segunda-feira, 17 de abril de 2023
TCHAIKOWSKY, SÉC. XXI
São Paulo, década de vinte do século atual: Da janela do ônibus li o título estampado na fachada do cinema da Avenida Paulista: A Esposa de Tchaikowsky. Desde aquele instante comecei uma viagem sem volta. Soledade, década de setenta do século passado: Minha professora de piano me pede para escolher um compositor sobre o qual eu gostaria de fazer um trabalho de pesquisa. Respondo sem vacilar: Tchaikowsky. Piotr Ilitch Tchaikowsky. Talvez eu tenha escolhido mais pela sonoridade do nome, que me era totalmente exótica, do que pela obra em si, que então eu pouco conhecia além do Concerto Número 1 Para Piano e Orquestra. De onde eu tirei o material da pesquisa, a memória me trai. Deve ter sido de alguma enciclopédia, que era o que basicamente tínhamos à época. Ou de algum livro que a própria professora tenha me emprestado. O que ficou foi a decepção que tive. Que vida triste! Na minha santa ingenuidade de criança do interior, gente famosa tinha vidas maravilhosas, cheias de sucesso & glamur. Fiquei chocado com a aura de sofrimento com que era pintado o seu retrato. E o pior: Sua suposta homossexualidade. Isso, para mim, foi o mais difícil de entender. O que ainda era descrito como "homossexualismo". Um palavrão impronunciável. Como me arrependi de ter escolhido aquele compositor. Mas já era tarde, o trabalho precisava ser entregue. Que estrago faziam com a cabeça das crianças escondendo-lhes tudo e distorcendo tudo da pior maneira... Hoje a vontade de ir ao cinema foi incontrolável. Mesmo sabendo que era um filme um pouco mais longo do que as habituais duas horas de duração, que são o meu limite. A tristeza estava toda lá. Filmada, traduzida em imagens. O filme me levou para uma viagem sem volta, tal qual a que entrei em direção ao passado quando li o título da janela do ônibus. Uma viagem escura e linda. À luz de velas. Um delírio musical e poético. Por vezes erótico. Corpos nus, músculos e genitálias. A Rússia do final do século dezenove se impondo sobre os seus cidadãos. Ditando suas regras. Como, de certa forma, segue fazendo até hoje... Mas, como cinema é também magia e fantasia, encontrei momentos de prazer e alegria na vida do meu compositor escolhido: Ele bem que se divertia de vez em quando - entre uma sinfonia e outra - com suas amigas bibas e seus boys magia. À luz do século XXI isso não podia continuar sendo mantido em segredo. Foi um bom resgate de memória para mim. Uma verdadeira glasnost...
Na foto, Piotr Ilich e sua esposa.
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Na quinta-feira passada também li esse título e fiquei curioso sobre o fato de o título enfatizar a esposa e não do compositor. Como evito ler resenhas ou sinopses antes de assistir qualquer filme, adiei por conta do tempo de duração. Adorei seu post porque ele não entrega o filme, só atiça nossa curiosidade. Obrigado por mais essa indicação.
ResponderExcluirOdilon, querido! Adoro essas existências atribuladas & atormentadas...rsrsrs!
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