sexta-feira, 8 de março de 2013

MEDO

O dia ensolarado de calor insuportável se fez noite em plena tarde. Mais precisamente, às três horas. O vento soprou forte, relâmpagos faiscaram, raios riscaram o céu e trovões fizeram a cidade tremer. Eu, sozinho em casa, me vi temeroso e impotente diante da fúria dos elementos. Repetindo o gesto de minha mãe, a cada explosão eu levava as mãos às têmporas e exclamava: Santa Bárbara, São Gerônimo! Quisera ter galhos bentos para queimar em formato de cruz enquanto fazia minhas preces pedindo aos céus que se acalmassem. Lembrei das missas do Domingo de Ramos, que, aliás, se aproxima. Quando íamos à igreja e de lá retornávamos munidos dos santos galhos que nos protegeriam das tempestades. Lembrei de Bethânia, em Pássaro da Manhã: Iansã comanda os ventos e a força dos elementos. Senhora das nuvens de chumbo, senhora do mundo, tempo bom, tempo ruim... Lembrei da peça de Shakespeare, A Tempestade, a que assisti em Paris nos anos noventa, com direção de Peter Brook... Eu havia pensado em um título bem mais poético e popular para esse post, algo como Águas de Março. De repente me dou conta de que não há poesia no meu momento e sim o mais puro e verdadeiro cagaço. Chego à conclusão que mesmo beirando os cinqüenta eu continuo sendo o menino cagão que sempre fui. Minha mãe contava que quando eu era pequeno – leia-se criança, pois pequeno ainda sou – e íamos passar férias na fazenda, eu reclamava, choroso, morrendo de medo de ir brincar no quintal: Mãe, aquele galo tá me olhando! Pobre criança amedrontada que insiste em se esconder dentro de mim. Além de destelhar casas e alagar ruas, as tempestades do verão tem mais essa conseqüência: Despertar o pequeno Robertinho adormecido... Que o mês de março seja leve! Na foto, o clássico de Shakespeare, na visão de Peter Brook.

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