Não suporto mais ouvir a palavra lugar ser pronunciada para definir o que quer que seja menos o que ela define de fato, que é, precisamente, lugar. Ou seja, espaço que pode ser ocupado por alguém ou por alguma coisa. Lugar é onde você nasceu, onde estudou, onde trabalha, onde mora. Lugar é a posição que alguém ocupa em um concurso. É um acidente geográfico, um país, uma cidade, um bairro. Mas agora é um tal de lugar de fala, lugar de performance, lugar de questionamento, lugar de seja o que for. Dia desses vi um jovem ator ser entrevistado por Lázaro Ramos, no programa dele no Canal Brasil, e fiquei impressionado com a quantidade de vezes que ele pronunciou a palavra lugar. Até "lugar de cegueira" ele chegou a dizer. Fiquei me perguntando que lugar seria esse... Não consigo entender direito de onde vem essa "moda" de se utilizar determinadas palavras até a exaustão. O mesmo vem acontecendo com o termo narrativa. Tudo agora virou narrativa. Usa-se, inclusive, "o lugar da narrativa". Preguiça... Nem vou me referir aqui aos já esgotados e insuportáveis empoderamento e protagonismo. Esses não saem das bocas e me arranham os ouvidos cada vez que são pronunciados. Isso sem falar no requentado e já desgastado "resistência". Chega a dar saudade de quando esse termo era usado para se referir àquela mola que esquenta o chuveiro elétrico. E agora me calo. Para não desgastar ainda mais as palavras...
Na foto, o Jardin du Luxembourg, um lugar que adoro frequentar quando estou em Paris.
terça-feira, 27 de novembro de 2018
domingo, 18 de novembro de 2018
SANGUE LATINO
Domingo que finda ao som de Billie Holiday. Borbulhas na flûte de champanhe. Luz difusa de abajur. Palmeiras no vaso de canto. Brisa amena que sopra, agora que já choveu, ventou e fez calor... Andei lendo sobre a criação do perfume mais famoso do mundo, o Chanel Número Cinco. Na verdade o livro é sobre o amor, a superação de uma grande perda e a capacidade de se reinventar. Chama-se Mademoiselle Chanel e o cheiro do amor, da escritora alemã Michelle Marly, e já me referi a ele no post anterior. Agora o mês de novembro segue com a leitura das memórias de Ney Matogrosso, Vira-lata de Raça. E que raça. Desde pequeno ele já disse a que veio. Sozinho. No osso. E o melhor: Sem discursos ou siglas. Apenas com atitudes. Isso em tempos bem mais bicudos do que os que vivemos hoje. Há quem prefira se lamentar. E há quem, como Ney, prefira seguir em frente escrevendo a própria história com coragem e, claro, muito talento. Agora que já provou que dá certo, ele nos deleita com suas lembranças... E, no clima da latinidad de Ney, Billie já deixou a vitrola e a sala foi invadida por Bandido Corazón, pérola que Rita Lee deu de presente para o nosso camaleão tropical. Graças aos deuses eu tenho uma caixa com todos os álbuns dele em CD. Assim posso passear por essa trajetória de sucessos. Diz-se que a carreira artística é feita de altos e baixos. A de Ney, exceção que confirma a regra, parece ter tido somente altos. E persiste através de décadas. Sempre atual. Coisa boa. Viva Ney! Eu já vinha latino à beça nos últimos dias. Embalado pela leitura dos contos de Caio a que me referi no post solitário do mês anterior, andei escutando Fina Estampa, de Caetano, em shuffle e em repeat jusq'à la mort. Agora é um tal de Paranpanpan, Trepa No Coqueiro e muito, muito Bandido Corazón. Pra quem não sabe, meu chará Roberto, marido de Rita, ainda integrava a banda Terceiro Mundo, de Ney, nesse álbum. Mas isso já é outra história. Agora, gaivota querida, voa numa boa...
Nas fotos, as finas estampas de Ney & Caetano.
Nas fotos, as finas estampas de Ney & Caetano.
quarta-feira, 7 de novembro de 2018
NOVEMBRO DELIRANTE
Finalmente o mês de novembro chegou. E, com ele, novos ventos varrendo a ressaca pós -eleitoral e trazendo de volta outros assuntos, possibilidades, visões. Já adentrei o penúltimo mês do ano visitando a exposição Raiz, do artista chinês Ai Weiwei, na Oca do Ibirapuera. De encher os olhos, a alma, o coração. Se a Bienal, que eu havia visitado dias antes, pouco ou nada tinha me dito, a exposição de Weiwei disse tudo. E calou fundo. Eu, que já andava cansado de assistir a processos em vez de resultados, que não aguentava mais tanto conceito para tão pouca arte, nessa exposição me deleitei: Ai Weiwei consegue unir conceito e arte, ativismo e denúncia, resistência e questionamento, sem deixar de fora algo que para mim é fundamental em qualquer manifestação artística: A beleza. Ela está presente em cada micro-detalhe das flores de porcelana que compõem a gigantesca obra Florescer ou nas milhares de Sementes de Girassol também esculpidas em porcelana. E no impacto mudo do imenso barco de refugiados esculpido em plástico negro em que navegam homens, mulheres e crianças sem rosto. Para ser vista e revista, a exposição fica na Oca até janeiro de 2019. Não vá perder... No feriado, uma rápida escapada até o reconfortante La Figueira, em Piracaia, para visitar nossos amigos Rodrigo et Thomas, respirar ar puro e, luxo dos luxos, ouvir o silêncio. Claro que entremeado de drinks, conversas, mergulhos, caminhadas, risadas, comidinhas e música. Rodrigo me apresentou a delícias musicais que eu ainda não conhecia como No Porn e Letrux. Auto-estima delirante. Maiô da Mulher Maravilha. A lantejoula apareceu de novo... De volta à Pauliceia, o não menos delirante Bohemian Rhapsody, filme que narra a trajetória de Freddie Mercury desde o surgimento do Queen até a participação no mega concerto Live Aid. Filme espetáculo, para ser assistido no cinemão clássico, com tela grande e dolby surround sound stereo... Agora sigo novembro adentro devorando o livro Mademoiselle Chanel e o Cheiro do Amor, da escritora alemã Michelle Marly. A história conta como a estilista Coco Chanel supera a perda de seu grande amor Boy Capel tornando realidade o projeto de ter a sua própria eau de toilette: O famoso perfume Chanel No 5. O livro, perfumado e de fácil leitura, é rico em detalhes descritivos da Paris da época e tem um agradável tom de folhetim que prende a atenção desde o primeiro capítulo. E, por falar em livros, eles andaram em alta na campanha presidencial. Até gente que eu sei que nem lê postou selfies com algum exemplar. Esse foi, a meu ver, um legado positivo das eleições. Eu, que sou leitor compulsivo, considero que a aproximação das pessoas com obras literárias, ainda que por razões controversas, sempre será positiva. De alguma forma, um livro sempre irá ajudar, acrescentar, engrandecer. Se por mais não for, pela simples leitura de suas orelhas ou contracapa... E vamos em frente pois, como disse Gilbero Gil em seu ótimo programa no Canal Brasil, o rio da História é caudaloso e não há abismo em que o Brasil caiba...
Nas fotos, as delicadas flores de Ai Weiwei, o cartaz de Bohemian Rhapsody e a capa do perfumado livro de Michelle Marly.
Nas fotos, as delicadas flores de Ai Weiwei, o cartaz de Bohemian Rhapsody e a capa do perfumado livro de Michelle Marly.
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