segunda-feira, 12 de abril de 2021

SHORT DRAMA

Eu sou daqueles que vivem a esperar por um novo filme de Pedro Almodóvar. Felizmente chegou mais um: A Voz Humana, livremente inspirado na peça homônima de Jean Cocteau. Sempre fui louco por esse texto. Já imaginei levá-lo à cena de diversas maneiras. Inclusive com meu amigo Paulo Vicente interpretando o monólogo da mulher abandonada que chora as mágoas ao telefone... Um prato cheio para grandes atrizes dramáticas, a obra encontra na economia da interpretação de Tilda Swinton seu grande trunfo. Elegantemente contida, ela extravasa a dor da personagem a cada take do curta. Sim, o Almodóvar da vez é um curta metragem. Mas está tudo lá. Toda a genialidade e exuberância do cineasta que foi do underground ao mainstream burilando o próprio estilo. As cores, os enquadramentos inusitados, a trilha sonora sempre impecável, a maneira como ele dirige seus atores. Tilda, levemente andrógina, lembra o David Bowie de terninho azul de Life on Mars. Dá vontade de ficar assistindo várias vezes em modo repeat. Que pena que não foi numa grande sala de cinema e sim na pequena tela do meu computador. Tipo novo normal... Há muito que o cineasta espanhol flerta com a obra de Cocteau. Ela aparece citada em várias de suas películas. Como em A Lei do Desejo – meu preferido – em que Carmen Maura faz a irmã trans do cineasta que é atriz e ensaia a peça ao som de Ne Me Quitte Pas cantada por Maysa. Quase tive um treco no cinema quando assisti em Paris no começo dos anos noventa... Recebi como um presente de aniversário nesse abril que se inicia ainda pandêmico. Graças à minha amiga Patrícia Vilela, tive acesso a essa joia que espero um dia poder rever no grand écran. Enquanto esse dia não chega, a gente vai se adaptando aos formatos possíveis. Bom mês de abril a todos! Na foto, Tilda no set de The Human Voice.

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