terça-feira, 25 de outubro de 2022

CAIO ENTRE NÓS

Semana passada participei de um sarau on-line para o lançamento do site Caio Entre Nós, dedicado à memória do escritor gaúcho Caio Fernando Abreu, falecido em 1996. Muito já falei aqui no blog da minha admiração e amizade por ele. Comecei como fã, desde a mais tenra idade, quando li Triângulo das Águas e fiquei completamente encantado. Um escritor que falava a minha língua! E não é - obviamente - à língua portuguesa que me refiro. Digamos que era um escritor que me representava, me definia, me incluía. Anos mais tarde, em 1991, quando eu estava morando em Paris, tive o privilégio de conhecê-lo e me tornar seu amigo. Foi Luis Artur Nunes quem fez a nossa aproximação e até hoje sou imensamente grato a ele por isso. Pois é mais uma vez através do Luis Artur que me aproximo de Caio. Ele está me dirigindo em Caio em Revista, um solo que farei com textos que ele escrevia para revistas nos anos oitenta. Desde 2017 venho trabalhando na pesquisa e adaptação dessas crônicas, um trabalho de formiguinha que me fez percorrer casas de amigos colecionadores em busca das tais revistas de onde extraí os textos. Entre os amigos que me receberam em suas casas para revirar suas coleções estão Cida Moreira e Luiz Normanda. Outros me enviaram textos por e-mail ou WhatsApp, como Odilon Henriques, Marcos Breda e Samuel Oliveira. Tem sido um enorme prazer voltar a ensaiar teatro. Depois de dois anos de isolamento, após os quais só voltei ao teatro no ano passado como diretor em O L Perdido (peça em que dirigi Grace Gianoukas e Agnes Zuliani), retomar o trabalho de ator em um projeto que me é tão caro tem sido grandemente inspirador. Aprendo sempre tanto com Luis Artur e com a palavra de Caio. E o melhor de tudo para nós, que o conhecíamos intimamente, é trazer ao conhecimento do público essa faceta menos conhecida do escritor: O Caio solar, leve e bem humorado revelado pelas revistas. Diferente daquele mais denso e dramático das obras literárias. O processo de trabalho em si tem me realizado muito como artista. Como é bom transformar palavras impressas em falas, gestos, ações e intenções. Ainda mais sob a condução delicada, sensível e irretocável de Luis Artur. Reler Caio sempre me reconecta com a vida, suas vicissitudes e idiossincrasias. É sempre transformador. E transmiti-lo on-line para todo o mundo em um sarau virtual é uma experiência que ele mesmo, se ainda estivesse conosco, acharia no mínimo interessantíssima. Pois minha participação no sarau foi justamente com uma das crônicas que compõem o nosso espetáculo: Torturas de Natal. O projeto Caio na Memória Viva tem organização de Rodi Neres, Cristiane Cubas e Ivana Dalle. Quem quiser visitar o site - ainda em construção - é só acessar www.caiofentrenos.com.br e viajar pela memória de Caio Fernando Abreu... Para terminar citando o próprio, “a única coisa que posso fazer é escrever - essa é a certeza que te envio, se conseguir passar esta carta para além dos muros. Escuta bem, vou repetir no teu ouvido, muitas vezes: a única coisa que posso fazer é escrever, a única coisa que posso fazer é escrever”… Na foto, Caio e seu irmão em um Natal em Santiago do Boqueirão.

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