sábado, 12 de agosto de 2023
RETORNO A "A HERANÇA"
Ontem fui ao teatro pela segunda vez para assistir ao mesmo espetáculo. Na verdade, a segunda parte de A Herança, peça de Matthew Lopez em cartaz no Teatro Raul Cortez. Foi o meu "retorno a Howards End", para citar a obra inspiradora dessa bela história. Eu, que saio cada vez menos de casa; que nunca assisto a nada que dure mais de duas horas. Me surpreendi preso a essa complexa e intrigante narrativa de quase sete horas de duração. E ao final da primeira parte já estava louco de vontade de voltar para assistir à segunda... Assim como eu, a plateia toda parece estar mergulhada na história do jovem Eric, interpretado com graça, talento e carisma por Bruno Fagundes, que é também produtor da peça. Fiquei pensando que os intermináveis meses de confinamento que vivemos com a pandemia da covid talvez tenham alterado a nossa percepção da passagem do tempo. Exercitamos à exaustão a contagem das horas, dias e meses. E o que antes parecia longo agora flui de maneira prazerosa. Poderia começar com isso. Também poderia começar dizendo que uma boa história, quando é bem contada, prende a atenção do interlocutor do início ao fim. Uma herança é algo que é doado após a morte de alguém. "O patrimônio, incluindo bens, direitos e dívidas, deixado por alguém em razão de seu falecimento". É disso, em suma, que a peça trata: Da casa que Eric recebe de herança de Walter. Casa que, durante os anos oitenta, abrigou muitos jovens vítimas da Aids. Mas também trata do legado que uma geração de homens gays deixa para a outra. As leituras são vastas e plurais. A gente ri, se emociona e se encanta. É muito tocante lembrar de todos os amigos que perdemos para a Aids. Há shows de interpretação como o monólogo de Marco Antônio Pâmio na primeira parte e a sua imitação dos arroubos dramáticos do personagem de Rafael Primot na segunda. (Não me contive e puxei os merecidos aplausos em cena aberta). Há o talento e juventude de André Torquato, que se desdobra em dois personagens completamente diferentes um do outro em belo exercício de composição. Há também a participação luxuosa de Mirian Mehler que, quase no fim do espetáculo, entra e dá um show. Há a direção sensível e clara de Zé Henrique de Paula. Há um Reynaldo Gianechinni surpreendentemente maduro e belo em cena. Eu nunca o havia visto atuar sur la scène. Há tanta coisa boa que só assistindo. Esse post tem o intuito de recomendar o espetáculo. Depois dos aplausos, Bruno pede que cada pessoa da plateia recomende para outras cinco. É o que estou fazendo aqui. Em agradecimento a esse belíssimo espetáculo a que assisti convido quem me lê a assistir também. Que bom que voltamos a fazer teatro. Que bom que as pessoas voltaram a ir ao teatro. E, last but not least, que bom que Bruno Fagundes herdou dos pais o talento e o amor pelo teatro. Esse espetáculo evidencia que, mesmo ainda tão jovem, Bruno já é um homem de teatro. E que isso fique de herança para as gerações futuras! Corre que ainda dá tempo: A peça fica em cartaz aqui em São Paulo até o dia 03 de setembro e depois vai para o Rio de Janeiro, em curta temporada no Teatro Clara Nunes.
Na foto, Bruno Fagundes e Reynaldo Gianechinni para a divulgação do espetáculo.
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Acabo de ler seu post emocionado. Quando assisti a entrevista de Bruno no Conversa com Bial pensei; uma pena que não vou assistir a essa peça, fiquei curioso, instigado, mas também consciente de que esse tipo de espetáculo não viaja, não circula, não sai do eixo RJ/SP. Uma pena, realmente uma pena.
ResponderExcluirOdilon, querido! Tenho certeza de que você iria amar este espetáculo! E tb chorar muito, que te conheço... rsrsrs
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