, que mora em Salvador, veio passar uma semana comigo e, durante esse tempo, assistimos a seis espetáculos. Dos mais variados estilos, propósitos e qualidades. Vimos do musical ao drama psicológico, passando pela comédia, pelo poético, pelo absurdo, pela memória, enfim, um leque de possibilidades de dramaturgia. Rimos muito, inclusive quando não era para rir, nos emocionamos, nos divertimos, ficamos constrangidos e até choramos. Como em Salvador não há muitas opções, quando vem a São Paulo meu amigo faz questão de ir ao teatro todos os dias. Ele já morou aqui e costumava ser meu parceiro mais frequente nas plateias. E realmente tem coisas que só ele para assistir comigo. Sim, gostamos até mesmo do trash... De tudo a que assistimos, há dois espetáculos que considero imperdíveis e aproveito para recomendar: O primeiro é o belíssimo Ou Você Poderia Me Beijar, que acompanha o relacionamento de um casal gay ao longo de décadas, e o segundo é Quem Tem Medo de Virginia Woolf, de Edward Albee, com a brilhante interpretação de Zezé Polessa. Hoje meu amigo voltou para sua casa na Bahia e me deixou com a agradável impressão de que a vida, com bastante teatro, é de fato muito melhor... Na foto, Zezé Polessa bebe todas como a irascível Martha, de Quem Tem Medo de Virginia Woolf.
quinta-feira, 3 de julho de 2014
A ÓPERA DA LUA
Quarta-feira, 02 de julho de 2014, uma tarde verão em pleno inverno de São Paulo. Vou com meu amigo Odilon Henriques, que mora em Salvador e está passando comigo uma semana de suas férias, ao bairro da Barra Funda para visitar A Ópera da Lua, a mais recente exposição dos artistas Otávio e Gustavo Pandolfo, internacionalmente conhecidos como Os Gêmeos. Passamos a porta de entrada. O calor, o trânsito, o cansaço do longo dia batendo pernas pela capital, o banho vencido, as angústias, tristezas, inquietações, ansiedades, inseguranças, desassossegos, tudo fica do lado de fora e é imediatamente substituído pelo mais puro lirismo. Poesia visual. Seres amarelos vestidos das mais variadas estampas. Listras. Poás. Paetês. De repente, novos universos nos são propostos e facilmente somos levados por eles. Por aqui. Por ali. Espia aqui. Entra ali também. Olha lá no alto! Gente, muita gente circula entre as obras, os espaços, instalações. Mais do que contemplar as obras, parecem todos interessadíssimos em fotografá-las. Usam a exposição como cenário para seus clics que, claro, serão postados nas redes sociais. Por um momento quase desisto, deixo para voltar em um dia mais calmo. Quando do nada sou fisgado por uma imagem que me paralisa. De súbito, fico todo arrepiado e choro ao tentar comentar com meu amigo. No alto de um farol, um homem dorme sob a luz do luar. O farol é pequeno, o homenzinho deitado sobre ele é ainda muito menor e o resto é mar banhado pela luz da lua. Vou me afastando e percebo que essa belíssima imagem, da qual jamais esquecerei, está pintada sobre uma velha porta, com os buracos onde ficava a fechadura ali expostos também, fazendo parte da obra e acrescentando a ela ainda mais poesia. Que bom. Muito obrigado. De repente, no meio da tarde, sou feliz outra vez. Mesmo que para depois, saindo desse universo mágico, o calor, o trânsito, o banho vencido, as angústias, tristezas, inquietações, ansiedades, inseguranças e desassossegos me acompanhem de volta pra casa para sonhar com a lua banhando o mar sobre o farol. Ao som da ópera de Otávio e Gustavo. Imperdível. Até 16 de agosto no Galpão Fortes Vilaça. Vai! Na foto, cedo à interação proposta pela dupla.
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