Clichê, eu sei. Mas irresistível: Imagens dizem mais do que palavras. Por isso postei várias fotos e vou dizer pouco. Adorei ter ido assistir, com minha amiga Adriane Mottola, à performance resultante do workshop de quatro dias que reuniu os grupos teatrais Vertigem, de São Paulo, e Falus, de Porto Alegre, na Casa de Cultura Mario Quintana, na última quarta-feira. O evento fazia parte do Palco Giratório, festival promovido pelo Sesc, que vem agitando a capital gaúcha nos últimos dias. Segundo Adriane, que vive e batalha teatro por aqui, essa efervescência toda que senti estar acontecendo na cidade é uma impressão minha causada principalmente por esse festival. Tenho minhas dúvidas, já que várias coisas a que assisti não faziam parte dele. Hoje me despeço da cidade, logo mais à tardinha. Mas levo comigo pra São Paulo essa adorável impressão. Efervescência cultural. Celeiro de talentos. Oportunidade de rever amigos queridos. E essas belas imagens, que já estão salvas na minha memória para sempre. Até breve, Porto Alegre. Je reviendrais tout de suite...
domingo, 29 de maio de 2011
Clichê, eu sei. Mas irresistível: Imagens dizem mais do que palavras. Por isso postei várias fotos e vou dizer pouco. Adorei ter ido assistir, com minha amiga Adriane Mottola, à performance resultante do workshop de quatro dias que reuniu os grupos teatrais Vertigem, de São Paulo, e Falus, de Porto Alegre, na Casa de Cultura Mario Quintana, na última quarta-feira. O evento fazia parte do Palco Giratório, festival promovido pelo Sesc, que vem agitando a capital gaúcha nos últimos dias. Segundo Adriane, que vive e batalha teatro por aqui, essa efervescência toda que senti estar acontecendo na cidade é uma impressão minha causada principalmente por esse festival. Tenho minhas dúvidas, já que várias coisas a que assisti não faziam parte dele. Hoje me despeço da cidade, logo mais à tardinha. Mas levo comigo pra São Paulo essa adorável impressão. Efervescência cultural. Celeiro de talentos. Oportunidade de rever amigos queridos. E essas belas imagens, que já estão salvas na minha memória para sempre. Até breve, Porto Alegre. Je reviendrais tout de suite...
terça-feira, 24 de maio de 2011
Essa semana se comemora, aqui em Porto Alegre, os cinquenta anos de carreira e setenta e cinco de idade de Ivo Bender, o maior dramaturgo gaúcho em atividade. Tive a honra e o prazer de ter sido aluno do Ivo durante quase todo o curso de Artes Cênicas, que fiz aqui mesmo, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Ele foi meu professor em diversas disciplinas. Entre elas, Teatro Grego, sua especialidade. As aulas do Ivo consistiam em ler textos da dramaturgia universal e debatê-los em sala de aula. Era quando ele avaliava o grau de interesse e compreensão dos alunos e, de quebra, nos brindava com sua erudição e genialidade. Tive a felicidade de participar de um seleto grupo de alunos ao qual ele se referia como “a nata da nata”. Só que, além de brilhante professor, Ivo é também dramaturgo. E dos bons. Sua Trilogia Perversa é uma obra prima do quilate de um Ésquilo ou de um Eugene O´Neill. Eu concluí o curso em 1989 e, em seguida, fui morar em Paris, onde tive a oportunidade de conhecer a filmografia de Pedro Almodóvar, de quem, até então, aqui no Brasil, só conhecíamos Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos. Quando voltei para Porto Alegre, em 1992, eu queria ser Almodóvar. Isso me levou a dirigir uma montagem da belíssima Sexta-feira das Paixões, de Ivo, embalada por boleros e emoldurada pelas fortes pinceladas do cenário e figurinos do querido e saudoso Alziro Azevedo. Ivo acompanhou todo o processo de criação, e, empolgado com a minha concepção do texto, batizou-a de Mala Noche, que era o nome do bolero que escolhi para ser o tema da peça. São muitas as lembranças que tenho desse mestre que se tornou um amigo. Lembro dos trabalhos que ele nos dava para fazer em casa e do quanto eu me esmerava para realizá-los à altura da exigência do professor. Ontem tive o prazer de abraçá-lo em noite de homenagem mais do que merecida. Brindamos seu aniversário com espumante e bolo. Como um brinde extra, revi colegas e amigos queridos que não via há muito tempo. Parabéns a Beta Medeiros e Raquel Pilger pela iniciativa da homenagem e, principalmente, parabéns a você, Ivo Bender, nessa data querida. Muitas felicidades e muitos anos de vida!
segunda-feira, 23 de maio de 2011
Desde que cheguei em Porto Alegre, na última quarta-feira, a cidade continua comprovando sua merecida fama de celeiro de talentos. E, por incrível que pareça, a efervescência cultural que vivi aqui nos anos oitenta, continua. Talvez porque eu não more mais aqui e veja a capital gaúcha com olhos de estrangeiro, mas o fato é que tem sempre alguma coisa interessante acontecendo em algum lugar. De pequeno, médio ou grande porte, no mainstream ou no underground. Na quinta-feira fui ao Zélig assistir ao show do Antônio Carlos Falcão cantando músicas de Chico Buarque intercaladas por textos de autores como Shakespeare e João Cabral de Melo Neto ditos pelo cineasta Jorge Furtado em palco-instalação transformado em relicário por Alexandre Fagundes e iluminado por Marga Ferreira, da Claraluz. Fiquei feliz e emocionado quando Falcão me ofereceu Trocando em Miúdos. Belo show em bela moldura. Na sexta, depois de um passeio pela zona sul, com direito a café no Armazém Machry, foi a vez de Vitor Ramil abrilhantar o Theatro São Pedro com seu talento, dando voz e melodia aos poemas de Jorge Luiz Borges e João da Cunha Vargas. Milonga contemporânea. Falando da aldeia para o mundo. No sábado, happy hour prolongado, com meu amigo Paulo Vicente, na Casa de Teatro, do Zé Adão Barbosa. A Casa de Teatro, se por mais não for, tem seu mérito por reunir pessoas interessadas em teatro e artes em geral, tornando-se um centro propagador de idéias e trocas de experiências. Enquanto bebíamos algo no andar térreo, um show acontecia no segundo piso e o Zé nos mostrava as instalações e o acervo de figurinos da Casa. Fomento é pouco: Ebulição. A mais nova revelação da música é também daqui: Filipe Katto. No domingo, depois de mais um passeio pela zona sul, com direito a mais um café no Machry, a peça Dois de Paus: Discussão da relação gay bem ao modo heterossexual. No teatro da Sociedade Israelita, no velho e bom Bom Fim. Hoje tem início a Semana Ivo Bender, justo tributo ao nosso maior dramaturgo vivo. Ivo foi meu professor na faculdade de teatro e estarei logo mais no Centro Municipal de Cultura para homenageá-lo. Eu fui um dos últimos da minha geração a sair de Porto Alegre. Antes de mim já haviam ido para o chamado eixo Rio-SP Grace Gianoukas, Nora Prado, Lúcia Serpa e Ilana Kaplan, entre outros. Mas é interessante constatar que hoje já não é mais uma questão de sobrevivência profissional deixar a cidade. Muitos dos que ficam seguem fazendo sua arte e conseguem viver dela. Como os próprios já citados Falcão e Zé Adão Barbosa. Porto Alegre tem lugares adoráveis de se frequentar como o Dometila Café, cujo proprietário Cleiton recebe os visitantes com uma chuva de pétalas de rosa. Pétalas de rosa também vem nos drinques e pratos que ele serve. E fica de frente para uma bela praça, com mesinhas na calçada. Mas, como tudo tem pelo menos dois lados, o lado mau se manifestou hoje à tarde no ponto de ônibus. Estava eu bem tranquilo esperando um T5, que me levaria ao Menino Deus para almoçar com minha amiga Andresa Espagnolo, quando um carro pára e o sujeito diz: “Pra mim sair na Farrapos eu pego à esquerda”? Fiquei olhando com uma cara neutra, de nada, pensando em coisas como: Bom dia? Por favor? E, antes que eu abrisse a boca para dizer que MIM não sairia na Farrapos pegando à esquerda nem à direita, um senhor ao meu lado respondeu com a informação... Mas isso são detalhes tão pequenos de nós dois, não é Porto Alegre? Tchau.
quinta-feira, 19 de maio de 2011
Quando penso que vou parar quieto em casa, sem fazer nem desfazer nenhuma mala, me vejo na estrada outra vez. É o destino de aventureiro que me chama. É minha inquietação natural. É o desconhecido me atraindo sempre. Quem lê pensa que peguei uma mochila e saí desbravando o sertão do Brasil ou cruzando os oceanos rumo a outros continentes. Nada disso. Apenas vim mais uma vez a Porto Alegre para minhas visitas regulares ao dentista. Melhor, aos dentistas. Que agora são três. Mas, como no mês que vem já embarco para os Estados Unidos e depois para a França, o clima já é totalmente on the road. Principalmente porque viajo embalado pela leitura de Patti Smith e seu deliciosamente beat Só Garotos. Não sei porque esse livro demorou tanto para me cair nas mãos. Mas, felizmente, me foi recomendado por minha amiga Agnes Zuliani. Tenho me fartado, como se fosse da turma e ficasse, junto com Patti e Robert, frequentando os bares e restaurantes onde Andy Warhol e seu entourage eram habitués. Robert, no caso, é o fotógrafo Robert Mapplethorpe, de quem eu já era fã há muito tempo e cujas obras já pude apreciar, se não me engano, numa bienal em São Paulo. Na minha adolescência fui muito influenciado pelo estilo beat de Escritores como Allen Ginsberg, William Burroughs e Jack Kerouak. Patti e Robert eram totalmente beat generation, pré- hippies buscando sua forma de expressão artística em meio a uma profusão de referências estéticas e comportamentais na Nova Iorque dos anos sessenta. Adoro as fotografias de Mapplethorpe, a sua maneira elegante e delicada de transpor a fronteira entre arte e pornografia. Ou provar que não existe tal fronteira. Ao contrário do que o título do livro possa sugerir, o Só Meninos refere-se à pouca idade de Patti e Robert quando viviam suas aventuras na Big Apple. Mas não quero fazer resenha. Apenas transpor para o post o clima dos dias atuais. Ouço muito Stacey Kent e seu Raconte-moi. A lua cheia nos brinda com sua iluminada presença não apenas à noite, mas também pela manhã. E o céu de Porto Alegre segue claro e os dias de outono tem uma luz no mínimo acolhedora. Cheguei ontem à noite e já fui tomar sopa com meu amigo Guto de Castro, comemorando a passagem de seus anos. Guto também é fotógrafo, como Robert. Eu também sou Robert, como o fotógrafo. Ah! E já vivi com Patti, no início dos noventa, em Paris. Era minha roommate Patrícia Wood. E lá se vão vinte anos. Os anos agora passam assim, depressa. Sem avisar. Quando se vê, já passou. Como dizia Dusek, o destino de aventureiro é seu nome num grafitti de banheiro. Coração tatuado em marinheiro, um recado escrito no dinheiro...
Nas fotos, mercadinho na Avenida Protásio Alves e Patti e Robert.
terça-feira, 10 de maio de 2011
RAINHA BERTA
Eu sou daqueles bobos noveleiros, órfãos de Janete Claire e eternos namoradinhos de Regina Duarte. Mas, de uns tempos pra cá, tinha me desiludido um pouco com as tramas televisivas, e, exceto umas espiadinhas aqui e ali, não acompanhava mais novela nenhuma. Mas é claro que isso não durou muito e aqui estou, vibrando a cada capítulo de Cordel Encantado. Adoro tudo: A trama folhetinesca que enreda cordel e conto de fada, o elenco, a época, as locações, o tom farsesco/dramático, tudo mesmo. Mas gosto, especialmente, de Berta Loran. Eu sempre adorei essa atriz que conhecia dos humorísticos de Jô Soares a que cresci assistindo. E agora, no papel da Rainha-Mãe Efigênia de Seráfia, ela está memorável. É a primeira vez que a vejo em um papel “sério”, se é que se pode chamar assim. E hoje ela me levou às lágrimas, bobo que sou, com a descoberta de que sua neta, a princesa Aurora, está mesmo viva como ela intuía desde que a viu pela primeira vez. Quando acabou o capítulo, emocionado fui remexer guardados à procura de uma foto minha com ela. No final dos anos noventa, quando eu ainda fazia parte do Grupo XPTO, participei do especial de Natal da Angélica, na Rede Globo, com direção de Ulisses Cruz e Rogério Gomes. A história se passava em um circo antigo, e nós e todos os convidados éramos palhaços da trupe desse circo. Quase não acreditei no dia em que cheguei no set e vi Berta caracterizada de palhaça, divina, sentada em um recamier. Corri no camarim, peguei minha máquina fotográfica e pedi a uma colega que me fotografasse com ela. Esse trabalho foi maravilhoso, foi toda uma vivência, ficamos uma semana no Rio entre ensaios e gravações, convivendo com pessoas maravilhosas, outras nem tanto e outras nada a ver. Mas uma das melhores lembranças que guardo foi a imagem de Berta no divã. Linda palhaça. E agora linda Rainha. Efigênia é daquelas personagens idosas que dá vontade de levar pra casa, como as que Paulo Autran fazia tão bem no teatro. Longa vida à Rainha. God save the Queen. Queen Berta de Seráfia…
domingo, 8 de maio de 2011
Hoje é o Dia das Mães e não tive como não ficar lembrando o tempo todo da minha, que já não está mais aqui conosco há alguns anos. Agora que não a tenho mais comigo, percebo o quanto ter mãe é uma das coisas mais reconfortantes da vida. É uma relação de pertencimento, de estar ligado intrinsecamente a alguém. Um porto ao qual sempre se volta. Uma referência. Alguém com quem dividir alegrias, vitórias, conquistas e derrotas. E quando se está doente, então? Como é bom ligar pra mãe e ficar choramingando enquanto ela recomenda todas aquelas coisas de sempre que você já sabe de cor...Que vontade de ligar pra minha mãe! Contar como foi meu dia, como está sendo a minha vida sem ela, do quanto, às vezes, me sinto um balão flutuando solto no ar porque lhe cortaram o fio... Às vezes ela me visita em sonho. Nos abraçamos, eu digo: Que bom, mãe, que a senhora voltou! Acordo feliz e ao mesmo tempo engasgado, quase chorando... Vi tanta gente pelas ruas carregando flores, presentes, comidas e bebidas. Umas saindo com a mãe pra almoçar, outras indo almoçar na casa dela. Em todas as esquinas aqui do bairro tem gente vendendo flores nas calçadas. Ficou até bem bonito, a cidade ganhou mais cor. Mas, apesar de estar fazendo um lindo domingo de sol, daqueles dias de outono, fresquinhos e gostosos de passear, fiquei o dia inteiro com o coração apertado. Sentindo muita, mas muita falta da minha mãe... Pra matar um pouco a saudade, resolvi postar essa foto, que é uma das que mais gosto. Minha mãe contava que na hora que o fotógrafo chegou ela disse pra mim: Faz uma carinha bonitinha pro moço! E o gaiato Robertinho mandou essa careta...
sábado, 7 de maio de 2011
Quando foi que me tornei esse senhor de meia idade obcecado por silêncio e tranquilidade? Não sei. Não me recordo. Mas já faz algum tempo. Lembro que, há uns dez, doze anos atrás, eu ainda adorava um agito. Sair na noite, bares, baladas, dormir e acordar tarde... Mas o tempo passou, acho que amadureci e passei a valorizar meu interior. E quando a gente se volta para o interior o silêncio exterior se torna um dos nossos melhores aliados. Assim como o barulho manso das ondas do mar. E boa música, claro. Mas às vezes acho que sou um pouco exagerado nessa minha busca pelo silêncio total. E tudo o que o ameaça vira objeto do meu ódio. Como a vizinha do andar de cima, por exemplo... Cinema eu só vou à tarde e em dias de semana. Quando, além de mim, só tem mais quatro ou cinco idosos... Assim não fica aquele inferno de conversas, pipocas, embalagens de bala sendo abertas o tempo todo. Sem falar nos smart phones! Procuro também evitar tudo o que for gratuito e ao ar livre. Como shows em parques. E parques em si, nos fins de semana. Todo evento que atrai multidões automaticamente me repele... Me incomoda profundamente gente que fala alto em público. No restaurante, na academia, no ônibus, no metro. Parece que querem compartilhar suas vidas com todos, como se elas fossem o centro das atenções...E assim caminho rumo à minha velhice de hermitão. Conseguirei abandonar os grandes centros urbanos, que sempre me atraíram pela pluralidade de opções? Me isolarei em uma praia deserta cuja única opção seja a vista para o mar? O que já não seria pouco, não é verdade? Diz o provérbio chinês que a palavra é prata e o silêncio é ouro. Na minha cotação ele é muito mais. É euro, no mínimo... Por favor, comentários dizendo se estou ficando louco, paranóico, esquizofrênico...
Na foto, fim de tarde em Ilhabela.
quinta-feira, 5 de maio de 2011
Ontem fui, a convite do meu amigo Helges Bandeira, assistir ao concerto de Stacey Kent com o Trio Corrente na Sala São Paulo. A Sala São Paulo em si é sempre impressionante e a própria Estação Julio Prestes, onde ela está localizada, não fica a dever. Parece que a gente está em Munique, Paris ou outra cidade da Europa. A arquitetura é deslumbrante e a acústica da sala permite ouvir até mesmo os sussurros e respirações dos intérpretes. Quando se trata de uma cantora com o nível de sutilezas de interpretação de Satcey Kent, então, é um deleite estético raro. Confesso o meu atraso em conhecer a arte dessa intérprete refinadíssima: Só vim a ter contato com o trabalho de Satcey no ano passado, em Paris, por indicação de meu amigo João Faria. Foi amor à primeira ouvida... Ela passeia pelo jazz, pela chanson française e pela música brasileira harmonizando tudo com a maestria de quem, além de ter muito talento, tem estilo, identidade musical. Eu poderia ficar falando o post inteiro sobre o talento incomensurável dessa moça que além de talentosa é também belíssima. Mas quero falar, também, da sua relação com a língua portuguesa, da qual é admiradora e tem se revelado excelente aluna. Sim, ela estuda português. Além de cantora, Stacey é formada em literatura... Fala o tempo todo em português e, ao elogiar a nossa língua dizendo ser a mais linda do mundo, diz ser também a mais difícil. Não sei se é a mais difícil. Mas que é muito difícil, é. A prova disso é que nem mesmo nós, os brasileiros, sabemos falá-la corretamente... Escrever, então, nem se fala. Ou melhor, se escreve. Stacey segue dizendo que o homem mais importante da sua vida, depois do marido Jim, é João Gilberto. Elogia a musicalidade do povo brasileiro e diz ficar impressionada ao ver como cantamos junto com os artistas nos shows e sabemos de cor todas as letras das músicas. O espetáculo fez parte da Série TUCCA de Concertos, que são beneficentes e colaboram com a Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer. O que fez a noite ainda mais especial. Quando Satcey senta numa cadeira e pega o violão para tocar Corcovado ela fica ainda mais iluminada. Não pensei que fosse ficar babando o tempo todo quando comecei a escrever esse post. Mas o que é belo merece sempre ser exaltado. O Samba Sarava, versão francesa de Samba da Benção, de Vinicius e Baden Powel, fica incrível na sua voz. Eu conhecia a gravação ao vivo da Elis no Olympia de Paris. E ela encerra emprestando sua delicadeza a What a Wonderful World, imortalizada por Louis Amstrong... Quero mais Satcey Kent! Tenho dois CDs dela: Breakfast on the Morning Tram, que traz suas versões para La Saison des Pluies e Ces Petits Riens, de Gainsbourg, e In Love Again, no qual interpreta as canções de Richard Rodgers. Ambos impecáveis. Agora vou correndo comprar o novo, todo en francês: Raconte-moi... À bientôt!
terça-feira, 3 de maio de 2011
Morava sozinho em um prédio antigo do centro da cidade. Não gostava muito de sair. Às vezes ficava dias sem botar o pé pra fora de casa. Lia muito. Os livros, seus grandes companheiros. Gostava de ouvir música. Nessa hora, ele próprio era sua melhor companhia. Criava um clima para si: Luzes baixas, velas, abat-jours... Tinha discos de vinil. Gostava de deixá-los espalhados pelo chão da sala: Billie, Elis, Ella, Nina, Nana, Gal... Da janela, dava pra ver ao longe os morros que cercavam a cidade. Último andar, antigo arranha-céu. À noite uma profusão de luzes, letreiros, neons. Quando o sol começava a se por e as luzes iam pouco a pouco se acendendo, e o céu se colorindo em tons de fogo até escurecer, era impossível não beber. A cena pedia um drink. Vários: Drink, drank, drunk... Tinha gatos. Três. Ninguém é só vivendo com gatos. Um gato preenche uma casa. Imagine três. Gostava de fotografar. Viagens, amigos, lugares. Nos raros momentos em que saía do casulo, gostava de fazer bolos, cocadas e merengues com os quais presenteava os amigos. Vivera no exterior. Guardava lembranças de um amor vivido em terras distantes, que acabou mal, deixou feridas que o tempo cicatrizou e agora só restavam as boas lembranças. Sonhou ser alguém importante, que deixaria um legado para a história da humanidade, o tempo passou, esse sonho não se realizou, mas, tudo bem, ele tinha outros tantos que conseguiu realizar, já estava bom, podia fechar a porta do apartamento, baixar as luzes, abrir o vinho e ligar o aparelho de som sem culpa. Serge Gainsbourg: Je suis venu te dire que je m'en vais.O vinil rodaria no prato da vitrola até chegar o momento de virar o disco. Trocar de lado. Comprara um binóculo, com o qual observava moradores de prédios distantes. Um reallity show particular. Vidas a serem absorvidas, roubadas em pequenos flashes, fragmentos, frames. Às vezes assistia a videos no youtube, meu nome é Leona, a assassina vingativa, esse ano resolvi fazer algo diferente, e teve boatos de que eu ainda estava na pior... Um solitário numa cidade grande nunca está sozinho. Aliás, pensava, cidades grandes são imensas massas de seres solitários. Por falar nisso, gostava de sair sozinho para ir ao cinema, ao teatro, beber no balcão de algum bar, jantar em um restaurante simpático onde já conhecesse todos os funcionários e, ao chegar, sorrissem e lhe perguntassem: O de sempre? E então se sentar ao balcão e trocar palavras amigas com o bar man, fazê-lo rir um puco, em meio ao trabalho, que bom, eu gosto quando você vem... E assim os dias iam passando, as semanas, os meses, os anos. A vida se repetindo e se renovando. A solidão se povoando, ele crescendo, trocando, vivendo cada vez mais, mais depressa, da mesma forma, de maneiras inusitadas, fazendo viagens, transpondo oceanos, renovando vistos, escrevendo tudo em um blog, fazendo um certo sucesso, alternado com momentos de esquecimento, passando fins de semana na praia, nada como o mar para ampliar horizontes... Da janela do seu apartamento dava para ver ao longe os morros que cercam a cidade mas, fala a verdade, ele estava no centro de uma metrópole, qualquer perspectiva de horizonte mais aberto esbarrava em alguma antena de TV ou de telefonia. Vontade de escanear o passado, as lembranças, memórias distantes e postá-las no facebook. Para receber dezenas de comentários, curtidas, incessantes notificações. E convites de amizades. Essas, ok, tudo bem. Não invadiriam a sua adorada solidão. A solidão voluntária de habitante da grande cidade...