FOR A FRIEND
Eu queria muito começar o mês de setembro falando sobre a amizade, no meu ver, uma das mais belas formas de amor que existe. É um amor opcional, que a gente escolhe, não vem de fábrica, como o amor que temos pelos nossos pais ou irmãos. Certos amigos, aliás, são mais do que irmãos. Os amigos nos aceitam como somos e nós também os aceitamos como são. Diferente de namorados, por exemplo, com os quais somos muito mais exigentes e que exigem muito de nós. Impossível não lembrar de um grande amigo que tive. Que foi, durante os anos em que a nossa amizade durou, o meu melhor amigo. E não é que tenhamos brigado ou nos afastado. Ele simplesmente, de uma hora pra outra, morreu. Nos conhecemos em 1986 e ele faleceu em 1994. Não chegou a durar dez anos, a nossa amizade. Mas como me faz falta, até hoje... Estou falando do Marcelo Pezzi, meu grande amigo de Porto Alegre, que continua muito presente em mim, na minha vida e, até mesmo, na minha casa aqui de São Paulo, que ele nem chegou a conhecer. Digo isso porque suas irmãs, Mônica e Simone, me deram alguns objetos que decoravam a casa dele como recordação. Hoje eles decoram a minha casa. Eu adorava o apartamento do Marcelo em Porto Alegre. Era um pequeno duplex charmosíssimo que, no centro da escada que subia em caracol para o andar superior, tinha uma coluna onde ele colara antigas fotos de estrelas de Hollywood que sua mãe colecionava. Essas fotos me foram dadas de presente por suas irmãs e eu emoldurei algumas delas e preguei os quadros na parede da minha sala em formato de coluna, um sobre o outro, exatamente como ficavam dispostos na casa dele. Na parede em frente tem um quadro da artista plástica Karen Lambrecht, também presente de Mônica e Simone. Quando me sento na sala para ouvir música, o que faço com muita frequência, é impossível não lembrar do Marcelo. Principalmente quando ouço a canção For a Friend, de Jimmy Somerville, que dá nome ao post, e fala de um amigo que se foi. Marcelo e eu tínhamos uma cumplicidade e um prazer de estar juntos que nunca tive iguais com nenhum outro amigo. E olha que tenho excelentes amigos. Se a gente não tinha nada pra fazer, só ficar juntos já estava bom. Assunto não nos faltava e mesmo se, ocasionalmente, faltasse, era bom do mesmo jeito. Em silêncio. Sua morte foi a primeira grande perda que sofri. Eu tinha trinta e um anos e, até então, só perdera minha avó. Mas a dor da perda do Marcelo foi infinitamente maior. Como nos versos da canção de Jimmy Somerville: I never cried the way I cried over you... Lembro com saudade das nossas viagens à Florianópolis, no verão. E de como as planejávamos, curtindo cada detalhe do que faríamos quando estivéssemos lá. E do quanto ríamos quando estávamos juntos. Tenho certeza que hoje ele adoraria vir a São Paulo me visitar. E já veio, uma vez. Só que em sonho. Um sonho maravilhoso. Eu estava em um café, meio como o Ritz, daqui de São Paulo e, de repente, vejo ele entrar pela porta e vir andando na minha direção. Eu levantei da cadeira e nos abraçamos longamente. A sensação foi incrível e eu senti até o seu cheiro. Falei: Que bom que você veio! Acordei feliz e emocionado. E ele nunca mais voltou...
A não ser na minha memória, onde ele sempre viverá.
Acho que consegui inaugurar os posts de setembro da maneira que queria: falando de amizade.
Muito bonito e tocante. Me fez lembrar de pessoas que gosto muito e que hoje estão vivas só na minha memória.
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A amizade e um grande tesouro porque faz crescer e fortalecer o amor incondicional e verdadeiro. E tu es, desde que nasceste, o meu amigo do peito. Bj com amor...
ResponderExcluirpuxa vida... vim aqui depois de tanto tempo e vejo o Marcelo, que bela lembrança, tua, dele, um aqui, outro acolá. Fica, permanece, stay, continua, me conta, me encanta. Beijos, Lulkin
ResponderExcluirBelas palavras.
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