quinta-feira, 30 de setembro de 2010




TEATRO LEOPOLDINA
Olha eu de novo aqui em Porto Alegre...
Fui ao banco, que fica na Avenida Independência, e, enquanto estava tentando lembrar exatamente onde ficava, me peguei pensando: Ah, fica depois do Teatro Leopoldina! Terrível constatação: estou velho. Eu disse estou, não "estou ficando" velho. Sim, porque só uma pessoa velha como eu ainda se referiria ao Teatro da Ospa - Que, aliás já está fechado - como Teatro Leopoldina... O lado bom é que uma torrente de lembranças agradáveis invadiram a minha memória. Que saudaaade!! Quando vim morar em Porto Alegre eu tinha catorze para quinze anos. Isso lá nos idos de 1978... E o Teatro Leopoldina, para mim, era a possibilidade do sonho tornar-se real. Era a minha fábrica de sonhos. Eu, que desde criança sonhava em ser "artista", o que quer que isso significasse na ocasião, pude ter, a partir desse local mágico, acesso ao mundo encantado das artes e dos seres fantásticos que eram os artistas... Eu vivia no Leopoldina. Ou na porta, ou dentro, ou na saída dos artistas. As peças de teatro, infelizmente, eu não podia assistir à maioria delas, pois vivíamos a época da censura e um pirralho como eu ainda não entrava em nada. Mesmo assim, ficava na saída, esperando os artistas para fotografá-los. Tenho tantas fotos desse período, que pena que estão todas em São Paulo, adoraria ilustrar o post com uma delas. Já os shows...Ia a quase todos. Acho que o primeiro a que assisti foi Babilônia, de Rita Lee. Rita linda, no auge da juventude e beleza. E louca, também. Muito louca. Depois veio Feitiço, de Ney Matogrosso, que ele abria de Carmen Miranda e depois vinha de calça de vinil, todo sado-maso; O show do primeiro disco solo de Baby Consuelo, o show de dez anos dos Novos Baianos, Caetano e Bathânia juntos, Cinema Transcendental, de Caetano, Zezé Motta!! Minha diva Zezé Motta...Tenho até hoje a foto que tirei com ela na garagem do Teatro Leopoldina, eu com uma carinha de criança abraçado à exuberante Zezé. Foi lá também que assisti a Elis, Essa Mulher. Depois do show me enchi de coragem, fui ao camarim e pedi um autógrafo, que guardo até hoje também. Ela escreveu, em diagonal no alto da página de um livrinho de cordel do Zé Ramalho, único papel que eu tinha na bolsa: Roberto, um abração, Elis. Anos depois, quando estava gravando o primeiro DVD da Terça Insana pela Trama, gravadora na qual trabalhava seu filho João Marcelo Bôscoli, mostrei o autógrafo a ele em uma reunião e João me disse que ela sempre escrevia assim, em diagonal, que a agenda de Elis era toda escrita dessa forma. Foi no Leopoldina também que assisti à Gota d' Água, com Bibi Ferreira. Sim, eu cheguei a assistir a Gota d' Água! Sou velho mesmo, e daí? Eu tinha um professor de literatura que sempre levava a classe ao teatro. Eu adorava pois, com ele levando a classe inteira, eu podia entrar...Depois dos espetáculos, rolava um bate-papo com o elenco que eu achava o máximo. Eu cheguei a me apresentar no Leopoldina, uma vez, com o Grupo Tear, do qual fiz parte, com o espetáculo A Piscina, minha estréia no Tear...To lembrando de tanta coisa relacionada ao teatro que acho melhor parar, ta ficando longo. Ah! Foi lá, também, que beijei na boca pela primeira vez!
As fotos que ilustram o post eu peguei na internet...

segunda-feira, 27 de setembro de 2010








EU FUI AO TEATRO
Nesse último fim de semana resolvi me colocar em dia com a produção teatral de São Paulo e assisti a três espetáculos muito interessantes: Inverno da Luz Vermelha, As Três Velhas e O Estrangeiro. Gostei dos três. Pela ordem em que assisti:
Inverno da Luz Vermelha, de Adam Rapp, tem direção de Monique Gardenberg e traz no elenco Marjorie Estiano, André Frateschi e Rafael Primot. A solidão, o desamor, o isolamento das grandes cidades abordados de forma humana e delicada, e, surpreendentemente, com bastante humor. A direção cinematográfica de Monique, emoldurada pela iluminação brilhante de Maneco Quinderé e embalada pela excelente trilha sonora, revela ao público, da melhor maneira, o enorme talento dos três intérpretes. Marjorie Estiano, que eu já conhecia da televisão, surpreende sur la scène, compondo com graça e sensibilidade a garota de programa que se faz passar por francesa. E arrasa no número de cabaret que faz mostrando o belíssimo corpo, toda trabalhada na sensualidade... André Frateschi eu também já conhecia do show Canções Para Cortar os Pulsos, que ele fazia com Cida Moreira interpretando Tom Waits. Também está ótimo e dá um show à parte tocando e cantando. Mas a grande revelação, pra mim, nesse espetáculo, é o talento de Rafael Primot, que compõe, com muita sensibilidade, o nerd solitário e apaixonado. Que ótimo ator! Sempre fico muito feliz de ver jovens talentos em cena. Parabéns aos três.
As Três Velhas, de Alejandro Jodorowsky, tem direção de Maria Alice Vergueiro e traz no elenco, além da própria, Luciano Chirolli e Pascoal da Conceição. Aqui se dá quase que o oposto: a excelência do texto está amparada na experiência do trio de atores já consagrados. Maria Alice e Pascoal defendem seus personagens com muita competência e Luciano Chirolli com um brilhantismo que emociona. É um virtuose. Que grande prazer é ver o Luti representar...
Já O Estrangeiro, de Albert Camus, dirigido por Guilherme Leme e Vera Holtz, traz Guilherme sozinho em cena contando de forma limpa, clara e belamente coreografada a história do homem que é condenado à morte por não aceitar mascarar seus sentimentos como quer a sociedade em que vive. Aqui também a luz de Maneco Quinderé contribui para a beleza do espetáculo, quase contracenando com o ator...
Foi inspirador. Pretendo fazer mais vezes essa maratona teatral. Quem faz teatro sabe como é difícil conseguir assistir aos espetáculos dos colegas, pois estamos sempre em cartaz ou em turnê. Mas, sempre que puder, vou repetir. Aproveito para agradecer, aqui, a todos os profissionais envolvidos nessas três montagens que são, verdadeiramente, três Espetáculos! É tão bom ir ao teatro e gostar...

sexta-feira, 24 de setembro de 2010



PRIMAVERA, CUPINS, ETC...
Minha casa começou a ser invadida por cupins! Matei, à mão mesmo, todos os que pude, joguei inseticida no restante, apaguei todas as luzes, fechei todas as janelas e vim me sentar na Dulca da Oscar Freire, pra dar um tempo até o ataque cessar. Adoro ficar sentado vendo o povo passar. Povo é maneira de falar, pois é o que menos passa por essas calçadas. Mesmo assim, a mélange é bem interessante: Pequenos grupos de judeus ortodoxos que, indiferentes ao calor, vestem negro da cabeça aos pés, patricinhas cheias de sacolas, modernos muito tatuados, estrangeiros de diversos idiomas. São dezenove horas e está bem escuro, apesar de já estarmos na primavera, recém-entrada. Aliás, bem vinda! Eu espero o ano inteiro por ela e pelo verão. E o melhor: esse ano terei duas primaveras, pois já vivi a de Paris, au mois de mai...Esse fim de semana, por incrível que pareça, vou ficar quieto em São Paulo. Estou planejando assistir a pelo menos três espetáculos, para me colocar em dia com as artes cênicas locais. Semana passada assisti, no Rio de Janeiro, a Tango, Bolero e Chá Chá Chá, com Edwin Luisi e Maria Clara Gueiros dando um show de interpretação e timing. Como é bom ver bons atores em cena. Como é bom estar em cena. Esse mês to matando um pouco a saudade, como convidado da Terça Insana. Mas, no ano que vem, pretendo voltar aos palcos com meu solo...Acabei de tomar minha segunda Baby, os cupins já deram trégua... É, acho que já posso voltar para casa.
Na foto, a primavera de Paris.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010



ELEIÇÕES
Não se assustem com a foto! Ela foi feita na época em que o sonho ainda não havia acabado... Sonho que, aliás, ajudei a construir. Como quase todas as pessoas da minha geração, que queriam ver um país mais justo, igualitário e democrático. No comício pelas Diretas Já eu estava, junto com meus amigos, no largo da Prefeitura de Porto Alegre, gritando com força pela mudança que faria todos felizes e recompensados. Tive o prazer de votar na primeira eleição direta para presidente desse país. Meu voto, no primeiro turno, foi para Roberto Freire, meu chará, candidato do Partido Comunista Brasileiro. No segundo fui de Lula, mas deu Collor na cabeça. Na nossa cabeça. E no bolso, com a Zélia confiscando aplicações. De lá pra cá muita coisa mudou. Pra melhor e pra pior. Acho que o único presidente que se elegeu com meu voto, até hoje, foi Fernando Henrique Cardoso. Que pra mim, crescido sob os governos de Médici e Geisel, seguidos de Figueiredo, Sarney, Collor e Itamar, foi, até hoje, o melhor. Sempre fiz questão de exercer esse direito de cidadão. Tanto que, logo que me mudei pra São Paulo, uma das primeiras coisas que providenciei foi a transferência do meu título de Porto Alegre pra cá. Mas, por ironia do destino, simples acaso ou total distração da minha parte, atrasado que estou com um compromisso que venho adiando há muito tempo, comprei minha passagem para Porto Alegre para o dia vinte e nove de setembro, ignorando completamente o fato de que as eleições serão no dia três de outubro. Dommage! Comprei bem antecipado, pela internet, preço promocional, não vou me dar o trabalho de tentar mudar, pagar diferença de tarifa, multa ou o que for. E mesmo o voto em trânsito, para presidente, eu já perdi o prazo. Mas quer saber? Acho que vai ser até melhor. Diante do quadro atual de candidatos, vou me sentir aliviado sabendo que não participei do processo. No meu ver, não tem nenhuma opção verdadeiramente boa. Pelo menos para presidente. Seria uma tentativa de eleger o menos pior. O que, pelo que indicam as pesquisas, não vai nem acontecer... Eu já me desencantei da política há muito tempo. Quem me conhece sabe: prefiro uma boa novela! Mas também não sou daqueles que acham que todo político é corrupto e que não tem mais solução. Se eu morasse no Rio, por exemplo, seria com grande prazer que daria meu voto a Fernando Gabeira. Aliás, meu voto sempre foi uma salada mista de partidos, pois procuro votar na pessoa e não no conjunto de alianças que a representam. Principalmente hoje em dia, que estamos vivendo a era das alianças, por mais estapafúrdias que sejam. Acho que chegamos num ponto em que perdeu a graça. Quando finalmente conquistamos a democracia, parece que ela foi confundida com o direito de todos ao roubo, à impunidade e à corrupção. E quando vejo na TV o Presidente da República pedindo para os eleitores votarem no Netinho de Paula para senador, acho que o melhor mesmo vai ser estar bem longe...

domingo, 19 de setembro de 2010



VIAGENS II
Acho que fui picado pelo inseto viajador, pois estou viajando bem mais do que o previsto para esse meu ano sabático. O que é ótimo, pois, como já falei aqui no blog, adoro fazer uma mala. E foi assim que eu, recém chegado de Ilhabela, já vim parar, dois dias depois, no Rio de Janeiro, cidade maravilhosa que não visitava desde a Páscoa desse ano. Dessa vez eu vim, digamos, a negócios. É que faz tempo que minha frenética amiga Lidoka me falava de um texto de Wagner Ribeiro, dos Dzi Croquettes, o qual eu estava curiosíssimo pra ler. E passamos juntos uma deliciosa tarde de chuvinha fina lendo juntos no sofá. Eu, que costumo vir ao Rio para curtir praia, sol e verão, tive uma outra perspectiva da cidade... Agora estou bebendo vinho de frente pro mar de Ipanema na filial carioca do bar paulista Astor, que fica no local onde funcionava o Barril 1800, na esquina da Vieira Souto com a Rainha Elizabeth. É bonito. Mas é caro...É engraçado como brasileiro gosta de pagar caro para se sentir rico. Aliás, acho que as UPPs, Unidades de Polícia Pacificadora do Rio de Janeiro, deveriam retirar os ladrões dos bares e restaurantes, assim como estão fazendo com os traficantes nas favelas, porque cobrar trinta e três reais por uma Baby Chandon e dezessete reais por um quarto de vinho no fundo de uma taça eu considero um assalto! Mas, voltando à parte boa, que é rever minhas amigas Shala Felipe, que me hospeda em sua casa, e Lidoka, hoje tive também o prazer de rever Dona Lídia, mãe da Lidoka que, aos oitenta e nove anos tá super sacudida, fazendo o cabelo animadíssima para irmos ao teatro assistir a Tango, Bolero e Cháchá-chá, com Edwin Luisi, de quem ela é fã... E o tour etílico gastronômico segue. Agora estou no Felice, um restaurante, bar e sorveteria que costumo frequentar aqui no Rio. Adoro o Felice. As hostess, gerentes e garçonetes sempre me recebem com muita simpatia, algumas já foram assistir à Terça Insana quando estávamos em cartaz aqui no Rio, e eu, realmente, me sinto em casa. É como se fosse o meu Ritz carioca. A comida é deliciosa e eles fazem um frozen de sorvete batido com vodka delicioso. Deliciosamente embriagante...Uma vez eu estava com amigos na varanda do Felice quando, de repente, começou a sair muita fumaça lá de dentro e descobrimos que era um incêndio na cozinha! Vieram os bombeiros, o restaurante foi evacuado, um horror. Mas teve um lado bom: Não precisamos pagar a conta!
Depois do Felice ainda fui, resolvido de última hora, assistir ao show Etc, de Rita Lee, no Vivo Rio. Adorei. Rita está linda, viva e cheia de graça, fazendo um monte de gente feliz!
Na foto, a Princesa Isabel toda molhadinha da chuva que cai no Rio.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010


SO IN LOVE

I'm in love with Ilhabela...Enquanto bebo meu espumante argentino Nieto Senetiner de frente pro mar olhando a lua crescente que parece uma castanha de cajú sobre a estrela Dalva, faço planos de mudar a minha vida radicalmente: Deixar São Paulo e ir viver junto ao mar, abrir uma pousada ou um café-teatro onde, além de servir as pessoas, eu as pudesse brindar com minhas performances...Adoro a idéia de fazer planos para o futuro, mesmo beirando os cinquenta! É como se a minha adolescência se extendesse indefinidamente...A trilha sonora mais constante e marcante desses dias em Ilhabela tem sido o song book de Cole Porter, por Ella Fitzgerald. Como é bom ouvir a bela voz de Ella emoldurando a paisagem da ilha...Quando cai a noite pode-se ver vagalumes, que passam voando a piscar suas pequenas luzes, coisa que não via desde a minha infância em Soledade.
Hoje conhecemos as praias mais ao sul, como Veloso e Feiticeira, e as mais ao norte, como Armação, Siriúba e Pedra do Sino, que tem um incrível efeito sonoro: quando você bate uma pedra nas rochas da praia elas reproduzem o som de sinos! Essa dica me foi dada por um leitor do blog. E por falar em coisas que não via desde a minha infância, hoje vi, na praia do Veloso, borboletas voando ao meu redor...
Amanhã volto pra São Paulo, pois estou me apresentando na Terça Insana em todas as terças-feiras do mês de setembro. Mas esses cinco dias junto ao mar aqui em Ilhabela ficarão pra sempre na minha memória...Espero poder voltar o mais rápido possível.

domingo, 12 de setembro de 2010


PÉS NO CHÃO
No post anterior eu grafei errado o nome da ilha encantada onde estou passando uns dias: Ilha Bela. O correto é Ilhabela, tudo junto. Pois bem, aqui em Ilhabela-tudo junto, tem um lugar muito interessante que conheci ontem à noite: a Ong Pés no Chão. Eles tem um espaço cultural, todo construído por eles próprios, com o apoio dos moradores da ilha, que abriga o Dança e Movimento, um festival de dança que acontece anualmente e trás, além de espetáculos, oficinas e worshops para os jovens alunos da ong. Fui assistir ao espetáculo Lúdico, da Cia Druw, que já havia assistido em São Paulo e do qual gosto muito. Pois bem, aqui no espaço do Pés no Chão, ao contrário do que diz o nome do lugar, eles voaram ainda mais. Sabe quando a magia e a beleza do local tornam um espetáculo ainda mais bonito do que já era originalmente? Foi exatamente o que aconteceu. Cheguei um pouco cedo e já fiquei logo encantado. Tudo é extremamente simples e, até mesmo, rústico, mas de uma grande harmonia. Tem pequenos detalhes na estrutura da construção como uma grade de ferro, toda formada por galhos e folhas, como se fazia no art-nouveau, mas numa versão local de grande beleza naif. Eles contam com orgulho e entusiasmo que eles mesmos a construíram. Vi as pessoas chegando para o evento em grupos, famílias, adultos e crianças, todos arrumados, cabelos molhados com aquele cheirinho de recém saído do banho que me lembrou muito a minha infância no interior quando a gente tomava banho, jantava e saía para brincar ou para tomar um sorvete na praça...Na cantina do espaço eles servem salgados e sucos naturais, feitos na hora, tem até um forno de pizza de onde saíam, quentinhas, as pizzas de muzzarela e escarola. Os sucos eram incríveis: inhame com limão, maçã com gengibre e até mesmo um de rúcula! Adorei. O espetáculo que, por um lado, sofreu limitações técnicas e espaciais, ganhou em vida, capacidade de adaptação e improviso. Tudo isso, somado à felicidade eminente da assistência, resultou numa grande ovação final com direito a gritos de Bravo! Após o que eles serviram uma deliciosa sopa de ervilha com legumes...Inesquecível.

sábado, 11 de setembro de 2010



ILHA BELA
O nome já diz tudo: é uma ilha e é bela. Demais. Desde que vim morar em São Paulo, há 14 anos, ouço falar de Ilha Bela e tinha a maior vontade de conhecer mas, não sei porque, não rolava. Finalmente aconteceu. Cheguei ontem ao entardecer e já estou apaixonado, querendo ficar pra sempre...Estou hospedado em um hotel agradabilíssimo, chamado Petit Village. Fica no alto de um morro, de onde se avista, pela janela do quarto, o mar ao longe. Na verdade o quarto está mais pra apartamento, pois tem uma pequena sala, o quarto em si, o banheiro e uma espécie de closet. E tem, também, uma janela e uma porta que dão para o mar, em uma varanda alta de onde se mira o infinito. Me divido entre a vontade de pegar o carro e visitar a ilha toda e ficar somente aqui, aproveitando cada minuto da minha estadia pra curtir esse espetáculo da natureza. Eu, que, como já falei aqui no blog, adoro sair de casa, viajar, fazer uma mala, estou realizado. Gosto muito de São Paulo mas, às vezes, é fundamental sair um pouco pra respirar, expandir o horizonte, o que, aliás, não se vê por lá, cercados que ficamos por prédios, prédios e mais prédios...
Prometo voltar a escrever da bela Ilha Bela. Se bem que aqui, como se pode atestar pela foto acima, imagens dizem muito mais que palavras...

terça-feira, 7 de setembro de 2010



VIAGENS
Uma das coisas que mais gosto de fazer na vida é viajar. No sentido literal, evidentemente. De sair de casa, mesmo. Fazer uma mala, por pequena que seja, mesmo para ficar dois dias fora, já me deixa muito animado. Não precisa ser Paris, Recife ou Bahia, pode ser aqui mesmo, em Ribeirão Preto ou Guarujá. Já gosto. Aliás, adoro o interior de São Paulo, que tem cidades interessantíssimas. Acho que tem a ver com sair da rotina, que é uma coisa sempre instigante pra mim. E sempre foi assim. Lembro que quando ainda estava morando em Porto Alegre, eu ia muito ao aeroporto levar e esperar amigos, e sempre mentalizava: um dia quero fazer um espetáculo de muito sucesso e viajar o país inteiro me apresentando. Foi o que veio a acontecer, alguns anos depois, quando entrei para a Terça Insana, onde fiquei oito anos viajando muito. E aqui vale também o sentido figurado...Esse ano de 2010 eu tirei especialmente pra isso: viajar bastante, só que não a trabalho. E, de janeiro pra cá, já fui a Camburi, Porto Alegre, Salvador, Morro de São Paulo, Rio de Janeiro e Paris. E ainda to planejando voltar a Porto Alegre, ir a Soledade, minha cidade natal, e na volta, se der, fazer um pit stop em Florianópolis. Eu gosto de me instalar na cidade, no hotel, na casa em que for ficar, guardar roupas no armário, fazer daquele local a minha casa e viver a vida que se vive lá. Mesmo que seja só por dois dias. Gosto, também, de fazer as coisas mais turísticas, os passeios mais óbvios, as fotos mais cartão postal. E, de preferência, assistir a espetáculos que estejam em cartaz nessas cidades. E, claro, conhecer pessoas que morem nesses locais. Viajar me faz muito feliz e eu quero fazê-lo cada vez mais. Nos últimos cinco anos em que estive na Terça Insana nós viajamos muito, quase todos os finais de semana, com uma pequena pausa nos meses de dezembro e janeiro. De Porto Alegre a Manaus, com direito a muito centro-oeste. Isso me cansou, não pelas viagens em si, mas porque viajar já havia se tornado, também, uma rotina. E, quando ela se instala, eu tenho tendência a pular fora. É engraçado como até mesmo a falta de rotina pode se transformar em rotina também: A mala de figurinos sempre pronta, a necessaire com tudo em dobro, pra não correr o risco de esquecer nada...Com o tempo, até as cidades começaram a se repetir, os teatros, as pessoas, então deixou de ser tão instigante pra mim. Mas é claro que já estou sentindo falta. Quem segue o blog sabe que gosto muito de ler. E uma das coisas que mais gosto de fazer em viagens é visitar os lugares que são referências de livros que li. Descobri, recentemente, lendo a biografia de Clarice Lispector, vários lugares que quero visitar quando voltar a Recife, onde já estive inúmeras vezes e, como não tinha essas referências, não visitei. E isso é algo que adoro também: sempre ter coisas que faltaram fazer, pra ter motivos para voltar às cidades de que gosto. Em Paris, por exemplo, eu sempre deixo coisas por fazer, propositadamente. Assim eu sempre terei uma desculpa pra voltar...Se bem que lá eu sempre vou querer voltar, mesmo que seja pra fazer tudo de novo! Bon voyage...
A foto que ilustra o post eu chamo de: Le Petit Prince à Munique, e foi feita sobre um lago congelado.

domingo, 5 de setembro de 2010





FOR A FRIEND
Eu queria muito começar o mês de setembro falando sobre a amizade, no meu ver, uma das mais belas formas de amor que existe. É um amor opcional, que a gente escolhe, não vem de fábrica, como o amor que temos pelos nossos pais ou irmãos. Certos amigos, aliás, são mais do que irmãos. Os amigos nos aceitam como somos e nós também os aceitamos como são. Diferente de namorados, por exemplo, com os quais somos muito mais exigentes e que exigem muito de nós. Impossível não lembrar de um grande amigo que tive. Que foi, durante os anos em que a nossa amizade durou, o meu melhor amigo. E não é que tenhamos brigado ou nos afastado. Ele simplesmente, de uma hora pra outra, morreu. Nos conhecemos em 1986 e ele faleceu em 1994. Não chegou a durar dez anos, a nossa amizade. Mas como me faz falta, até hoje... Estou falando do Marcelo Pezzi, meu grande amigo de Porto Alegre, que continua muito presente em mim, na minha vida e, até mesmo, na minha casa aqui de São Paulo, que ele nem chegou a conhecer. Digo isso porque suas irmãs, Mônica e Simone, me deram alguns objetos que decoravam a casa dele como recordação. Hoje eles decoram a minha casa. Eu adorava o apartamento do Marcelo em Porto Alegre. Era um pequeno duplex charmosíssimo que, no centro da escada que subia em caracol para o andar superior, tinha uma coluna onde ele colara antigas fotos de estrelas de Hollywood que sua mãe colecionava. Essas fotos me foram dadas de presente por suas irmãs e eu emoldurei algumas delas e preguei os quadros na parede da minha sala em formato de coluna, um sobre o outro, exatamente como ficavam dispostos na casa dele. Na parede em frente tem um quadro da artista plástica Karen Lambrecht, também presente de Mônica e Simone. Quando me sento na sala para ouvir música, o que faço com muita frequência, é impossível não lembrar do Marcelo. Principalmente quando ouço a canção For a Friend, de Jimmy Somerville, que dá nome ao post, e fala de um amigo que se foi. Marcelo e eu tínhamos uma cumplicidade e um prazer de estar juntos que nunca tive iguais com nenhum outro amigo. E olha que tenho excelentes amigos. Se a gente não tinha nada pra fazer, só ficar juntos já estava bom. Assunto não nos faltava e mesmo se, ocasionalmente, faltasse, era bom do mesmo jeito. Em silêncio. Sua morte foi a primeira grande perda que sofri. Eu tinha trinta e um anos e, até então, só perdera minha avó. Mas a dor da perda do Marcelo foi infinitamente maior. Como nos versos da canção de Jimmy Somerville: I never cried the way I cried over you... Lembro com saudade das nossas viagens à Florianópolis, no verão. E de como as planejávamos, curtindo cada detalhe do que faríamos quando estivéssemos lá. E do quanto ríamos quando estávamos juntos. Tenho certeza que hoje ele adoraria vir a São Paulo me visitar. E já veio, uma vez. Só que em sonho. Um sonho maravilhoso. Eu estava em um café, meio como o Ritz, daqui de São Paulo e, de repente, vejo ele entrar pela porta e vir andando na minha direção. Eu levantei da cadeira e nos abraçamos longamente. A sensação foi incrível e eu senti até o seu cheiro. Falei: Que bom que você veio! Acordei feliz e emocionado. E ele nunca mais voltou...
A não ser na minha memória, onde ele sempre viverá.
Acho que consegui inaugurar os posts de setembro da maneira que queria: falando de amizade.