segunda-feira, 16 de setembro de 2013

OUBLIÉ

Não conseguia lembrar onde foi. Se numa ruazinha estreita de Paris ou em um beco do centro de uma outra cidade qualquer. Talvez tivesse sido em uma praia deserta de algum litoral. No quarto de um antigo hotel. Num boteco com mesas de plástico na calçada. No subsolo de uma loja de departamentos. Ou mesmo nos recônditos labirintos da memória. Talvez em algum sonho daqueles que, de tão detalhados, parecem reais. Fazia os mais incríveis esforços para lembrar. Cheirava roupas, perfumes. Remexia antigos guardados. Quem sabe dentro de um livro. No interior de uma das milhares de latas e caixas que colecionava. No bolso de um casaco de figurino. Num canto da sala, do quarto, da alma. Tentava de tudo: Colocava antigos LPs para tocar na vitrola. No iPad, uma nova cantora francesa cujo timbre lembra Piaf. As mais diversas versões da obra de Kurt Weill. E nada. Nada de lembrar. Mas do que era mesmo que estava querendo lembrar? Já foi. Passou. Melhor esquecer...

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