sábado, 23 de abril de 2022

RANZINZICES

Rita Lee se curou de um câncer de pulmão. Só isso já seria a prova da existência divina. Mas é, também, a prova da evolução da medicina e da ciência como um todo. Há vinte e cinco anos meu pai morria da mesma doença cujo diagnóstico, na ocasião, lhe foi impingido como uma sentença de morte. Estamos saindo (?) de uma pandemia que se prolonga por já inacreditáveis dois anos. Mas, ao menos, já temos vacinas que nos impedem de morrer da doença. A prova é a queda dos números de contágio e de mortes. Quarenta anos atrás uma outra epidemia, a da Aids, ceifou vidas e até hoje não foi descoberta a cura. Nem sequer uma vacina. E assim, entre boas e más notícias, vamos levando a vida... Estou me aproximando da terceira idade. Em abril do ano que vem já passarei a ser considerado idoso. Sei que isso me trará vantagens. Poucas. Vou pagar meia entrada em todos os shows, espetáculos e filmes a que for assistir. Poderei estacionar o carro nas vagas mais próximas aos elevadores nos shopping centers. Isso, para mim, nem chega a ser vantagem, posto que não gosto de frequentar shopping centers. Felizmente tenho físico e disposição de alguém de bem menos idade... Me inquieta o fato de as pessoas se deixarem levar por modismos e tendências do momento. Me incomoda a linguagem, os gostos pessoais, a roupa, a malfadada polarização. As redes sociais, os grupos em aplicativos de mensagens, o vocabulário. Os cancelamentos, a lacração, tudo isso me isola. Me sinto um extraterrestre. Nada nem ninguém me representa. A solidão em que essa condição me coloca é por vezes desesperadora... Estou participando de uma série de televisão - uma participação muito pequena, diga-se de passagem - e, dia desses, durante as incontáveis horas de espera para gravar, escutei um ator dando uma entrevista e fiquei chocado com a quantidade de vezes que ele pronunciou a palavra lugar. "É um lugar de investigação, o diretor te leva para um lugar de pesquisa, você sai daquele lugar de conforto", foi tanto que precisei sair do recinto e ir para "um lugar" aberto para tomar ar. Esse sim era um lugar de verdade. Ao contrário de todos os outros a que o ator se referiu. Esses eram estados, atmosferas, situações... Sei que estou ficando velho e chato. Melhor, uma vieille tante, como diriam os franceses. Gosto de silêncio e de tranquilidade. De vinho e de boa música. De livros e filmes e séries. De gatos. De boa comida. De praia. De sexo, também, se possível... Me desculpem os mais espiritualmente evoluídos e desapegados. Mas, como já cantou Maddona lá nos oitenta, vivemos em mundo materialista e eu sou uma garota materialista. E já nem sei mais do que se tratava esse post. Ou, para encerrar com mais um detestável jargão do momento: É sobre isso. Rsrsrs... Na foto, a Material Girl sendo a própria.

6 comentários:

  1. Mas meu anjo…? Vem aqui, vamulá. Amanhã te felicito!

    ResponderExcluir
  2. Parabéns pelo aniversário e por mais esta relíquia,que soa bem aos ossos olhos e ouvidos, nós somos felizardos,somos quase idosos...

    ResponderExcluir
  3. Bob, estou gargalhando depois de ler seu post. Acredito que um dia serei sepultado em algum lugar, mas não será o 'lugar de fala'.

    ResponderExcluir