terça-feira, 28 de janeiro de 2014

PEIXE URBANO

Navego sem rumo em um mar de letreiros, faixas, cartazes, anúncios, pixações. Compro ouro. Trago a pessoa amada de volta em três semanas. Vendo apto. Alugo sala comercial. Quer emagrecer? Pergunte-me como. Faço amarração do amor. Engulo o seu leitinho. Leve seis e pague cinco. Mais amor em SP. Cidade cinza. Quanto ganha um vereador? Quanto ganha um professor? Só atravesse no verde. Empalho cadeiras e móveis em geral. Desculpem o transtorno. Estamos trabalhando para melhor atendê-los. Aos domingos ciclo-faixa nessa via. Proibida a entrada de animais. Seu amiguinho vai ter que esperar aqui. Eu sou penta. Deus é fiel. Faça seu evento com a gente. Entregue seu veículo ao manobrista. Solicite orçamento. Pai Isake faz e desfaz qualquer trabalho. Sob nova direção. Pagamento pós-resultado. Compro milhas. Foi multado? Antes de entrar no elevador verifique se o mesmo está parado nesse andar. Não verifico. Súbito, sou engolido por um fosso de informações que me leva de volta ao mar de concreto do começo: Compro ouro. Trago a pessoa amada de volta em... Na foto, grafitti d'Osgemeos.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

DIA DE CINEMA

Ontem eu tive um dia de cinema! Não que eu tenha passado horas em uma banheira de espuma, tomando champagne ao som de um quarteto de cordas. Nada disso. Ontem eu literalmente tive um dia de cinema: Fiz uma participação no longa de Ana Muilaert. Foi uma participação pequena, apenas uma cena, mas para mim foi de extrema importância por dois motivos: Primeiro, porque foi a minha estreia no cinema. Com quase trinta anos de carreira no teatro, eu ainda não havia tido o prazer de representar para a grande tela. Fiz há alguns anos uma participação em um telefilme da TV Cultura. Mas telefilme para mim não é cinema. E segundo porque filmei ao lado de uma das minhas maiores referências profissionais desde sempre: Regina Casé. Lembro que quando comecei a dar as primeiras entrevistas sobre a Terça Insana, a pergunta recorrente era: Quem te influencia? Quais as suas referências no humor? A maioria dos meus colegas citava Monty Python. Eu sempre citei Regina Casé. Um dos meus maiores sonhos sempre foi trabalhar com ela. Admiro-a profundamente não apenas por ser uma excelente atriz cômica e dramática. Mas também por ser a realizadora que é. Seus programas sempre representaram para mim um sopro de renovação e criatividade na TV brasileira. No filme não contracenei diretamente com ela, eu era um repórter entrevistando uma outra personagem e Regina assistia à nossa cena calada. Se eu não fosse o poço de timidez que sou, teria aproveitado os momentos de cortes para abraçá-la, beijá-la e dizer o quanto a admiro. Mas fiquei ali, olhando quietinho para ela, observando sua linda maneira de viver o personagem, trocando sorrisos e algumas sugestões para a cena. O profissional abafou o tiete. O tímido abafou o colega de profissão. Mas creiam, foi uma das coisas mais emocionantes e belas que jamais vivi. Guardarei meu dia de cinema para sempre registrado na memória e no coração... Na foto, recortes que há muito tenho guardados.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

TONIA, PARIS ET MOI

Já mencionei essa história aqui no blog, bem en passant. Mas agora, com a reapresentação de Água Viva, que reacendeu minha paixão por Tonia Carrero, vale a pena contá-la mais detalhadamente. Vivíamos o ano de 1990. Eu estava morando em Paris com minha amiga e colega de faculdade Patricia Cirne Lima. Brasileiros morando no exterior tem o poder de formar verdadeiras máfias. Gaúchos como nós, então, nem se fala. Foi assim que nossa conterrânea Mariana Veríssimo, que à época passava uma temporada com sua família na Cidade Luz, resolveu me apresentar à atriz Tonia Carrero, que estava de férias na capital francesa. Tudo foi combinado para que nos encontrássemos em um bistrô onde elas iriam tomar um drink. Patricia e eu nos arrumamos bem bonitinhos para o esperado encontro e, quando nos dirigíamos ao local, achamos um colchão jogado no lixo. Em Paris é bastante comum as pessoas jogarem o que não querem mais na rua e quem precisa pega e leva pra casa. Pois bem, Pati e eu andávamos muito necessitados de um colchão novo e aquele estava em ótimo estado. Não tinha como deixá-lo ali, dando sopa para o próximo incauto. Só que o dito cujo era muito pesado e foi um verdadeiro enduro conduzi-lo até a nossa humilde residência. A tarefa hercúlea tomou muito mais tempo do que imaginamos e quando chegamos ao local do meu tão esperado encontro, Tonia já havia partido! Oh, dor! Mas a Mari nos esperava com o bilhetinho cuja foto ilustra o post, que a diva gentilmente deixara para mim. Bob, era como as meninas me chamavam na Paris do começo dos noventa. Teria sido lindo te conhecer em Paris. Um abraço da Tonia Carrero. Guardei comigo para sempre... Anos depois, Pati acabou trabalhando como motorista da Tonia na produção de um espetáculo dela em Porto Alegre e ficaram amigas. E eu, até hoje, não tive o privilégio de conhecê-la pessoalmente. Às vezes me pego fazendo elencos imaginários para um possível remake de Água Viva. Mas sempre tenho dificuldade de escalar uma atriz para fazer o papel de Stella Fraga Simpson. Já pensei em Débora Block, Andreia Beltrão, Glória Pires, Patricia Pilar, todas ma-ra-vi-lho-sas. Mas nunca haverá uma mulher como Tonia... A outra foto é do fotógrafo Miro, para a revista Vogue. Tonia está tão deslumbrante que não resisti.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

BOY MAGIA

Bruno é um jovem rapaz morador dos Jardins, em São Paulo. É uma espécie de unanimidade estética para cada nove entre dez mulheres e gays. Grupo esse último no qual se inclui. Ele é o que atualmente se chama de Boy Magia. O correspondente contemporâneo do antigo Deus Grego. Ou o que na Porto Alegre dos anos noventa chamávamos de Lazanha. Mal completou trinta anos e já tem um alto cargo em uma empresa multinacional. Apartamento próprio, de cobertura, onde mora com o atual namorado, o Felipe. Bruno e Felipe são o casal mais desejado e invejado pelas bibas da cidade. Não seria exagero dizer do Brasil, visto que circulam nas festas do sul ao norte. Bruno frequenta a academia todos os dias. Domingos inclusive. Ele não malha, tá? Ele treina. Anota aí: Boy Magia treina. Toma suplementos, proteínas, creatinas, vitaminas e Jack 3D. Já bombou, não bomba mais. Segue uma dieta especialmente preparada pelo seu nutricionista, o Marcos. E rigorosamente controlada pelo seu personal trainer, o Wlad. Além de treinar na academia ele anda de skate, de bike, de roller, nada, faz stand up paddle e slackline. O instagram do Bruno já tem mais de 100 k seguidores. Ele posta selfies diários feitos no espelho do vestiário da academia, no banheiro de casa, no quarto, na sala, no terraço, no elevador, nos hotéis onde se hospeda, na balada, nos restaurantes, nos cinemas, teatros, galerias de arte, museus e shows que frequenta. Seria perfeitamente definido como um abdocentrado. Que é uma derivação do que conhecemos como autocentrado, só que mais voltado para a exibição do próprio abdômen nas redes sociais. Sem camisa, evidentemente. E não tá nem aí para o que as pintosas, as invejosas e as cacuras pensam. É o genro que todas as mães de todas as suas amigas quereriam ter se ele fosse hetero. Seu único defeito, na opinião delas, é justamente esse: Não ser heterossexual. O que fazer, não se pode agradar a gregos e troianos. Quer dizer, pensando bem, o Bruno pode... Na foto, Narciso, obra do artista G Comini.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

GAROTA DE SAMPA

Marisa tem oitenta anos. Mas pensa que tem quarenta. E, evidentemente, não divulga esses quarenta que pensa ter. Diz ter trinta e oito. “Acho que quarenta é uma idade que pesa muito para uma mulher. Eu nunca vou fazer quarenta, Deus me livre”! E ri, entre amigas e taças de champanhe. De fato Marisa não aparenta a idade que tem. Mas daí a aparentar trinta e oito... Ela se sente muito assediada pelos homens, num nível que chega a incomodar. “Que saco, não estou à venda, disponível. Ou pior, como dizem agora, na pista. Tem coisa mais vulgar”? Aceita poucos convites por semana para jantar com pretendentes. “Sair para jantar dá muito trabalho! Tenho que acordar cedo para dar conta de tudo o que preciso fazer para, à noite, estar impecável: Salão, cabelo, maquiagem, sapato, bolsa, vestido, uma infinidade de coisas. Para depois chegar no restaurante e o homem ainda querer rachar a conta? Eu não divido conta. Já gasto uma fortuna para me apresentar decentemente. O homem que pague! Se é assim, prefiro jantar em casa assistindo novela”... Marisa está sempre por dentro de tudo o que acontece na cidade. Social e culturalmente falando. “Não perco nada: Filmes, peças, balés, exposições. Dá trabalho, mas vale a pena. As pessoas acham que eu não faço nada. Imagina! Tenho que pegar o guia toda semana, marcar tudo o que quero assistir, ir pessoalmente com o motorista a todas as bilheterias comprar os ingressos, ufa! Esse negócio de internet não dá certo comigo, não tenho nem e-mail! Gosto de ver a planta da sala de espetáculo para escolher o melhor lugar. Só nessa empreitada já vai quase a minha semana toda. E ainda tenho que deixar espaço na agenda para o spa, a drenagem, a ayurvédica, a depilação, a esfoliação, a manicure, olha, só vendo a loucura que é a minha vida. Sem falar nas benemerências, que isso eu faço mas não fico divulgando”... Por falar em benemerências, seus ex-maridos foram todos generosos com ela e felizmente pode se dar o luxo de não trabalhar. “Com tudo o que eu faço, se ainda fosse trabalhar eu não dormia! Aliás, já durmo pouquíssimo, acho uma perda de tempo. Se não tenho nada para fazer, o que é bem raro, prefiro tomar sol. Adoro! Quando não tem, entro na máquina de bronzeamento. Tenho uma aqui em casa bem maior que essas das clínicas daqui. Mandei vir dos Estados Unidos. Quase tudo meu é de lá”... Essa é Marisa, sobrenome não divulgado por elegância de quem vos escreve. Marisa é uma Garota de Sampa. Na foto, desfile exclusivo para ela na Maison Denner.

sábado, 11 de janeiro de 2014

BOLO NADA À TOA

Ainda no clima coisas que São Paulo tem que só ela: Finalmente fui conhecer a Bolo à Toa, do meu amigo Marcelo Grosso e sua irmã Renata Frioli. Uma pequena loja no bairro de Pinheiros que só vende bolos. Receitas de família. Sabe aquele bolo alto e fofinho, com sabor de infância, que sua mãe, tia ou avó preparavam como ninguém? É disso que se trata. E vou dizer mais: Não é à toa, não. É a custa de muito talento. E muito trabalho, também. Os bolos vem embalados em papel celofane, amarrados com um laço de fita. Lindo para dar de presente. Experimentei o de iogurte com limão e me apaixonei. Vale a pena conferir. A Bolo à Toa fica na rua Padre Carvalho, número 103. Na foto, bolos fresquinhos esperando para serem devorados.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

SOM & COR EM SP

São Paulo tem umas coisas que só ela... Dia desses fomos ao Parque Villa-Lobos para andar de skate, correr, tomar sol e etc. Acabamos nos instalando para o bronzeio em um espaço chamado Ouvillas, um gramado em forma de círculo, como um picadeiro, ao longo do qual há espreguiçadeiras para a gente tomar sol e relaxar justamente ouvindo o próprio Villa. Suas sinfonias são tocadas em varias caixas de som que circundam o gramado formando um grande espaço estereofônico a céu aberto. Chic, não? Pois adorei. Não era nenhuma novidade para mim, eu já sabia que esse lugar existia dentro do parque. Já havia, inclusive, estado inúmeras vêzes lá para andar de bicicleta. Mas o legal da cidade é que mesmo depois de muitos anos morando nela, ela ainda consegue me surpreender. Adoro São Paulo por isso. E também pelos inúmeros grafittis que a colorem. Onde menos se espera, surge uma obra de arte. Ali, na rua, ao alcance de todos. Para a nossa alegria... Prestes a completar quatrocentos e sessenta anos, Sampa se mantém jovem, descolada, cocotte. Ainda que a força da grana que ergue e destrói coisas belas a siga embelezando e enfeiando, acariciando e ferindo-a a um só tempo. Que Deus conserve para sempre desvairada, essa nossa Pauliceia. Na foto, obra do artista Enivo na Avenida Rebouças.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

A GRANDE BELEZA

Mon Dieu! O que dizer do filme A Grande Beleza? Nada. Somente assistir. Por favor, assistam. É dessas coisas pelas quais vale a pena a gente viver. Totalmente Fellini da modernidade. Mais Antonioni e Visconti, tudo junto misturado. E muito bem embalado. Lindo de se ver e de se ouvir. Não conseguia sair do cinema. Até os créditos finais prendem a atenção. Lindo desde o primeiro frame. A girafa, os flamingos. O encontro com Fanny Ardant! Lembrei meu próprio encontro com ela em Paris, já narrado aqui no blog no post GANHEI O DIA. Beleza e vazio irremediavelmente juntos. A vida passando sem parar, uns vivendo, outros morrendo, uns dormindo cedo, outros tarde, uns percebendo a beleza, outros não, uns querendo apenas seguir vivendo, outros querendo sempre mais, mais, mais. Mais o quê? Não sabem. Não sei. Não sabemos. Disse que não havia nada a dizer e olha o quanto já disse. Mas é muito pouco. Leiam as críticas, os críticos sabem dizer mais e melhor sobre essa maravilhosa obra da sétima arte. Deixo aqui o meu encantamento diante de tamanha beleza...

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

COMEÇO

Há dias estou pensando em coisas para dizer nesse primeiro post de 2014. Como o último post do ano passado teve como título FIM, resolvi chamar esse primeiro de começo. E desejo realmente que seja um começo. Um começo de uma nova série de posts. Que eu consiga torná-los cada vez mais interessantes para quem os leia. Vi, fiz e vivi tantas coisas no ano que acabou! Aliás, a passagem de 2013 para 2014 se deu na casa de Cida Moreira e Humberto Vieira, na companhia de quem fiz e vivi uma das coisas mais interessantes do ano passado, o recital brechtiano Cabarecht. Estavam comigo também nessa virada Weidy, meu parceiro de dez anos de amor e cumplicidade, e Edson Cordeiro, grande artista e amigo de quase vinte anos. Muito felizes brindamos na maior paz... Poucos dias antes, quem segue o blog acompanhou, estive em Cananeia, no litoral sul de São Paulo, e em Camburi, no litoral norte. Estar junto ao mar é uma das coisas que mais me inspira e pretendo fazer muito isso no ano que se inicia. No meio do ano fui a Paris, minha cidade do coração que não visitava havia dois anos. Foram trinta dias de calor e prazer estético. Mais não conto... Em 2013 atuei ao lado de Alexandra Golik em Vilcabamba, peça de sua autoria que me deu muita satisfação de participar. Um verdadeiro tour de force que me fez correr muito atrás. Apesar de ter sido vista por pouquíssimas pessoas, um retumbante fracasso, para mim foi uma espécie de superação. Provei para mim mesmo que, aos cinquenta anos, posso dar conta de um espetáculo de uma hora de duração trocando de roupa e personagens sem parar. Haja fôlego! Mas chega de balanço, não quero ficar passando a limpo minha vida para os leitores. Reproduzo a seguir as duas últimas coisas que escrevi em 2013, bem en passant, no meu caderninho de notas, digo, ipad: " Oi? Dia desses, na praia, esperando na fila para tomar uma ducha que tira a areia do corpo, juro que ouvi uma mãe chamando a filha pelo nome de Cauane! Pensei: Ela deve ser fã do Cauã Reymond e pretendia dar o nome do ídolo ao filho. Como veio menina ela colocou um sufixo feminino e resolveu a questão. Mais ou menos como se ela fosse fã do Caio Blat e chamasse a filha de Caiane. Ou, se o ídolo fosse o Reinaldo Gianechinni, ela certamente chamaria a menina de Reynalda... Ah! E o Cauane dela com certeza deve ser escrito assim: Kawanny. Haja... Pior do que esse microshort de renda em camadas que estão usando agora acho que só aqueles tênis com salto anabela embutido que fecha com tiras de velcro. Né? Quer dizer"... E agora, só para encerrar, mais uma no clima retrospecto: Em 2013 estive presente em dois eventos dignos de nota: O lançamento da autobiografia "autorizada" de Alexandre Frota e o seu aniversário de cinquenta anos. E ah! Claro, eu fiz cinquenta anos em 2013. Portanto, trata-se realmente de um começo para mim esse 2014. Para todos nós! Na foto, ocupo casa abandonada na Ilha Comprida, no litoral sul de SP. E encerrando mesmo, but not least, ontem assisti ao documentário Cidade Cinza, sobre os grafiteiros de SP. Não percam!