Ainda me sinto tocado pelo emocionante espetáculo BR Trans, a que assisti nesse fim de semana no Teatro Poeira. Resultado de uma pesquisa do universo de travestis, transexuais e transformistas, feita pelo artista Silvero Pereira, a peça fisga o espectador desde o momento em que ele entra no teatro. Digo artista porque acho que seria redutor chamar Silvero apenas de ator. Seu enorme talento e carisma são capazes de quebrar o gelo de qualquer coração endurecido e fazer relaxar o mais refratário dos moralistas. Assim que um deles coloque os olhos em seu vestido de melindrosa que marca com o balanço das franjas o ritmo da melodia suingada executada pelo pianista enquanto a plateia ocupa os seus lugares. Silvero dá vida a Gisele Almodóvar, espécie de alter-ego do ator, e essa nos conta a história de várias colegas e entrevistadas na sua pesquisa. Assim percorremos as alegrias, os sonhos, as desgraças, os dilemas e as angústias desses seres estigmatizados que tentam sobreviver à margem da sociedade. Eu, que adoro por identificação todos os excluídos, os desvalidos, os degredados filhos de Eva, “os ladrões e as amantes, meus colegas de copo e de cruz” (para citar Chico) fiquei completamente absorvido e emocionado. Silvero é cearense, mas realizou a pesquisa em Porto Alegre, onde entrou em contato com Jezebel de Carli, que veio a ser a diretora do espetáculo. Coincidentemente, Jezebel foi minha colega na faculdade de teatro. Já tinha ouvido falar bem desse espetáculo há muito tempo. Só agora consegui assistir. Ainda bem. E, por favor, não deixem de fazer o mesmo. Fiquei pensando em minha amiga Claudia Wonder, já falecida, e no quanto ela iria adorar se ver retratada nesse belo trabalho. Silvero arrebata ao interpretar ao vivo Três Travestis, de Caetano, e Geni e o Zepelin, de Chico Buarque. E a personagem Babi me levou às lágrimas dublando Maria Bethânia na belíssima Balada de Gisberta, que não conhecia e que agora não paro de escutar. Esse espetáculo é muitíssimo bem-vindo nesse momento de tanta violência, segregação, discriminação e preconceito contra homossexuais em geral, entre os quais travestis e transgêneros se incluem. Quem diria, em pleno século XXI. Seja pelo estado islâmico (minúsculas intencionais) ou pelos pastores que pregam a cura gay. Dá tudo na mesma: O retrocesso está no ar. Mas ainda assim, eles estão lá. Sonham e se desencantam. Ralam e se transformam. Traçam perfis na praça. E se a barra pesar, deixam o país e enchem Paris de graça... Afinal, a distância até o fundo é tão pequena, no fundo é tão pequena a queda. E o amor é tão longe...
Na foto, as franjas ritmadas do vestido de melindrosa de Gisele. #brtrans
domingo, 19 de junho de 2016
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Assisti a esse maravilhoso espetáculo na Oswald de Andrade. Também fiquei encantada. Nada como um relato emocional sobre observação racional! Obrigada pelo belo teixxxto
ResponderExcluirSenti e chorei o mesmo! Sensacional!
ResponderExcluirQuanta emoção! Robertinho, veja os vídeos que tem no you tube, tu vais amar. Silvero como Gisele dublando qualquer música é sensacional. Amo demais!
ResponderExcluirArlete, querida! Obrigado pela dica. Beijo.
ResponderExcluirAmado. Coisa linda! Obg pela generosidade.
ResponderExcluirEstou compartilhando. Bjs